Em depoimento, ex-diretor do FBI revela pressão de Trump por lealdade

Crédito: 3.mai.2017/Xinhua O ex-diretor do FBI, James Comey, testemunha no Senado no último dia 3
O ex-diretor do FBI, James Comey, testemunha no Senado no último dia 3

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
ISABEL FLECK
DE WASHINGTON

O presidente Donald Trump pressionou o então diretor do FBI, James Comey, a abandonar as investigações sobre as relações entre o ex-assessor de segurança Mike Flynn e autoridades russas, de acordo com o depoimento que Comey fará nesta quinta-feira (8) no Senado.

"Ele (Flynn) é um cara bom e passou por muita coisa. Espero que você esteja disposto a deixar isso passar, a deixar Flynn de lado", teria dito Trump em reunião com Comey no Salão Oval da Casa Branca, em 14 de fevereiro.

Trump também teria pedido que Comey fosse leal, segundo as sete páginas de depoimento que foram divulgadas na quarta-feira (7).

O ex-diretor do FBI irá depor em audiência sobre investigações da possível interferência da Rússia nas eleições presidenciais americanas de 2016. Comey, que liderava as investigações, foi demitido por Trump no dia 9 de maio.

O republicano nomeou nesta quarta o substituto, Christopher Wray. A justificativa oficial para a demissão de Comey foi sua conduta ao divulgar a investigação de e-mails da então candidata Hillary Clinton durante a campanha de 2016. Mas Trump admitiu que ia demiti-lo de qualquer jeito e disse em encontro com autoridades russas que o diretor do FBI era "um maluco".

Para seus críticos, Trump incorreu em obstrução da Justiça ao tentar interferir nas investigações e, posteriormente, demitir Comey.

Obstrução da Justiça é um crime que pode levar a impeachment. Mas tal possibilidade é remota, pois a abertura do processo de impedimento teria de ser aprovado pela Câmara e pelo Senado, ambos com maioria republicana.

De uma família de advogados, Wray, 50, liderou entre 2003 e 2005 a divisão criminal do Departamento de Justiça, quando foi responsável por grandes casos de fraude e corrupção, como os que levaram à condenação do ex-lobista Jack Abramoff e dos ex-deputados Randy Cunningham, republicano, e William J. Jefferson, democrata.

Nessa época, James Comey, o ex-diretor do FBI demitido por Trump em 9 de abril, era vice-secretário de Justiça. Robert Mueller, indicado como conselheiro especial para comandar as investigações sobre possíveis elos entre integrantes da equipe de campanha do presidente e a Rússia, era o diretor do FBI.

Apesar de considerado mais discreto que Mueller e Comey, Wray teria oferecido se juntar ao protesto dos dois, que ameaçaram, em 2004, renunciar se Bush mantivesse um programa que permitia grampos sem aval da Justiça.

Ele deixaria o Departamento de Justiça no ano seguinte. Desde então, está no escritório King & Spalding, do qual é sócio. Em 2014, Wray, formado em direito pela Universidade Yale, assumiu a defesa de Christie, governador de Nova Jersey, durante o escândalo do "Bridgegate".

Christie e sua equipe foram investigados por terem fechado faixas de trânsito numa importante ponte para criar um caos no trânsito como vingança a um prefeito opositor. Três assessores foram condenados por crimes federais, mas Christie foi absolvido.

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