Cidade onde morava atropelador de protesto evita falar sobre episódio

GIOVANA SANCHEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MAUMEE (EUA)

Os arredores da pequena Maumee, no norte de Ohio, são parte do cenário típico da região rural americana: terrenos com extensas plantações, casas isoladas e eventuais placas de apoio ao presidente Donald Trump.

Com 13,8 mil habitantes, Maumee tem sido apontada por jornais locais como a residência de James Fields Jr., que acelerou um carro na direção de uma multidão que protestava contra supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia, no último sábado (12), matando uma mulher e deixando feridos.

"É uma vergonha isso acontecer", disse Steve Russell, faxineiro do estacionamento da mercearia que fica a poucas quadras do condomínio. "Esses supremacistas estão se sentindo empoderados agora com Trump como presidente, mas não conheço nenhum partidário dele por aqui. Só os ricos apoiam Trump. Os ricos brancos, claro", disse ele.

A mesma resistência em se relacionar com a figura de Fields foi sentida na cafeteria da rede Starbucks onde ele trabalhava. Depois de obter uma constrangida confirmação de uma funcionária de que ele era funcionário, a reportagem foi "convidada a se retirar" do estabelecimento após tentar falar com o gerente e com clientes sobre o caso.

"Ah, então é daí que eu o conhecia!", disse o aposentado Guadalupe Barboza, 62, frequentador do café. Segundo ele, ser uma minoria em um Estado majoritariamente branco (segundo o censo dos EUA, 82,5% dos habitantes de Ohio são brancos) é, muitas vezes, "assustador". "Tem muitas pessoas que me olham feio porque eu sou de origem mexicana", disse.

Ohio é um dos chamados "swing states", Estados decisivos na eleição presidencial por não terem uma maioria democrata ou republicana definida. Depois de ter eleito Obama nos dois últimos mandatos, o Estado elegeu Trump por 52,1% no ano passado. No entanto, o condado de Lucas, onde Maumee está localizada, foi um dos únicos a votar majoritariamente em Hillary (56%).

Um vizinho da casa onde mora a mãe de Fields, no entanto, não pareceu envergonhado em dizer que acha Trump um bom presidente, embora não um bom político.

"Ele precisa aprender a lidar com todo tipo de pessoa, fazer o jogo político. Deveria ter condenado o que aconteceu. Desse jeito, compra briga com muita gente", disse o aposentado Don, que não quis dar o nome completo.

"A visão política aqui no Estado é bem diversa. Minha filha, por exemplo, é completamente anti-Trump. Não posso nem falar sobre isso com ela."

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