Com rumos díspares, dois terços dos latinos trocam governo em 2018

Crédito: Pablo Vera - 17.dez.2017/AFP Mesários contam votos de seção no segundo turno da eleição presidencial no Chile, vencida por Sebastián Piñera
Mesários contam votos de seção no segundo turno da eleição presidencial no Chile, vencida por Sebastián Piñera

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Cerca de 425 milhões de latino-americanos, ou 2 de cada 3 habitantes da região, se preparam para ter novos governos em 2018.

A maioria virá das urnas, com exceção de Cuba, onde o ditador Raúl Castro, 86, deve deixar o posto para Miguel Díaz-Canel, 57, também membro do Partido Comunista, mas primeiro dirigente desde a Revolução de 1959 a não pertencer à família Castro.

Além do Chile, que já elegeu o centro-direitista Sebastián Piñera para substituir a centro-esquerdista Michelle Bachelet em março próximo, outras 3 das 5 maiores economias da região irão às urnas (só a Argentina fica de fora).

México, Brasil e Colômbia escolherão novos governos, sem disputa de reeleição —o México a extinguiu na Constituição pós-revolucionária, de 1917, e a Colômbia voltou a proibi-la na atual gestão, de Juan Manuel Santos.

A última vez em que México e Brasil elegeram novos presidentes juntos foi em 1994, com Ernesto Zedillo e Fernando Henrique Cardoso.

Também um importante parceiro do Brasil no Mercosul, o Paraguai (sem reeleição desde a Constituição de 1992, pós-ditadura Alfredo Stroessner) decidirá se manterá ou não o tradicional Partido Colorado no comando.

Haverá, por fim, dois extremos: eleições na Costa Rica —um dos países em que os cidadãos estão mais satisfeitos com a democracia, segundo pesquisas do Latinobarômetro— e, ao menos pelo calendário eleitoral, na Venezuela, onde a tensão é constante e a crise humanitária se agrava sob abusos da ditadura.

Ainda não saíram os candidatos. Mas os simpatizantes de Álvaro Uribe devem ir com Iván Duque, senador de 41 anos, de hábil retórica, que fez campanha contra o acordo no plebiscito de 2016.

"Não temos por que lutar por esse acordo específico, cheio de concessões. Este [o de Santos] não é o último governo da Colômbia, nem o atual é o último Congresso", disse Duque à Folha, aludindo às penas alternativas previstas no acordo.

"Vamos lutar por uma solução nova, para que os que cometeram crimes de lesa-humanidade cumpram pena em prisões de verdade."

O jovem político é a segunda opção do ex-presidente Uribe, que teve de descartar seu preferido, Óscar Iván Zuluaga, por acusações de envolvimento deste com o esquema de subornos da construtora brasileira Odebrecht.

Já o candidato governista deve ser alguém com quem Santos está às turras há algum tempo, seu ex-vice, Germán Vargas Lleras, 55. Um populista de direita, menos moderado que o presidente atual, que hesitou em apoiar o acordo de paz e por isso foi sendo afastado até deixar o posto.

Mas a Colômbia também terá opções alternativas, que estudam se formam aliança.

São elas o matemático Sergio Fajardo, 61, ex-prefeito de Medellín e responsável pela transformação da cidade de uma das violentas do mundo em exemplo urbanístico, exportando soluções de combate ao crime por meio de obras de infraestrutura, transporte e convivência. Além dele, há Cláudia Lopez, 47, mais à esquerda, do Partido Verde.

Será também a primeira eleição em que a Farc (Força Alternativa Revolucionária do Comum), antes guerrilha e agora partido político, estarão entre as opções. Pesquisas indicam, porém, que será difícil que consigam cargos com votos. Sendo assim, pelo acordo, terão dez assentos no Congresso escolhidos pelo comando do partido.

"Com o fim da associação entre esquerda e guerrilha, os colombianos terão a chance de criar opções de esquerda que podem ser reformistas, modernas, pró-instituições ou antissistema", diz Zanatta.

"Qualquer que seja a alternativa, terão de vencer o preconceito dos colombianos, que ainda associam a esquerda a guerra e luta armada."

BRASIL

"O Brasil se encontra diante de dois cenários: eleição com Lula e sem Lula. Enquanto a participação do ex-presidente não for decidida, é impossível fazer previsões", diz Mike Reid, ex-editor da seção Américas da revista britânica "Economist" e autor da coluna "Bello" na publicação.

Crédito: Mauro Pimentel - 8.dez.2017/AFP O ex-presidente Lula ainda é incógnita para a eleição de 2018 devido a processos na Lava Jato
O ex-presidente Lula ainda é incógnita para a eleição de 2018 devido a processos na Lava Jato

"Não acredito que Jair Bolsonaro tenha fôlego. O mais provável é uma disputa entre Lula, se for candidato, e quem o PSDB apresentar", conclui.

Por ora, os números dão vantagem ao petista, mas este responde a vários processos na Justiça e pode ser impedido de concorrer. Em segundo está Bolsonaro, deputado que representa a direita mais radical, seguido pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e pela ex-senadora Marina Silva.

"É difícil que a eleição do Brasil marque tendência. Trata-se mais de ver o que sobrou do país pós-Lava Jato e como se sai dessa crise em que se meteu. Não é uma eleição que ressoará na região", afirma Zanatta. "Não vejo o Brasil aberto à região neste momento. Está muito metido em seus próprios problemas."

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.