Descrição de chapéu The New York Times

Secretário de Estado diverge de Trump e entra em choque com a Casa Branca

DAVID E. SANGER
GARDINER HARRIS
MARK LANDLER
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Quando Rex Tillerson, antigo presidente-executivo da Exxon Mobil, chegou a Washington cinco meses atrás para se tornar secretário de Estado, seus partidários diziam que ele trazia duas vantagens valiosas para um posto que em geral cabe a pessoas experientes em diplomacia e no serviço governamental: um longo histórico como comandante de uma empresa multinacional de grande porte e fortes relacionamentos, do Oriente Médio à Rússia, que o ajudariam a fechar acordos.

Mas sua primeira oportunidade de usar essa experiência –agindo nos bastidores como mediador da disputa entre Arábia Saudita e Qatar– colocou Tillerson exatamente na posição que nenhum secretário de Estado deseja ocupar: em oposição pública ao presidente que o indicou.

Tillerson tentou se posicionar como intermediário, e convencer as partes envolvidas a colocarem suas demandas na mesa. Mas o presidente Donald Trump se alinhou abertamente com os sauditas, primeiro no Twitter e depois em uma entrevista coletiva.

Trump chamou o Qatar de "financiador do terrorismo em nível muito elevado", no exato momento em que o Departamento de Estado questionava a possibilidade de que os sauditas estivessem usando a acusação quanto a terrorismo para encobrir "desentendimentos já antigos" entre os Estados árabes.

Algumas pessoas na Casa Branca dizem que a discórdia quanto à disputa sobre o Qatar é parte de uma disputa mais ampla para determinar quem está no controle da política quanto ao Oriente Médio –Tillerson ou Jared Kushner, genro e assessor do presidente–, e que o secretário de Estado não percebe bem as realidades políticas do governo Trump.

Outros dizem que o problema é simplesmente um sintoma das disfunções no Departamento de Estado, que, sob a liderança incerta de Tillerson, ainda não apontou todos os assessores de primeiro escalão necessários a manter em funcionamento as engrenagens da diplomacia.

Mas as críticas dos assessores de Trump não são o único problema de Tillerson. Nos últimos dias, cada uma de suas principais prioridades esbarrou em fortes obstáculos.

O esforço do secretário para convencer a China a forçar a Coreia do Norte a abrir mão de seus programas nucleares e de mísseis balísticos não deu resultado, como o presidente reconheceu na semana passada.

Os russos, zangados com uma decisão do Congresso norte-americano de impor novas sanções a Moscou, solicitaram a retirada de um dos principais diplomatas norte-americanos do país, o que deixa esse importante relacionamento em seu ponto mais baixo desde a guerra fria.

E no Congresso, onde Tillerson inicialmente encontrou boa vontade dos legisladores quanto ao seu plano para reorganizar e reduzir o Departamento de Estado, ele agora vem encontrando raiva e resistência.

O mais perto que Tillerson chegou de articular uma visão estratégica para seu departamento foi em uma reunião com subordinados no começo de maio.

Em uma conversa franca, e falando sem referência a notas, Tillerson listou as regiões do planeta em que o departamento é ativo –do Oriente Médio à Europa e Ásia, bem como China e Coreia do Norte, e pediu sugestões sobre como "promover nossos interesses no Afeganistão" e como impedir o avanço do terrorismo na África central e do norte.

"Vamos conversar primeiro sobre minha visão de como traduzir o conceito de 'América primeiro' em termos de política externa", ele disse, e prosseguiu descrevendo uma era na qual os interesses econômicos e de segurança dos Estados Unidos teriam precedência.

Para muita gente no departamento, o discurso de Tillerson foi notável pelo que não incluiu.

Nas cinco presidências anteriores, discussões sobre como usar a influência norte-americana para promover os direitos das minorias em todo mundo, para negociar novos acordos de controle de armas, e para estipular normas de comportamento para nações que se atacam por meio de armas cibernéticas haviam se tornado o foco da diplomacia norte-americana. Isso acabou.

Para muitos funcionários do Departamento de Estado, Tillerson é quase um fantasma, falando pouco nas reuniões e raramente saindo de seu escritório no sétimo andar –onde ele fica cercado por Peterlin e um pequeno grupo de assessores que se comportam de forma protetora– para lhes pedir opiniões.

Os assessores de Tillerson dizem que sua abordagem é tão refrescante quanto a nova decoração dos escritórios do sétimo andar, onde a arte e as cores do oeste dos Estados Unidos substituíram retratos de diplomatas mortos há muito tempo.

"Ele pensa como um caubói", disse recentemente R. C. Hammond, assessor estratégico de Tillerson. Comparando palavras a munição, Hammond acrescentou que "se você carrega um revólver de seis tiros, não quer desperdiçar balas".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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