Presidente do Quênia se reelege em votação repetida com boicote opositor

JOHN AGLIONBY
DO "FINANCIAL TIMES" EM KISIMU (QUÊNIA)

Uhuru Kenyatta conquistou um segundo mandato como presidente do Quênia depois de ser declarado vencedor de uma eleição repetida que foi boicotada pelo seu principal oponente.

Kenyatta conquistou mais de 98% dos votos na eleição realizada quinta-feira (26), anunciou ontem a comissão eleitoral do Quênia, ainda que o comparecimento às urnas tenha sido baixo e que em duas dúzias de distritos eleitorais a votação não tenha sido realizada por conta de protestos de partidários do líder oposicionista Raila Odinga.

É provável que o fato de que a votação não tenha sido realizada em 25 dos 290 distritos eleitorais quenianos reduza ainda mais a credibilidade de um processo já maculado por divisões na comissão eleitoral, confusão sobre o número real de eleitores que foram às urnas, intimidação de juízes da Suprema Corte e o boicote de Odinga.

A eleição teve de ser repetida depois que a Corte anulou o resultado da eleição de agosto , da qual Kenyatta foi declarada vencedor apesar das acusações de Odinga quanto a fraudes generalizadas. Os juízes mencionaram "ilegalidades" e "irregularidades" na contagem dos votos.

Em seu discurso de vitória no domingo (29), Kenyatta agradeceu seus eleitores por "validarem minha vitória" de agosto, e apelou pela paz. Ele criticou Odinga por recorrer à Justiça quanto ao resultado da votação original e por não participar da eleição de quinta-feira.

"Não se pode aceitar a oportunidade de exercer um direito e depois tentar fugir às consequências dessa escolha", disse Kenyatta.

Odinga mesmo assim ficou em segundo lugar na votação, com 0,96% dos votos, a despeito de ter instado seus eleitores a boicotarem o pleito. Havia cinco outros candidatos. Apenas 38,8% dos eleitores foram às urnas, ante 79,5% em agosto, de acordo com a Comissão Eleitoral e de Fronteiras Independente.

Wafula Chebukati, o presidente da comissão, disse que "estou satisfeito por termos podido... realizar aquilo que, para nós, todos os quenianos e todos os observadores estrangeiros, foi uma eleição livre, justa e confiável".

Isso representa uma mudança pronunciada de opinião ante a declaração de Chebukati uma semana antes da segunda votação, quando ele disse que a interferência política com o trabalho da comissão era tão forte que não havia como garantir que o processo fosse suficientemente confiável.

A comissão eleitoral também afirmou ontem que não haveria votação nas áreas que ela teve de abandonar na quinta-feira, afirmando que as condições "não eram conducentes a realizar a votação naqueles 25 condados".

As autoridades afirmaram que isso não afetaria o resultado, e que o risco de violência, especialmente para com os membros da comissão eleitoral, era grande.

Pelo menos nove pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas em manifestações em todo o país, desde a segunda votação. Muitos analistas acreditam que o resultado venha a ser contestado na Justiça, porque a Constituição do Quênia dispõe que o presidente seja eleito com os votos de todos os 290 distritos.

Ao boicotar a segunda votação, Odinga afirmou que a comissão eleitoral não havia se reformado o bastante para garantir que o pleito fosse justo.

Um recurso de último minuto à Suprema Corte para que a votação fosse postergada foi recusado quando apenas dois dos sete juízes apareceram para a sessão. Na noite anterior à audiência, o motorista do vice-presidente da Corte foi atacado a tiros, o que muitos analistas interpretam como tentativa de intimidar a corte.

Alguns partidários de Odinga em Kisumu, cidade no oeste do Quênia, disseram que continuariam a protestar até que ele seja presidente.

Kenyatta se recusou a dizer ontem se tentaria uma aproximação com seu oponente, ou a revelar suas prioridades de desenvolvimento, até depois que quaisquer recursos contra o resultado do pleito sejam julgados.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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