Putin canta vitória na guerra síria e amplia ação no Oriente Médio

Crédito: Mikhail Klimentyev/Sputnik/Associated Press
Putin (terceiro da esq. para a dir.) e Assad (quinto no mesmo sentido) visitam base russa na Síria

IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO

Igor Gielow
São Paulo

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou nesta segunda (11) acordo para manter suas duas bases militares na Síria, ainda que vá mandar de volta para casa boa parte das forças que intervêm na guerra civil do país árabe desde 2015.

Ao lado do ditador Bashar al-Assad, Putin disse a soldados: "Você estão voltando para casa com uma vitória".

Assad deve sua sobrevivência, política e provavelmente pessoal, a Putin. Até a intervenção, suas forças estavam à beira do colapso. Hoje, ele é a figura mais forte no quebra-cabeça da Síria.

A declaração do russo foi dada na base aérea de Hmeimim, na província de Latakia. Não muito distante dali, a Rússia já operava um pequeno porto em Tartus, herança da boa relação entre o regime do pai de Assad e a então União Soviética.

A Rússia ganha um importante entreposto militar, já que instalou sistemas de defesa aérea poderosos, capazes de "fechar" o leste do Mediterrâneo em um conflito.

A retirada russa já havia sido anunciada duas vezes.

Mas parece que agora é para valer, e a força atual de talvez 4.000 homens pode cair a um quarto disso.

Putin age como mediador regional. Não por acaso, voou da Síria para o Egito, com quem está estabelecendo laços militares e políticos fortes. Uma ação sobre a anarquia institucional da vizinha Líbia é bastante provável.

De lá, o presidente foi para a Ancara, na Turquia, para negociações sobre a Síria.

Com o Estado Islâmico desarticulado, falta saber o que vai acontecer com as forças armadas por Estados do Golfo e pelos EUA para derrubar Assad. Elas estão desorganizadas, e a facção curda já está em franca negociação.

Novamente os olhos recaem sobre Putin, a começar pela coordenação com seu maior aliado regional, o Irã.

Tendo se reaproximado do governo turco, que por sua vez combate os curdos em seu próprio território, a Rússia está em posição de tentar acordo para acomodar a colcha de retalhos étnico-confessional que é a Síria.

Não é fácil, e a equação tem de incluir também a Arábia Saudita, rival do Irã que armou grupos anti-Assad, que se aproximou de Moscou.

Esse crescimento de musculatura diplomática e militar do Kremlin ocorre no momento em que Donald Trump criou celeuma no mundo árabe ao reconhecer Jerusalém como capital de Israel.

A política americana para a Síria sempre foi errática. Sem sujar as mãos, deu apoio limitado a grupos anti-Assad e organizou uma campanha aérea com efeitos mínimos se comparada à ação russa.

O preço a pagar é ver Putin cantar uma vitória estratégica três anos depois de virar um pária internacional pela guerra na Ucrânia.

SUCESSO INESPERADO

Do ponto de vista militar, a campanha russa na Síria foi um sucesso inesperado. Até o então presidente americano, Barack Obama, profetizava um atoleiro para Moscou.

"Hoje podemos dizer que deu tudo muito certo", disse Ruslan Pukhov, diretor do Centro de Análise de Tecnologias e Estratégias, de Moscou.

O analista afirma que o fator central para isso foi o uso limitado de recursos e pessoal. Morreram cerca de 40 militares em dois anos. Nos momentos mais intensos, não havia mais de 5.000 soldados russos no país, além de no máximo 50 aviões e 40 helicópteros.

Apenas um caça Su-24 foi perdido em 28 mil missões voadas de setembro de 2015 a agosto deste ano. Na guerra no Afeganistão (1979-89), os soviéticos perdiam um aparelho a cada 750 missões.

"A guerra garantiu a formação em campo para uma geração de oficiais russos", afirmou, lembrando que o trabalho na linha de frente é feito por mercenários pagos.

O custo humano foi alto. O Observatório Sírio de Direitos Humanos, que conta 346 mil mortos desde 2011, diz que a Rússia matou 6.328 civis, além de quase 10 mil combatentes. O Ocidente também acusou a Rússia de acobertar o uso de armas químicas por Assad, o que ela nega.(IG)

Com agências de notícias

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