Por serem declarações definitivas, estátuas confederadas devem cair

PHILIP KENNICOTT
DO "WASHINGTON POST"

O presidente Donald Trump, alguém que desrespeita normas, protocolos e praticamente todo o resto, se revela firmemente anti-iconoclasta em matéria de estátuas de generais dos Confederados.

"Então esta semana é Robert E. Lee", ele disse na terça-feira (15) em uma entrevista à imprensa que foi combativa e em alguns momentos assustadora. "Notei que Stonewall Jackson está caindo. Será a vez de George Washington na semana que vem? E de Thomas Jefferson na semana seguinte? Você realmente precisa se perguntar –onde isso vai parar?"

Deixemos de lado a confusão feita entre homens como Washington e Jefferson –que de fato possuíam escravos, mas também foram os fundadores de uma união imperfeita– e um homem como Robert E. Lee, que traiu seu próprio país para preservar os males da escravidão.

A confusão mais sombria e muito mais perigosa feita nesta série de perguntas retóricas é a tentativa de ligar o medo de uma espiral descendente –"onde isso vai parar?"– às ideologias repulsivas do supremacismo branco, nazismo e Ku Klux Klan.

Se tivéssemos optado decisivamente pelos memoriais vivos, talvez não nos encontrássemos na situação em que estamos agora, com milhares de memoriais espalhados pelo país, muitas vezes em comunidades que sentem que é seu direito determinar o significado e importância do objeto, incluindo comunidades diversificadas que rejeitam a presença de relíquias racistas e enclaves preconceituosos que querem preservá-los.

Ainda haveria uma discussão sobre a troca de nome do Parque Lee para Parque da Emancipação, mas não haveria um ponto focal em torno do qual as pessoas poderiam se reunir, como uma estátua –um objeto familiar e dotado de conotações sentimentais– e não haveria discussões sérias sobre preservação e valor estético.

Existe um argumento razoável, não racista –mas cada vez mais difícil de defender– em favor da manutenção de algumas das estátuas dedicadas a pessoas cuja contribuição histórica hoje é entendida claramente como tendo sido repulsiva. Fica mais fácil entender isso através de um diálogo, possivelmente com uma criança:

P: Quem é o homem em cima do cavalo?
R: Ele foi um homem que fez algumas coisas terríveis.

P: Então por que há uma estátua dele?
R: Porque as pessoas precisam lembrar que antigamente construíamos estátuas em homenagem a homens que defendiam a escravatura e que o fizemos para conservar o poder sobre as pessoas que eram escravizadas no passado.

A pouca sustentação que ainda restava para esse argumento morreu em Charlottesville, na Virginia, no sábado (12).

Conservar símbolos odiados para servirem de lição e aviso para as gerações futuras seria plausível se nós, como sociedade, tivéssemos deixado totalmente para trás as coisas como o mito da Causa Perdida da Confederação.

O fato de o presidente dos Estados Unidos ter abraçado grupos que defendem essa ideia, e sua sugestão risível de que há muitas pessoas de bem dispostas a marchar entre as suásticas e as bandeiras Confederadas simplesmente para preservar a estátua de Robert Lee, comprova que ainda não chegamos a esse ponto e provavelmente nunca chegaremos.

Seria de se imaginar que pudéssemos desfazer o nó da história e do ódio, para que algumas dessas estátuas persistissem como as estátuas dos imperadores e reis perversos, perdulários ou mais psicóticos que são preservadas na Europa unicamente como objetos históricos e estéticos. Mas nosso próprio presidente está se esforçando para manter a história e o ódio totalmente emaranhados, e é provável que seu exemplo vergonhoso inspire um ressurgimento do pior preconceito e intolerância na América.

Nunca existiu na América uma fórmula fácil para equilibrar as declarações honoríficas, estéticas e históricas feitas por nossos monumentos. Nunca houve uma resposta fácil à pergunta "quão imperfeito é imperfeito demais quando se trata de colocar homens sobre um pedestal?". O presidente garantiu que dificilmente encontremos as respostas no futuro próximo. Essas estátuas, placas e todos os memoriais vivos ao Sul derrotado precisam acabar, e não há um minuto a perder.

Tradução de CLARA ALLAIN

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