O assunto Santiago Maldonado dominou o ambiente eleitoral neste domingo (22), na Argentina.
Desde o dia anterior, quandoanálises de DNA do corpo encontrado no rio Chubut concluíram tratar-se do artesão desaparecido durante repressão da Gendarmeria a uma manifestação de indígenas mapuche, da qual ele participava, o tema levantou os ânimos de ambos os lados.
Do lado do governo e de seus apoiadores, houve declarações que colocaram em dúvida os relatos das testemunhas que viram Maldonado ser levado pelos gendarmes e levantaram a hipótese de que ele apenas tivesse caído no rio ao correr dos oficiais e se afogado sozinho –uma vez que a autópsia afirma que ele não foi golpeado nem levou nenhum tiro.
"Muitos depoimentos caem por terra com o resultado dessa autópsia", disse o ministro da Justiça, Germán Garavano, na noite de sábado (21).
O comentário que gerou mais polêmica foi o da jornalista Silvia Mercado, do site Infobae, parcialmente alinhado ao governo: "uma enorme pena que ele tenha morrido. Enorme. Mas podia não ter ocorrido se ele não estivesse bloqueando estradas no protesto, que é um delito federal".
Opositores saíram a protestar: "um delito federal se pune com a morte?" ou "por que não mataram os ruralistas que bloquearam estradas em protesto a Cristina Kirchner, em 2008?", eram alguns comentários nas redes que responderam a Mercado.
"Como uma jornalista, uma formadora de opinião, pode dizer algo assim tão grave num momento tão sensível?", declarou o ex-candidato a presidente da Frente de Esquerda, Nicolás Del Caño.
Líderes de organizações de direitos humanos também se manifestaram, como a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto. "Eu vivi o que essa família está vivendo e espero que a verdade surja rápido. Quando um caso assim não é esclarecido logo, criam-se teorias, aumenta a polarização. Não acredito que, tantos anos depois, tenhamos que seguir pedindo 'Nunca Mais' para que não ocorra mais violência política na Argentina."
Já a ministra de Segurança, Patricia Bullrich, a quem a Gendarmeria responde diretamente, foi recebida em seu centro de votação por manifestantes usando máscaras com o rosto de Maldonado. Ela não quis dar declarações.
GOVERNO
O chefe de gabinete de Macri, Marcos Peña, em entrevista a jornalistas, disse que o governo está "compromissado com a busca pela verdade". E pediu que a sociedade tenha calma e que "deixem trabalhar o juiz, a Promotoria, os responsáveis pela investigação. Estamos mais perto da verdade do que estávamos há uma semana e quanto menos espaço dermos à especulação política, melhor será."
Peña não quis responder a declarações da família, que num comunicado emitido na sexta-feira (20), disse que a Gendarmeria era responsável pela morte de Maldonado.
A acusação é delicada e pode desgastar a imagem do governo, uma vez que se trata de uma força ligada à Secretaria de Segurança, que responde diretamente ao Executivo.
"Nós não vamos polemizar com a família agora. Não é algo que vá colaborar para que esclareçamos rapidamente o caso", afirmou.
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