Petróleo venezuelano cria dilema para Trump e mantém EUA atados
Andres Martinez Casares - 25.jul.2017/Reuters | ||
Veículos abastecem em posto de combustível da petroleira estatal PDVSA em Caracas |
Mais impopular para o presidente Donald Trump do que não punir a ditadura de Nicolás Maduro da forma mais dura possível seria deixar que o preço da gasolina disparasse nos Estados Unidos.
Esse é um dos principais motivos pelos quais o americano ainda não avançou com as sanções sobre o setor de petróleo da Venezuela. Os impactos não seriam apenas para a já castigada população do país, cujo petróleo representa 95% de todas as suas exportações.
Os EUA importam 777 mil barris de petróleo por dia da Venezuela, que é o terceiro maior exportador para o país (7,5% do total importado), atrás apenas do Canadá e da Arábia Saudita.
Marco Bello - 12.jan.2017/Reuters | ||
Posto de combustível da PDVSA, estatal de petróleo da Venezuela, em Caracas |
O impacto de bloquear o petróleo venezuelano seria sentido na bomba de combustível. Um cálculo feito pela consultoria PKVerleger LLC estima um aumento de US$ 0,25 a US$ 0,30 por galão (3,79 litros) em duas semanas, se os EUA suspendessem a importação da Venezuela.
Hoje, o preço médio do galão de gasolina no país é US$ 2,35 (o equivalente a cerca de R$ 1,94 por litro).
"O impacto poderia ser significativo, com aumento do preço da gasolina, falta de estoque de petróleo bruto para as refinarias nos EUA e uma potencial perda de empregos", afirma David Mortlock, ex-diretor de Assuntos Econômicos Internacionais do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
Só a Citgo, subsidiária da petroleira venezuelana PDVSA nos EUA, que importa cerca de 200 mil barris por dia da Venezuela, tem três refinarias no país (Texas, Louisiana e Illinois), 48 terminais de abastecimento e 6.000 postos pelos EUA, onde trabalham 46 mil pessoas.
Mortlock, que assessorou o então presidente Barack Obama sobre sanções contra Rússia, Irã, Cuba e Síria, está preparando, com o especialista em energia na América Latina Francisco Monaldi, da Universidade Rice, um levantamento para o "think tank" Atlantic Council sobre as possibilidades que o governo Trump tem agora.
Importação de petróleo bruto ou produtos de petróleo da Venezuela - Em milhares de barris
Para Mortlock, ainda não é hora de o presidente suspender as exportações da Venezuela. "A meta é mostrar a Maduro e seus apoiadores que os custos serão maiores à medida que eles tomarem passos se distanciando da democracia", diz. "Se ele for direto para esse tipo de sanção, não terá muito mais o que fazer."
Na lista de ações graduais para pressionar o regime venezuelano, estão aplicar sanções às instituições e às empresas ligadas às autoridades do alto escalão do governo da Venezuela que já são alvo de restrições e proibir qualquer instituição financeira dos EUA de dar novos créditos à PDVSA, o que pressionaria mais a liquidez da petroleira.
Uma última opção antes de suspender as importações da Venezuela seria parar de exportar os 100 mil barris de petróleo leve americano diários que a Venezuela mistura com o petróleo bruto que produz antes de vendê-lo.
"Acho até que os venezuelanos vão ser capazes de substituir [o petróleo leve americano], mas as margens de lucro vão ser menores", diz Monaldi, destacando que a melhor opção para Caracas, neste caso, é bater à porta da Rússia, que já negocia esse tipo de combustível com o país. "A questão é quanto os russos estarão dispostos a colaborar."
A opção parece mais adequada para os EUA, por não afetar diretamente o seu mercado interno, mas ter impacto na capacidade da Venezuela de produzir gasolina.
O caso mais extremo, a suspensão das importações da Venezuela, teria efeito "devastador" segundo Alejandro Grisanti, diretor da consultoria Ecoanalitica. "A posição dos EUA é que as sanções ponham pressão sobre o governo e ao mesmo tempo não causem mais dor à população venezuelana, que já enfrenta uma forte crise."
Grisanti diz que, nos EUA, os impactos poderiam ser mitigados usando reservas de petróleo bruto do país -que, segundo seus cálculos, poderiam abastecer por mais de quatro meses as refinarias hoje importadoras da Venezuela.
Outra alternativa é que os EUA comprem mais de países como Canadá e Colômbia. "A logística é que pode se tornar complicada", pondera Mortlock. "Levar o petróleo do Canadá para as refinarias do golfo do México pode se tornar um desafio, mas tenho certeza de que o governo está discutindo esses planos de contingência."
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