Veja 10 momentos memoráveis na sala de imprensa da Casa Branca em 2017

Crédito: Mandel Ngan - 8.mai.2017/AFP White House Press Secretary Sean Spicer speaks during the daily briefing in the Brady Briefing Room of the White House on May 8, 2017 in Washington, DC. / AFP PHOTO / Mandel NGAN ORG XMIT: MNN004
O então porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, concede entrevista a jornalistas em maio

CALLUM BORCHERS
DO "WASHINGTON POST"

Este é o ano em que os comunicados à imprensa da Casa Branca se tornaram programas de TV imperdíveis —isto é, quando foram televisionados.

O acesso às câmeras de televisão foi um ponto de disputa entre os jornalistas e o governo do presidente Donald Trump em 2017. O duradouro legado do período de dez dias de Anthony Scaramucci como diretor de comunicações da Casa Branca foi que ele restaurou a prática das transmissões ao vivo de perguntas e respostas.

As interações entre repórteres e os porta-vozes do presidente produziram muitos momentos memoráveis, que foram gravados ou não. Aqui estão dez que se destacam.

1. "O MAIOR PÚBLICO"

Um dia depois da posse de Trump, o secretário de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, estreou na sala de comunicados e insistiu de modo irritado que Trump havia atraído "o maior público que já assistiu a uma posse, tanto em pessoa como em todo o mundo".

Foi uma afirmação falsa. Como relataram os canais de notícias, a posse de Barack Obama em 2009 teve um público maior.

O relato impreciso e o tom irado de Spicer colocaram a relação entre a Casa Branca e o corpo de imprensa em um rumo acidentado. Também ajudaram a inspirar a impressão sobre Spicer de Melissa McCarthy no "Saturday Night Live", que ela apresentou pela primeira vez duas semanas depois.

Após a renúncia, Spicer disse lamentar "absolutamente" a afirmação sobre o tamanho do público na posse.

2. DESCULPE, VOCÊ NÃO ESTÁ NA LISTA

Quando Trump atacou a imprensa em um discurso à Conferência Conservadora de Ação Política, em fevereiro, Spicer fez um comunicado sem câmeras na Casa Branca e proibiu certas organizações de mídia, incluindo a CNN, "The New York Times", Politico e BuzzFeed. Os veículos que costumam cobrir o presidente de modo mais favorável, como Fox News, Breitbart News e o "Washington Times", foram autorizados a participar.

"Nada parecido jamais aconteceu na Casa Branca em nossa longa história de cobrir diversos governos de diferentes partidos", disse na época o diretor-executivo do "NYT", Dean Baquet.

O editor-executivo do "Washington Post", Martin Baron, disse: "Esse é um rumo não democrático que o governo está percorrendo".

3. "PARE DE BALANÇAR A CABEÇA"

Em um comunicado em março, Spicer ficou mais irritado quando rejeitou a premissa de uma pergunta de April Ryan, da American Urban Radio. "Vocês têm a Rússia", disse Ryan, citando vários motivos pelos quais, na opinião dela, o governo precisava "reformular sua imagem".

"Vocês têm a Rússia", Spicer atirou de volta, acusando Ryan de forçar uma "agenda".

"Se o presidente colocar molho russo na salada hoje à noite, de algum modo será uma conexão russa", acrescentou Spicer, sugerindo que as perguntas da mídia sobre a campanha de Trump e a Rússia são ridículas.

Ryan balançou a cabeça diante da indiferença de Spicer, o que o irritou ainda mais.

"Por favor, pare de balançar a cabeça", disse ele a certa altura.

Mais tarde, em uma participação na CNN, Ryan evitou chamar Spicer de sexista, mas comentou que ele recentemente havia chamado outra jornalista mulher de "idiota". Spicer disse que não trata os repórteres de modo diferente de acordo com o gênero ou a raça.

4. "CENTRO DO HOLOCAUSTO"

A expressão "campo de concentração" pareceu escapar a Spicer durante um comunicado em abril, por isso ele usou uma alternativa canhestra: "centro do Holocausto".

