Pela primeira vez, manifestantes parecem ser de fora do sistema

Crédito: Ebrhaim Noroozi - 30.dez.2017/Associated Press Iranian protesters chant slogans at a rally in Tehran, Iran, Saturday, Dec. 30, 2017. Iranian hard-liners rallied Saturday to support the country's supreme leader and clerically overseen government as spontaneous protests sparked by anger over the country's ailing economy roiled major cities in the Islamic Republic. (AP Photo/Ebrahim Noroozi) ORG XMIT: ENO101
Contra os protestos que criticam o governo, apoiadores do regime do Irã fazem marcha em Teerã

IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO

A atual rodada de protestos o governo iraniano chama a atenção não tanto pelo seu potencial de recrudescimento, mas sim pela natureza algo nebulosa das manifestações em curso.

Desde que o reformista Mohammad Khatami destampou a panela de pressão do regime ao ser eleito inesperadamente em 1997, havia uma dinâmica estabelecida nos confrontos internos do país.

Você podia ser a favor ou contra o regime, mas a luta quase sempre se dava dentro do arcabouço do sistema.

Os estudantes que foram às ruas em 1999 podiam até, no fundo, querer a queda da República Islâmica instalada em 1979. Mas seu veículo era o apoio a um reformista "de dentro", Khatami, em oposição a clérigos conservadores.

Em 2009, data dos mais graves distúrbios até aqui, a agenda predominante era a acusação de fraude na vitória eleitoral do conservador Mahmoud Ahmadinejad.

Seus líderes eram os derrotados no pleito, e o Movimento Verde que protagonizaram nem de longe pregava queimar retratos de aiatolás.

Agora, como notou Trita Parsi, do Conselho Nacional Iraniano Americano, as lideranças reformistas estão fora. Mais: estão olhando tudo com bastante distanciamento, emitindo apoios protocolares e evitando associação direta com o movimento.

Para Parsi, a impressão é de que o país está diante de um novo tipo de manifestante, aquele que gostaria de ver a república secularizada. Cabe sempre lembrar que o Irã sempre teve uma sofisticada classe média e elite intelectual, mas que até aqui jogou segundo as regras da revolução.

Há também o fator Washington. A despudorada reação de apoio do presidente Donald Trump pode ser apenas apenas o seu usual oportunismo impensado.

Mas para uma sociedade que tem no conflito com os Estados Unidos boa parte de sua base ideológica nas últimas décadas, é gasolina para a fogueira que vê interferência externa nos protestos. Trump pode ajudar a apressar uma virada repressiva contra os manifestantes.

O governo de Hasan Rowhani está no pior dos mundos. Buscando apoio popular contra a linha dura do regime, ele tem evitado a repressão mais brutal.

Mas ela pode acabar sendo inevitável, angariando para Rowhani uma dupla acusação: a de que foi frouxo demais por parte dos conservadores, e a de que cedeu a eles, do lado dos reformistas.

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