EUA acusam Maduro de romper Constituição e anunciam sanções
Os EUA declararam nesta segunda (31) que a Venezuela é uma ditadura e aplicaram sanções contra o presidente Nicolás Maduro, a quem acusam de romper a ordem constitucional, um dia depois de o país caribenho eleger uma Assembleia Constituinte.
Ao anunciar as medidas, com as quais cumpre a ameaça de punir o governo chavista, o secretário do Tesouro de Donald Trump, Steve Mnuchin, disse que a votação "confirma que Maduro é um ditador que despreza a vontade da população".
Ronaldo Schemidt/AFP | ||
Nicolás Maduro celebra os resultados da Assembleia Constituinte, em Caracas |
"A Assembleia Nacional Constituinte aspira usurpar de forma ilegítima o papel da Assembleia Nacional democraticamente eleita, reescrever a Constituição e impor um regime autoritário", afirmou.
O secretário disse que as sanções mostram que o governo Trump "não ficará parado enquanto a Venezuela continua a desmoronar sob os abusos do regime" e ameaçou ampliar as medidas aos membros da Assembleia Constituinte que assumirem.
Até o momento, porém, nenhum resultado havia sido divulgado, exceto o índice de participação, 41,5% (leia texto abaixo). A expectativa é que eles assumam 72 horas após terem seus nomes anunciados.
Em discurso à noite, Maduro disse se orgulhar de ser punido pelos americanos. "São a expressão de sua impotência, seu desespero, seu ódio, expressam o caráter de magnata do imperador Trump."
O pacote de sanções a Maduro é o quarto anunciado pela Casa Branca neste ano. Na quarta (26), 13 pessoas foram punidas pelo papel na convocação da Constituinte e pela repressão a protestos.
Dentre eles, estão a presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena, o ministro do Interior, Néstor Reverol, os comandantes da polícia e das Forças Armadas e executivos da petroleira estatal PDVSA.
Em maio, fora a vez de oito integrantes do Tribunal Supremo de Justiça que anularam os poderes da Assembleia, e antes, do vice-presidente Tareck El Aissami, suspeito de ligação com o tráfico.
Além dos EUA e a Espanha, oito países das Américas anunciaram que não reconhecerão a Assembleia Constituinte —Argentina, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, México, Panamá e Peru. Também rejeitou a Casa o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro.
O Itamaraty declarou que a eleição "viola o direito ao sufrágio universal, desrespeita o princípio da soberania popular e confirma a ruptura da ordem constitucional".
"Empossada, a Assembleia Constituinte formaria uma ordem constitucional paralela, não reconhecida pela população, agravando ainda mais o impasse institucional que paralisa a Venezuela."
Aliados parabenizaram Maduro. "A vocação democrática do povo garante a união e a soberania da Venezuela, provando que o povo pode mais que as balas", disse o presidente da Bolívia, Evo Morales.
O regime cubano afirmou que o chavista é alvo de uma operação dirigida pelos EUA "para não reconhecer a vontade do povo venezuelano".
AMEAÇAS
No discurso em que criticou Trump, Maduro defendeu o fim da imunidade dos atuais deputados para que sejam julgados. "Acabou a sabotagem da Assembleia Nacional, temos que por ordem", afirmou.
Ele desafiou os rivais a participarem das eleições que prevê para o fim do ano, mas desde que se submetam a uma "comissão da verdade" dos chavistas para julgar a violência política desde 1999.
Também reiterou sua ameaça à procuradora-geral, a chavista dissidente Luisa Ortega Díaz. "Vamos reestruturar a Procuradoria de imediato, declará-la em emergência e tomar o controle dela."
Por fim, disse estar "em combate midiático" contra as TVs privadas que transmitiram as manifestações opositoras e não priorizaram a cobertura da eleição da Constituinte.
"Pedi uma investigação porque fizeram apologia ao delito hoje, negando ao povo o direito à informação."
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