O que tornou a gafe tão incômoda foi o contexto: enquanto tentava enfatizar a depravação do ditador sírio, Bashar al-Assad, ao usar armas químicas, Spicer disse aos repórteres que "houve alguém tão desprezível quanto Hitler, que nem sequer pensou em usar armas químicas" —aparentemente se esquecendo de que Adolf Hitler usou gás venenoso para matar milhões de judeus.

Interpelado por um jornalista, Spicer tentou esclarecer: "Ele os levou ao centro do Holocausto. Eu sei disso".

Ele pediu desculpas pela afirmação mais tarde naquela noite, dizendo a Wolf Blitzer, da CNN: "Francamente, usei equivocadamente uma referência inadequada e insensível ao Holocausto, para o qual, francamente, não há comparação".

5. ENTRE ARBUSTOS

A demissão por Trump do diretor do FBI James Comey, em maio, levou a esta estranha cena, descrita por Jenna Johnson, do "Post":

"O secretário de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, encerrou sua breve entrevista com a Fox Business no jardim da Casa Branca na noite de terça-feira e desapareceu nas sombras, reunindo-se com sua equipe perto de arbustos e depois atrás de uma cerca alta....

"Depois que Spicer passou vários minutos escondido no escuro e entre os arbustos perto desse local, Janet Montesi, uma assistente-executiva no escritório de imprensa, apareceu e disse aos repórteres que Spicer responderia a algumas perguntas, desde que não fosse filmado. Então Spicer apareceu.

"'Simplesmente desliguem as luzes. Desliguem as luzes', ordenou ele. 'Vamos cuidar disso.... vocês poderiam desligar essa luz?'

"Spicer conseguiu o que queria e logo estava quase na escuridão entre duas cercas altas, com mais de uma dúzia de repórteres que o cercavam de perto."

6. "TALVEZ DEVÊSSEMOS LIGAR AS CÂMERAS, SEAN"

Em junho, os comunicados de imprensa gravados ao vivo se tornaram uma raridade. Até as transmissões de áudio foram proibidas na maioria dos dias; a Casa Branca só permitia a transmissão retardada de gravações de áudio.

Spicer justificou as restrições afirmando que os repórteres exageram sua atitude em entrevistas pela televisão. Jim Acosta, da CNN, irritou particularmente Spicer, que passou a chamá-lo com menor frequência.

A tensão ferveu durante uma sessão de perguntas e respostas não filmada em 26 de junho, quando Acosta interrompeu Spicer para fazer uma pergunta sobre o seguro-saúde sem ser chamado.

"A câmera não está ligada, Jim", respondeu Spicer, sugerindo que Acosta estava tentando aparecer.

"Talvez devêssemos ligar as câmeras, Sean", retrucou Acosta. "Por que não ligamos as câmeras?"

7. A ÚNICA APRESENTAÇÃO DE "MOOCH"

Anthony Scaramucci de fato ligou as câmeras quando assumiu como diretor de comunicações da Casa Branca em 21 de julho. "Mooch" foi uma contratação inconvencional, já que o ex-executivo de Wall Street tinha experiência zero em relações públicas. Ele e Spicer teriam se chocado, e Spicer renunciou no dia em que Scaramucci foi nomeado.

A primeira aparição de Scaramucci na sala de imprensa da Casa Branca veio a ser sua única. Ele durou apenas dez dias no cargo.

Mas a apresentação singular de Scaramucci foi memorável. Ele brincou sobre precisar de "muito cabelo e maquiagem". Ao contrário de extensas reportagens, afirmou que o então chefe de gabinete da Casa Branca, Reince Priebus, era um "querido amigo". Depois de deixar a Casa Branca, Scaramucci admitiu que "não foi o fim de um amor" entre ele e Priebus. Na sala de imprensa, entretanto, ele disse: "Eu não gosto muito de notícias falsas".

Scaramucci também se desculpou em público por ter criticado Trump na TV no início das primárias presidenciais.

"Eu não deveria ter dito aquilo sobre ele", disse Scaramucci. "Então, senhor presidente, se o senhor estiver ouvindo, eu pessoalmente peço desculpas pela 50ª vez por ter dito aquilo."

E depois, é claro, há aquele momento em que ele soprou um beijo para a imprensa.

