Militar mata mulher grávida em fila de distribuição de pernil na Venezuela

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Uma mulher grávida morreu após ser baleada por um guarda nacional da Venezuela neste domingo (31), enquanto esperava em frente a um quartel para comprar o pernil e a ceia de Ano Novo com preços subsidiados.

Alexandra Conopoi, 18, protestava com outros 60 moradores do bairro pobre de El Junquito, em Caracas, depois que não se confirmou a informação de que chegaria um carregamento de comida a uma das bases do programa estatal de alimentação.

Crédito: Federico Parra - 28.dez.2017/AFP Moradores de favela de Caracas protestam após regime não entregar pernil e comida subsidiada no Natal
Moradores de favela de Caracas protestam após regime não entregar pernil e comida subsidiada

Segundo testemunhas ouvidas pela imprensa venezuelana, os guardas nacionais atiraram quando o grupo tentou invadir a base. Além de Conopoi, um homem levou um tiro na perna.

A família acusa os agentes de estarem embriagados no momento da abordagem, por volta das 3h (5h em Brasília). "Nós vimos quando eles saíram bêbados de um bar e começaram a xingar quem estava na fila", disse Euvadis Herrera, mãe da vítima, ao jornal "El Nacional".

Quando o grupo reagiu, o guarda David Rebolledo deu um tiro de fuzil para o alto e, na sequência, sacou uma pistola 9 mm e começou a disparar contra os manifestantes, atingindo a mulher grávida.

Nesta segunda, o Ministério Público anunciou o afastamento de Rebolledo, que será processado por homicídio qualificado, uso indevido de armas oficiais e simulação de um crime inexistente.

O assassinato ocorreu após uma semana de protestos no país devido à falta de pernil para as ceias de Natal e Ano Novo. O fornecimento da peça de porco a preços subsidiados havia sido prometido pelo ditador Nicolás Maduro.

Em resposta aos atos, chamados ironicamente de "a revolta do pernil", disse que o regime foi alvo de uma sabotagem de Portugal e Colômbia, países aos quais foram feitas as encomendas da carne.

Os governos dos dois países negaram qualquer interferência. No caso português, a empresa que recebeu a solicitação recusou a venda devido a uma dívida de € 40 milhões (R$ 159 milhões) contraída por Caracas em 2016.

Já as autoridades colombianas retiveram a mercadoria pela falta de guias de exportação. Na sexta (30), o país autorizou o envio de 60 toneladas da carne ao vizinho.

SALÁRIO

Também no domingo, Maduro anunciou um novo aumento de 40% no salário-mínimo venezuelano —o sétimo de 2017.

O novo mínimo mensal no país será de 797.510 bolívares (incluído o tíquete-alimentação), equivalente a R$ 3.690 no câmbio oficial —que praticamente não é usado no país— e a R$ 23 no câmbio negro, o qual a maioria dos venezuelanos usa para ter acesso a moedas estrangeiras.

Com o último reajuste, o salário total e o benefício tiveram um aumento de 664% no ano, mas que não foi capaz de compensar a inflação.

Segundo a Congresso venezuelano, que é controlado pela oposição, a inflação entre janeiro e novembro de 2017 foi de 1.369% e a expectativa é que no total do ano ela supere os 2.000% —o governo não divulga uma taxa oficial.

Economistas temem que o novo aumento do mínimo sirva para acelerar ainda mais a inflação.

Os oposicionistas dizem que a recusa do ditador em mudar o modelo econômico do país, dependente do Estado e do dinheiro gerado pelo petróleo, vai servir apenas para piorar ainda mais crise noo país, aumentando a pobreza da população.

Em seu discurso deste domingo, porém, Maduro atacou a oposição pelas críticas e disse que a imprensa local e estrangeira faz uma "propaganda negativa" da Venezuela.

Ele também afirmou que a moeda do país está sofrendo "ataques" e que a indústria petrolífera foi "sabotada". Ele não especificou quem seria o responsável por isso.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.