Eleições na Venezuela não foram nem livres nem justas, dizem EUA
O Departamento de Estado dos EUA condenou nesta segunda (16) "a falta de eleições livres e justas" na Venezuela e informou que continuará a pressionar o regime de Nicolás Maduro "enquanto for uma ditadura autoritária".
A declaração é uma referência ao pleito para governador do último domingo (15), no qual o chavismo foi declarado vencedor em 17 dos 23 Estados. A oposição acusa o ditador de fraude —pesquisas apontavam vitória de seus detratores na maioria deles.
Francisco Bruzco - 15.out.2017/Xinhua | ||
Eleitores esperam em fila do lado de fora de seção eleitoral no município de Sucre, na região de Caracas |
Em nota, a porta-voz da diplomacia americana, Heather Nauert, elogiou a "coragem, determinação e vontade" dos venezuelanos de irem às urnas, mas disse que "a voz do povo venezuelano não foi ouvida" na eleição.
Nauert ainda criticou a falta de observadores internacionais independentes, de uma auditoria do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), as mudanças de seções eleitorais e a falta de urnas eletrônicas em redutos opositores.
"Enquanto o regime de Maduro continuar sendo uma ditadura autoritária, nós vamos trabalhar com os membros da comunidade internacional e usar todo o peso econômico e diplomático americano para apoiar o povo venezuelano a recuperar sua democracia."
Horas antes, a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, havia pedido uma auditoria independente da eleição. O governo Trump, porém, não deu sinais de que poderá ampliar as sanções econômicas e políticas à Venezuela.
Já a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, solicitou ao regime chavista esclarecimentos sobre os resultados eleitorais. "São surpreendentes, temos que averiguar o que aconteceu de verdade", disse.
Sobre sanções ao país caribenho, o chanceler espanhol, Alfonso Dastis, declarou que a eleição "não afeta a linha de ação" da UE —os membros do bloco ainda estudam punições contra integrantes do regime venezuelano.
Em resposta, o ministro das Relações Exteriores venezuelano, Jorge Arreaza, acusou a UE e os EUA prepararem manobras "para questionar a vontade do povo" e "atacar a nossa democracia" e os ironizou.
"Esses países queriam ter uma democracia real, onde seus povos possam optar livremente entre projetos realmente díspares e ter um sistema eleitoral como o venezuelano, absolutamente auditável em todos os processos."
O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro, disse na Venezuela "não existem garantias para o exercício efetivo da democracia" e que os países da região precisam tomar ações mais contundentes contra Maduro.
"É muito claro que qualquer força política que aceita ir a uma eleição sem garantia se torna instrumento essencial à eventual fraudes, e mostra que não têm reflexos diplomáticos para proteger os direitos das pessoas", disse.
"Para conseguir uma recomposição democrática no país, os dirigentes da oposição deverão se unir às pessoas e aos poucos líderes que, em consonância com seus princípios, entenderam que os cidadãos venezuelanos querem liberdade e não estão dispostos a seguir as regras da ditadura."
Na América Latina, o Panamá anunciou que só tomará uma posição sobre o pleito após conversa com chavistas e opositores. O Brasil e outros países latinos com governos críticos a Maduro não se manifestaram até o momento.
Entre os aliados, o presidente da Bolívia, Evo Morales, parabenizou o chavismo. "A paz ganhou da violência, o povo ganhou do império. Perdeu [o secretário-geral da OEA] Luis Almagro e seu chefe [Donald] Trump."
Para o ditador cubano, Raúl Castro, a Venezuela deu uma outra grande lição de paz, vocação democrática, coragem e dignidade. "O legado de Chávez está vivo. Ele e Fidel [Castro, seu irmão] estariam muito orgulhosos."
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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