8. "SOU A PRIMEIRA MÃE A TER ESSE CARGO"

Scaramucci promoveu Sarah Huckabee Sanders de vice-secretária de imprensa a secretária de imprensa, e em seu primeiro comunicado completo Sanders compartilhou uma reflexão emocionada sobre a conquista do cargo.

"Em Washington, muitas vezes é fácil ir ao trabalho, perder-se no processo e esquecer por que estamos aqui todos os dias", disse ela. "O motivo pelo qual estamos aqui é servir à população americana. E hoje eu gostaria que vocês me permitissem contar um pouco sobre o que isso significa para mim.

"Que eu saiba, sou a primeira mãe a deter o cargo de secretária de imprensa da Casa Branca.... Como uma mãe que trabalha, não deixo de ver que grande honra e que privilégio é para mim estar aqui no pódio, e agradeço ao presidente pela oportunidade."

9. TEMPO DE MILLER

Acosta, da CNN, estrelou um episódio ainda mais quente em agosto, contra o principal assessor de políticas da Casa Branca, Stephen Miller. A ocasião era para delinear as propostas de política de imigração do governo Trump que dariam ênfase ao emprego e à fluência em inglês para a concessão de documentos de residência no país (green cards).

Miller apareceu como convidado na sala de imprensa, ostensivamente para defender as propostas que ele tinha ajudado a formular. Mas parecia menos interessado em defender as ideias do governo do que em tentar pôr a CNN em má situação.

"Você quer produzir uma mudança abrangente no sistema de imigração", disse Acosta a certa altura, referindo-se à promessa de Trump de construir um muro na fronteira sul.

Em vez de falar sobre o plano de imigração em geral do presidente, Miller imediatamente acusou Acosta de misturar questões diferentes.

"Certamente, Jim, você não pensa realmente que um muro afeta a política da autorização de residência", disparou Miller de volta. "Você não poderia acreditar nisso, não é?... Vocês na CNN realmente não sabem a diferença entre a política do 'green card' e a imigração ilegal? Quero dizer, vocês realmente não sabem isso?"

Em outro momento, Acosta se referiu ao plano de Trump de conceder pontos aos solicitantes de green card com base na proficiência em inglês e perguntou: "Vamos trazer só gente do Reino Unido e da Austrália?"

Em vez de justificar a proposta de ênfase de Trump à habilidade em inglês, Miller agiu como se Acosta tivesse dito que o Reino Unido e a Austrália são literalmente os únicos lugares do mundo, além dos EUA, onde se fala inglês.

"Estou chocado com a sua declaração, que você pense que só pessoas do Reino Unido e da Austrália sabem inglês", disse Miller. "É realmente... isso revela seu preconceito cosmopolita em um nível chocante.... este é um momento surpreendente. Que você pense que só pessoas do Reino Unido e da Austrália sabem inglês é um insulto para milhões de imigrantes trabalhadores que não falam inglês, do mundo inteiro. Jim, você francamente nunca conheceu um imigrante de outro país que fale inglês, além do Reino Unido e da Austrália? É essa a sua experiência pessoal?"

10. JOHN KELLY FAZ UMA FALSA AFIRMAÇÃO

O chefe de gabinete da Casa Branca fez uma rara aparição na sala de imprensa em outubro, em uma missão para defender Trump contra uma alegação da deputada democrata Frederica Wilson, da Flórida, que disse que o presidente fez comentários danosos em um telefonema à família de um soldado morto no Níger.

Kelly chamou Wilson de exibida e afirmou falsamente que a congressista levou o crédito em um discurso em 2015 por obter verbas federais para a construção de um escritório do FBI em Miami. O vídeo do discurso, publicado pelo "Sun Sentinel" de Fort Lauderdale, mostrou que Wilson não fez isso; ela elogiou seus colegas republicanos por acelerarem a tramitação de um projeto que ela patrocinou, que deu ao prédio o nome de dois agentes do FBI mortos em ação.

O ataque de Kelly —e a posterior recusa a reconhecer sua imprecisão— minou sua imagem como o melhor anjo do presidente dos fatos contestados. Quando um repórter levantou a falsa afirmação de Kelly durante os comunicados à imprensa no dia seguinte, Sanders disse: "Se você quiser entrar em um debate com um general quatro-estrelas dos fuzileiros navais, acho que é algo altamente inadequado".

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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