Ex-senador boliviano asilado no Brasil morre após acidente de avião
Sergio Lima/Folhapress | ||
O ex-senador boliviano Roger Pinto Molina, no centro de Brasília, cidade em que passou a morar |
O ex-senador boliviano Roger Pinto Molina, 58, que recebeu asilo no Brasil após alegar perseguição do governo de Evo Morales, morreu na madrugada desta quarta-feira (16) em Brasília. Ele estava em estado grave no Hospital de Base desde sábado (12), após sofrer um acidente de avião em Goiás.
Segundo a Secretaria de Saúde, Molina teve uma parada cardiorrespiratória e morreu às 4h43. Por se tratar de um acidente aéreo, o corpo foi encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal).
O ex-senador pilotava o próprio avião, de pequeno porte, quando caiu em Luziânia (GO). De acordo com o Corpo de Bombeiros de Goiás, a queda aconteceu após a decolagem no aeroclube da cidade, no entorno de Brasília.
Único ocupante da aeronave, Molina ficou preso nas ferragens. Após ser estabilizado pelos bombeiros, ele foi levado para a UTI do Hospital de Base.
Corpo de Bombeiros de Goiás | ||
Destroços do avião pilotado pelo ex-senador boliviano Roger Pinto Molina, que caiu em Luziânia (GO) |
ASILO
Molina pediu asilo ao Brasil em maio de 2012, afirmando ser alvo de perseguição política do governo Evo Morales, que o acusava de vender terras em Pando, departamento que governava, e de ser o mandante de uma ação em que 20 índios foram mortos.
O pedido foi aceito, mas a Bolívia não deu o salvo-conduto para que ele saísse do país. Ele ficou 454 dias em uma pequena sala de representação na embaixada brasileira em La Paz, até fugir em agosto de 2013 para o Brasil com a ajuda de Eduardo Saboia, encarregado de negócios, que o levou de carro até Corumbá, em uma viagem que durou mais de 22 horas.
De lá, o boliviano partiu para Brasília, onde morava. A operação provocou uma crise diplomática entre Evo Morales e a então presidente Dilma Rousseff, que terminou com uma suspensão a Saboia no Itamaraty.
Em 2013, Molina afirmou que voltar à Bolívia seria "sentença de morte".
"Retornar à Bolívia é pouco menos que um suicídio para mim. Se você escuta Morales, como ele fala, o pouco respeito que tem pelas pessoas, tenha a plena segurança de que voltar à Bolívia [para mim] é uma sentença de morte", disse Molina à época.
O ex-senador também foi citado na época do acidente com o avião que levava o time da Chapecoense a Medellín, na Colômbia, que deixou 71 mortos. Ele era sogro de Miguel Quiroga, piloto e dono da empresa LaMia.
Nos últimos anos, Molina tentava se reerguer financeiramente e revalidou sua habilitação para pilotar no Brasil, relata seu advogado, Fernando Tibúrcio. "Ele estava começando a fazer alguns voos privados", afirma. No sábado (12), estava em uma aeronave que usava para treinamento.
Segundo Tibúrcio, o desejo do ex-senador era passar os últimos dias de vida na Bolívia. A possibilidade de tentar levar o corpo ao país chegou a ser discutida junto à família de Molina, mas acabou descartada devido a possíveis "dificuldades políticas" neste processo, relata.
Agora, de acordo com o advogado, o corpo do Molina será cremado. As cinzas devem ser jogadas em um lago na região de Cobija, que fica em Pando, na Bolívia.
ITAMARATY
Em nota, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, se disse consternado com a morte de Molina.
"Morre hoje longe de sua terra, mas rodeado pelo respeito e pela estima que sua trajetória política e humana lhe garantiram", disse.
A nota chama Molina de "concliliador" e diz que ele denunciava no senado boliviano o crescimento da influência do narcotráfico.
"De caráter generoso e afável, ajudava outros refugiados e recebeu apoio e amizade de muitos políticos brasileiros, de diversas colorações ideológicas."
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