Os dois candidatos à Presidência do Chile, que disputam o segundo turno neste domingo (17), encerraram a campanha nesta quinta (14) de forma coerente com suas estratégias para a reta final. Sebastián Piñera se mostrou mais à direita do que no primeiro turno, e Alejandro Guillier, mais à esquerda.
Piñera e a mulher, Cecilia Morel, percorreram bairros populares de Santiago, onde buscam o eleitor mais pobre e conservador. Ele encerrou sua campanha em um teatro da capital, ao lado de José Antonio Kast e Manuel Ossandón, dois ex-candidatos populistas de direita que o apoiaram no segundo turno.
Seu discurso foi centrado na questão de segurança. Piñera se comprometeu a combater a criminalidade e o narcotráfico, "para que recuperemos as praças, os espaços públicos para nossas crianças brincarem e para nossos jovens namorarem".
Já o governista Alejandro Guillier, 64, aproveitou ao máximo o apoio oferecido pelo ex-presidente uruguaio, José "Pepe" Mujica, que está em Santiago desde quarta (13).
Durante o dia, os dois caminharam pelas ruas do centro e tomaram suco num café ao ar livre, despertando frenesi entre transeuntes e turistas em busca de fotos.
Horas depois, em um comício, o uruguaio criticou aos atuais mandatários dos países latinos, "que ficam buscando acordos com grandes mercados longe daqui, quando deveriam se preocupar com o maior mercado que temos, que é o mercado dos pobres da América Latina".
"A América Latina precisa se pensar como continente. E estou aqui como latino-americano para dizer isso."
Na sequência, Guillier subiu ao palco e contou o que aprendeu ao percorrer o país e "ver tanta desigualdade", que prometeu reverter. Disse que, caso seja eleito, o Chile se transformaria em um país de "fronteiras abertas, em que a cordilheira não será um impedimento à integração".
SEGUNDO TURNO
O Chile viveu nas últimas semanas uma campanha eleitoral diferente da do primeiro turno. Naquele, havia uma oposição fragmentada e um franco favorito, Piñera.
O ex-presidente, então, assumiu um perfil mais de centro, de olho na diluição da aliança governista, Nova Maioria, que tinha duas candidaturas: a de Guillier e a da democrata cristã Carolina Goic.
Com o resultado nas urnas aquém do esperado —as pesquisas previam 45%, e Piñera obteve 36%—, "sua campanha foi obrigada a dar um giro à direita", como explica à Folha o analista político Fernando García Naddaf.
Ele se aproximou de Ossandón, que tem posições radicais contra o aborto e o casamento gay, mas discorda de Piñera ao defender a gratuidade na educação superior e uma previdência com maior atuação do Estado (hoje o sistema é privado).
O ex-presidente também obteve o apoio de José Antonio Kast (que obteve 7,9% dos votos). Ultraconservador, Kast também é contra o aborto e o casamento gay, defende uma política de segurança rígida, previdência custeada só pelos cidadãos e declara que "se Pinochet estivesse vivo, votaria em mim".
FRENTE ANTIPIÑERA
Já Guillier, que foi para o segundo turno com uma votação mínima para tal (22,7%), saiu em busca de apoios no centro e à esquerda, e os obteve. Os primeiros foram os de Goic, do ex-presidente socialista Ricardo Lagos (2000-2006) e da presidente Michelle Bachelet, até então neutra.
Mas o mais desejado era o da nova força de esquerda que nascera dos movimentos estudantis de 2011, a Frente Ampla. De modo surpreendente, sua candidata, Beatriz Sánchez, conseguiu 20,2% no primeiro turno.
Como o discurso da coalizão, porém, era o de mostrar-se como "o novo", desde o princípio disseram que se manteriam neutros.
A primeira a se rebelar contra essa ideia foi a própria Sánchez, defendendo um voto útil "para impedir que Piñera vença, pois seria um retrocesso para o Chile".
Depois de alguns dias de silêncio, nesta quinta-feira (14), as demais lideranças do partido, os deputados Giorgio Jackson e Gabriel Boric, declararam apoio a Guillier.
As pesquisas apontam para um empate técnico, com o ex-presidente à frente. No estudo do Instituto Cadem divulgado nesta quinta, Piñera tem 39%, e Guillier, 37%.
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