Para europeus, 'brexit' representa chance de atrair espólio de Londres

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DANIEL BUARQUE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LONDRES

"Cansados da neblina, experimentem os sapos." É com uma campanha que rima o "fog" londrino com os "frogs" da culinária francesa que o bairro empresarial parisiense de La Défense está trabalhando para atrair o êxodo de empresas que vão deixar Londres por conta do "brexit".

Enquanto o Reino Unido trabalha na definição de seu futuro político e econômico fora do bloco, países do continente traçam estratégias para se beneficiar do divórcio. A disputa pelo que está sendo chamado de "espólio" da saída britânica da União Europeia anima mercados pela Europa.

Crédito: Daniel Leal-Olivas - 18.dez.2017/AFP Manifestante com bandeira da UE protesta contra 'brexit' em frente ao Parlamento em Londres
Manifestante com bandeira da UE protesta contra 'brexit' em frente ao Parlamento em Londres

Além da capital francesa, quase todas as outras grandes cidades europeias também estão de olho no lucro que podem passar a ter por conta da saída britânica do bloco. Segundo o jornal "The Guardian", trata-se do "brexodus", o êxodo de empresas e de trabalhadores qualificados do país do "brexit".

A campanha francesa aposta na rejeição de empresas às incertezas provocadas pelo "brexit".

Enquanto o Reino Unido gasta seu tempo pensando sobre como o país vai ser no futuro, Paris oferece estabilidade e certeza dentro da União Europeia imediatamente.

Levantamentos indicam que a França pretende atrair empresas e gerar mais de 10 mil empregos para trabalhadores qualificados graças ao divórcio britânico. Paris também foi beneficiada ao ser escolhida como próxima sede da Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês), agência reguladora que até o "brexit" ficava em Londres, mas migrará em 2019.

"É um reconhecimento da atratividade e do compromisso europeu com a França", comemorou o presidente francês, Emmanuel Macron.

Agências executivas espalhadas pela UE são ímãs para trabalhadores qualificados, afirma uma análise publicada pela revista "The Economist". A capital holandesa, Amsterdã, foi outra beneficiada pelo êxodo de birôs europeus que tinham sede na capital britânica e agora partem para outros países.

AMSTERDÃ

A Holanda foi escolhida para sediar a Agência Europeia de Medicamentos (EMA). Com a mudança, Amsterdã leva de Londres um escritório com cerca de 900 empregos, orçamento de 322 milhões de euros (R$ 1,26 bilhão) e o movimento de cerca de 40 mil visitas internacionais a cada ano.

Frankfurt, na Alemanha, é apontada como o principal destino de bancos internacionais que devem deixar (ou diminuir sua presença) na City, bairro empresarial ondrino.

A lista das instituições financeiras que estão em processo de mudança é grande, e inclui nomes como Citibank, UBS e Goldman Sachs, que deve levar cerca de mil postos de trabalho do Reino Unido para a Alemanha.

Apesar de ainda não ter definido totalmente como ficará a situação da sua fronteira com a Irlanda do Norte após o "brexit", a Irlanda também está de olho em oportunidades geradas pelo divórcio britânico. Dublin disputou o direito de sediar as agências europeias que vão para Paris e Amsterdã, e também está tentando atrair bancos e multinacionais que têm sede em Londres, mas devem tentar se manter na UE.

Quase cem empresas sediadas em Londres já entraram em contato com a agência reguladora irlandesa a fim de discutir uma possível mudança para Dublin.

Em Madri, um escritório com especialistas anglófonos em finanças vai ser inaugurado em fevereiro. A ideia é tentar atrair empresas que buscam alternativas a Londres e que podem se interessar pelo clima e pela posição da capital espanhola na UE.

Logo após o plebiscito do "brexit", circulou na internet uma versão alterada de uma faixa pendurada no Palácio de Cibeles, em Madri. A frase "Refugiados bem-vindos" foi editada digitalmente: "Refugiados britânicos bem-vindos".

CRONOLOGIA DO BREXIT
Processo já dura 2 anos

17.dez.2015
Ato real autoriza a realização de um plebiscito para decidir sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia

22.fev.2016
O então primeiro-ministro, David Cameron, anuncia a convocação da consulta popular

23.jun.2016
Data de realização do plebiscito. Para surpresa da opinião pública, maioria dos eleitores vota pela saída britânica do bloco europeu. "Brexit" vence com 51,9% dos votos, contra 48,1% dos contrários à separação

24.jun.2016
David Cameron anuncia que vai renunciar ao cargo

13.jul.2016
A conservadora Theresa May, até então secretária do Interior, torna-se a nova chefe de governo do Reino Unido, a segunda mulher a ocupar o cargo (depois de Margaret Thatcher)

17.jan.2017
Em discurso, May revela o plano do governo para a saída do bloco comercial e define as prioridades do Reino Unido na negociação do "brexit"

2.fev.2017
Governo britânico publica o White Paper, fixando formalmente a estratégia para o desligamento britânico

16.mar.2017
Saída da União Europeia recebe autorização real

29.mar.2017
Theresa May aciona o Artigo 50 do Tratado de Lisboa, formalizando o pedido de afastamento britânico do bloco

18.abr.2017
A premiê convoca eleições gerais no Reino Unido para junho

8.jun.2017
O partido conservador da primeira-ministra vence a eleição legislativa, mas vê sua maioria no Parlamento se esvair, o que o força a buscar uma coalizão para governar

19.jun.2017
Tem início a primeira rodada de negociações do "brexit" entre o Reino Unido e a União Europeia

13.jul.2017
Governo divulga a proposta da chamada "Repeal Bill", a lei de revogação da relação com a União Europeia, marcando o início da discussão da legislação necessária para o "brexit"

19-20.out.2017
Reunião do Conselho Europeu avalia progressos da primeira fase de tratativas sobre o "brexit"

13.dez.2017
Em derrota do governo, o Parlamento britânico aprova uma emenda (curiosamente, apresentada por um correligionário de May) que permite aos legisladores vetar o acordo final do "brexit". Líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn classificou o revés como "humilhante perda de autoridade do governo"

15.dez.2017
Líderes da União Europeia autorizam formalmente a abertura da segunda fase de negociações da saída do Reino Unido do bloco. Na próxima etapa, serão discutidos o período de transição para a separação as relações comerciais entre Londres e Bruxelas pós-"brexit"

FUTURO

Segundo semestre de 2018
Data em que o negociador-chefe da União Europeia espera ter finalizado as tratativas do "brexit"

Fim de 2018
Ambas as casas do Parlamento britânico votam para decidir se aceitam os termos do acordo do "brexit"

Fim de 2018
Parlamento Europeu vota para decidir se aceita ou não o acordo do "brexit"

29.mar.2019
Data para a formalização da saída britânica

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