Estado americano corre para enfrentar falta de maconha recém-legalizada

THOMAS FULLER
DO "NEW YORK TIMES"

A maconha está fluindo novamente em Nevada, no oeste dos Estados Unidos.

Um surto de demanda por cannabis, recém-legalizada no Estado, esvaziou as prateleiras e apanhou a indústria desprevenida, provocando a ação das autoridades estaduais.

O governador republicano de Nevada, Brian Sandoval, aprovou no final da semana passada medidas de emergência destinadas a aumentar o fluxo de maconha para as 47 revendas autorizadas do Estado, algumas das quais tiveram filas na porta desde que a erva passou a ser oferecida legalmente nos dispensários, em 1º de julho.

Na quarta (12) e quinta-feira (13), quando cresceram os temores de falta de maconha, os reguladores anunciaram que emitiriam as duas primeiras licenças de distribuição do produto.

Deonne Contine, diretora-executiva do DepartamentoTributário, disse em uma entrevista na quinta-feira que as encomendas emergenciais, que estavam sendo consideradas pela Comissão de Impostos do Estado, poderiam ajudar a expedir mais licenças.

"Temos um produto legal, temos empresas legais", disse ela. "Temos uma meta de favorecer esse mercado."

A agilidade das autoridades para implementar as novas políticas sobre maconha em Nevada salienta a dissonância e as contradições na lei e na política dos EUA em relação à erva.

O secretário da Justiça, Jeff Sessions, foi explícito em sua opinião de que a maconha é uma droga perigosa e deveria continuar oficialmente classificada com a heroína como uma substância sem valor medicinal.

Mas em Nevada o governador republicano está apoiando medidas de emergência para garantir que as prateleiras das lojas de cannabis fiquem bem abastecidas.

Cerca de dois terços dos Estados americanos permitem a venda de maconha medicinal, e um número menor, mas crescente, de Estados, como Nevada, Colorado, Massachusetts e Washington, permitem a cannabis recreativa para adultos. A venda de maconha recreativa na Califórnia começará no próximo ano.

O apoio do governador de Nevada a uma Declaração de Emergência, como é chamada a ação, foi implementado como forma de impedir que clientes voltassem ao mercado paralelo, disse a porta-voz do governador, Mari St. Martin.

"O governador tem pedido constantemente uma indústria de maconha recreativa respeitada, bem regulamentada e restrita", disse St. Martin.

A venda de maconha recreativa foi legalizada em voto durante a eleição presidencial de novembro passado.

Os gerentes de distribuidoras de maconha disseram que ficaram surpresos com o aumento da demanda. Os clientes inundaram os dispensários, que antes só atendiam pacientes com a aprovação de um médico, segundo as leis estaduais para maconha medicinal.

No dispensário NuLeaf em Las Vegas, que atrai os clientes com um gigantesco "homem de maconha", as vendas da erva aumentaram até 1.000% desde o último dia 1º.

"Surge uma tensão em todas as facetas das operações quando você multiplica seu negócio por dez", disse Eli Scislowicz. "Mas é um problema bom de se ter."

Os problemas na distribuição foram principalmente técnicos —leis estaduais mandavam que a maconha fosse distribuída somente por atacadistas de bebida alcoólica, e nenhum foi licenciado a tempo para a entrada em vigor da lei, deixando os dispensários apenas com os estoques existentes.

Vistos de modo mais amplo, os problemas na distribuição salientam a compartimentalização do mercado de cannabis nos EUA. A proibição federal impede o comércio de maconha entre Estados.

A Califórnia, onde as condições de cultivo são ideais em muitas áreas, produz muito mais cannabis do que consome. Por causa da proibição federal, o vizinho Nevada, onde fica Las Vegas, não podia legalmente aproveitar o excedente de cannabis da Califórnia caso a escassez persistisse.

Toda a maconha vendida em Nevada deve ser plantada no Estado. Este implementou um rígido esquema de rotulagem que exige informação minuciosa para cada lote de maconha, incluindo quem a plantou e um detalhamento químico dos componentes psicoativos.

A lei de Nevada também prevê um imposto sobre a cannabis que representa cerca de um terço do preço no varejo. Parte da receita fiscal é destinada ao orçamento de educação do Estado.

"Eles vão ganhar muito com nossos impostos das últimas duas semanas", disse Scislowicz. "Já os vejo pegando um bom naco do dinheiro."

Tradução de LUIZ ROBERTO M. GONÇALVES

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