Disputa no Chile segue tendência de candidaturas pós-partidárias
Jorge Villegas/Xinhua - Francesco Degasperi/AFP | ||
Sebastián Piñera (esq.) e Alejandro Guillier, candidatos no 2º turno do Chile |
O segundo turno da eleição presidencial no Chile promete ser o mais apertado e imprevisível desde o retorno da democracia, em 1990.
Antes ainda do resultado, já é possível identificar elementos de tendência, que vêm se produzindo no cenário político mundial e que poderiam oferecer ferramentas para entender o "ciclo eleitoral latino-americano" de 2018, no qual cinco países terão disputas presidenciais.
Primeiramente, o Chile parece repetir movimento iniciado em 2016 com o "brexit": o do fracasso das enquetes de opinião. Até a véspera do primeiro turno, nenhum instituto dava Sebastián Piñera com menos de 43% dos votos; sua vitória no segundo turno era quase certa. E talvez nem houvesse nova rodada de voto.
Essas enquetes não souberam captar o crescimento da coalizão de esquerda, Frente Ampla, que totalizou mais de 20% dos votos.
Não é a primeira vez que aparece uma terceira força no Chile. Já em 2009, o candidato esquerdista Marco Enríquez-Ominami recebeu também em torno de 20% de votos no primeiro turno.
Agora, o crescimento da Frente Ampla parece mais significativo, já que conquistou visibilidade importante ao eleger 21 parlamentares.
Outro elemento marcante dessa eleição tem a ver com o caráter pós-partidário dos candidatos. Apesar de Piñera estar na política há mais de 25 anos, trata-se de um nome oriundo do mundo empresarial. Já o jornalista Alejandro Guillier entrou na política apadrinhado pelo pequeno Partido Radical.
A emergência de candidatos de fora da política tradicional é a tônica dos últimos tempos e constitui um sintoma da desconfiança dos cidadãos frente a candidatos "do sistema".
Por fim, o terceiro traço característico desse pleito é o realinhamento das forças políticas. Houve certa quebra de "rotina" política. Desta vez, nenhum candidato terá maioria parlamentar. Se Piñera parece estar em posição mais favorável para angariar apoios suficientes, faltando-lhe apenas seis deputados e três senadores, nada garante que consiga dar coesão a seu arranjo. Já Guillier, se eleito, terá pela frente tarefa ainda mais árdua.
ADRIÁN ALBALA é professor visitante na Universidade Federal do ABC
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