Avião que foi feito para empresa da Rússia será o novo Air Force One

IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO

A Rússia parece definitivamente interligada à gestão do presidente americano, Donald Trump.

Desta vez, contudo, não são más notícias ligadas à apuração sobre a relação do presidente com o Kremlin : a Força Aérea dos EUA irá fazer uma boa economia na compra dos novos aviões presidenciais, já que serão fornecidos modelos que eram destinados a uma empresa russa que faliu.

Na sexta (4), foi assinado contrato para o fornecimento de dois Boeing 747-8I modificados para a versão VC-25, mais conhecida pelo código Air Force One.

Embora qualquer aeronave carregando o presidente receba essa denominação, a fama ficou com o Jumbo.

O titular e o reserva serão amplamente alterados para atender aos requisitos de segurança para transportar o homem mais poderoso do mundo, como sistemas antimísseis, escudos contra pulsos eletromagnéticos decorrentes de explosões nucleares e centro de comunicações capaz de comandar o país em guerra a bordo.

Depois de eleito, Trump escreveu numa rede social que iria cancelar o programa de compra da Boeing porque ele já teria ultrapassado US$ 4 bilhões (R$ 12,6 bilhões) em custo.

Era, para variar, "fake news": os gastos estimados pela empresa de 2016 a 2020 no programa eram de US$ 2,87 bilhões (R$ 9,04 bilhões).Ou seja, o valor citado não fazia sentido, embora o custo final do contrato permaneça um segredo.

A pressão, contudo, deu certo. A Boeing e a Força Aérea redesenharam o contrato assinado dois anos atrás, e ficou acertado que os aviões a serem usados serão duas unidades prontas e não entregues para a empresa aérea russa Transaero.

Os aviões haviam sido encomendados em 2015, mas a Transaero faliu antes do fim daquele ano.

A empresa estava afundada em dívidas. Tinha uma história notória: havia sido a primeira linha aérea privada aberta nos estertores da União Soviética.

Ela tinha um histórico invejável de segurança, em especial considerando a média russa da primeira década depois do comunismo: nunca registrou um acidente fatal entre 1990 e 2015.

Não se sabe qual foi o desconto dado, mas o preço de prateleira de um 747-8I comercial novo é de US$ 386,8 milhões (R$ 1,22 bilhão). Naturalmente, isso não é aplicável quando se considera o extenso pacote de modificações para o Air Force One, mas ajuda a especular sobre a extensão possível da negociação.

O modelo 747-8I é o mais recente da família do famoso Jumbo, e provavelmente o último, dada a queda na demanda de aviões quadrimotores de alto custo de operação. A rival europeia Airbus e seu modelo A380, o maior avião de passageiros do mundo, enfrentam igual desafio.

Hoje a frota presidencial tem dois 747-200 modificados, sendo que o titular voa com presidentes desde 1990.

Por fim, antes que alguém insinue que os novos aviões virão com grampos russos de série, fica um esclarecimento: eles ficaram o tempo todo estocados e protegidos em hangares na Califórnia, segundo informou a Boeing.

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