Oposição a Putin consegue vitória importante em eleição em Moscou
Sergei Karpukhin /Reuters | ||
O presidente russo, Vladimir Putin, durante abertura de show aéreo perto de Moscou, em julho |
A oposição ao governo de Vladimir Putin obteve um sucesso surpreendente, ainda que simbólico, nas eleições locais realizadas neste domingo (10) em 82 das 85 regiões russas.
A vitória ocorreu nos distritos centrais, os mais ricos e influentes, de Moscou. A coalizão de partidos liberais chamada Democratas Unidos ganhou a maioria dos assentos em pelo menos dez deles, incluindo aquele em que Putin votou, o Gagarinski.
Essa é a eleição para o equivalente a vereadores no Brasil, com pouca importância em termos de poder real. Em Moscou, a aliança entre o partido Iabloko e o Parnas deverá ficar com cerca de 200 dos 1.500 assentos em disputa -saindo de um patamar de quase zero representantes.
O que interessa é a sinalização de repúdio ao Kremlin a poucos meses da eleição de março do ano que vem, que escolherá não só o sucessor de Putin como cargos como o de prefeito de Moscou, que tem status de governador.
Os conselheiros locais são também necessários para embasar a campanha a prefeito -candidatos só podem se registrar se tiverem o apoio de 10% dos conselheiros nos 146 distritos da cidade.
Não que seja possível antever uma derrota de Putin, longe disso. Sua sigla, o Rússia Unida, deve amealhar 75% dos cargos em Moscou e dominou o pleito país afora, incluindo elegendo 16 governadores em regiões em que houve esse tipo de eleição.
Apesar do descontentamento com a economia, afetada pelos baixos preços do petróleo e por sanções ocidentais, Putin ainda surfa popularidade acima dos 80%.
Mas a Rússia é um país altamente centralizado, e é usual ver ondas surgirem primeiro em Moscou. O fato de ter havido dois megaprotestos simultâneos em dezenas de cidades neste ano já havia alertado o Kremlin da insatisfação latente, em especial do eleitorado mais jovem.
Nessa eleição em Moscou, ele foi capturado por um plano engenhoso para lançar candidatos.
Apelidado de "Uber político", em referência ao aplicativo de transporte, o sistema facilitou o registro de candidaturas por procuração. O Iabloko centralizou o lançamento de nomes, ultrapassando barreiras burocráticas. Resultou numa série de candidatos na casa dos 20 anos.
A medida foi implementada pelo marqueteiro Vitali Shkliarov, que trabalhou para o presidenciável democrata Bernie Sanders no ano passado nos EUA. Ele foi trazido por um ex-deputado ligado ao Iabloko, Dmitri Gudkov, cuja família era aliada de Putin até meados dos anos 2000.
O Iabloko é um tradicional partido liberal, tendo surgido em 1993, após o fim da União Soviética. Liderado por Grigori Iavlinski, ele tem a primeira mulher presidente de uma agremiação do tipo no país, Emilia Slabunova.
Em junho, ela havia dito à Folha que temia baixa adesão do eleitorado, já que este é um período de feriado em Moscou. De fato, apenas 15% do eleitorado compareceu, contra a adesão média de 30% nesse tipo de pleito. Mas o resultado, ao fim, foi bom para o partido.
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