E-mails de Trump Jr. dão ânimo à novela da interferência russa

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
DE NOVA YORK

A revelação de que Donald Trump Jr. encontrou-se no ano passado com uma advogada russa na expectativa de receber informações danosas sobre a então candidata democrata, Hillary Clinton, reanimou a novela das relações entre colaboradores do republicano e representantes do governo da Rússia durante a campanha presidencial.

A notícia é muito ruim para a Casa Branca. Mesmo que nada tenha sido entregue e que se considere parte do jogo eleitoral ouvir quem ofereça dados para desfavorecer o adversário, a divulgação do encontro corrói a credibilidade de Donald Trump e de seus auxiliares, que mantiveram o episódio oculto.

As relações da equipe presidencial com a Rússia são objeto de um inquérito do FBI e de apurações na Câmara e no Senado. O caso já provocou a demissão do conselheiro de Segurança, Michael Flynn, e deixou em situação complicada o secretário de Justiça, Jeff Sessions, depois que ambos foram flagrados mentindo sobre encontros com o embaixador russo nos EUA.

Posteriormente, a demissão de James Comey da direção do FBI trouxe à baila a possibilidade de Trump interferir nas investigações. Soube-se logo após o afastamento, em si polêmico, que o presidente sugerira ao ex-diretor que pegasse leve com Flynn.

Trump sempre defendeu-se afirmando que a acusação de conluio com os russos jamais havia sido demonstrada e que se tratava de um complô da "liberal media" (a imprensa de centro-esquerda) e de oponentes para desacreditar sua vitória.

Os e-mails de Trump Jr. e o encontro com a advogada russa, porém, deixaram o presidente e sua equipe muito próximos da versão de conluio —que se torna mais verossímil. Nesta terça (11), as comissões do Congresso já disputavam quem seria o primeiro a interrogar o filho de Trump.

Mesmo na mídia governista, houve quem (em meio a tentativas de defesa do tipo "Trump Jr. não violou a lei") manifestasse críticas. Chris Stirewalt, por exemplo, editor de política da Fox News, considerou que a decisão de manter a história em segredo enfraqueceu a relação de Trump com os próprios republicanos —e logo no momento em que o Senado tenta votar uma lei para substituir o Obamacare.

"Os republicanos, que são encarregados de defender e proteger o presidente, não podem fazer seu trabalho se não conhecem toda a verdade", disse. "A campanha de Trump deveria ter revelado isso há muito tempo, em vez de deixar que 52 senadores republicanos fossem ler a respeito no 'New York Times'."

O caso vai provocar uma nova onda de desgaste de Trump, que, como escreveu o jornal nova-iorquino, acumula em apenas seis meses de governo "um histórico de desonestidades —de distorções casuais a mentiras ilegais— sem precedentes na Presidência moderna" dos EUA.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.