Descrição de chapéu The New York Times

Conversa de bar foi gatilho para apurar papel russo na eleição dos EUA

SHARON LAFRANIERE
MARK MAZZETTI
MATT APUZZO
DO "NEW YORK TIMES"

Numa noite de maio de 2016, com muito álcool consumido em um bar sofisticado de Londres, George Papadopoulos, jovem assessor de política externa da campanha de Donald Trump, fez uma revelação espantosa ao diplomata australiano de mais alto nível no Reino Unido: a Rússia tinha informações políticas sigilosas e prejudiciais sobre Hillary Clinton.

Três semanas antes disso, Papadopoulos ouvira que Moscou estava de posse de milhares de e-mails que causariam constrangimento a Hillary. Os e-mails teriam sido roubados em um esforço para prejudicar a democrata.

Crédito: Linkedin/AFP George Papadopoulos, em rua de Londres
George Papadopoulos, em rua de Londres

Não está claro o quanto Papadopoulos revelou ao diplomata Alexander Downer. Mas dois meses mais tarde, quando e-mails vazados do Partido Democrata começaram a aparecer, autoridades australianas transmitiram a informação a seus colegas americanos. A informação é de quatro funcionários dos EUA e de outros países.

O roubo de informações e a revelação de que um membro da campanha poderia ter tido informações privilegiadas sobre a ação foram os fatores que levaram o FBI a abrir uma investigação, em julho de 2016, meses antes das eleições, sobre as tentativas da Rússia de interferir no processo e a possibilidade de pessoas ligadas a Trump terem conspirado para isso.

Papadopoulos se confessou culpado de mentir para o FBI e agora está cooperando com a investigação.

INFLUÊNCIA

Embora alguns assessores de Trump o tenham descrito como mero voluntário insignificante da campanha, entrevistas e novos documentos mostram que Papadopoulos continuou influente ao longo de toda a campanha.

No início de março de 2016, Papadopoulos, então um jovem ambicioso de 28 anos de Chicago, estava trabalhando como consultor energético em Londres quando a campanha de Trump o chamou para ser assessor.

Ele não tinha nenhuma experiência com questões ligadas à Rússia. Mas, quando foi entrevistado para o trabalho por Sam Clovis, um dos principais assessores da fase inicial da campanha de Trump, ele viu uma possibilidade.

Segundo documentos judiciais, foi dito a ele que melhorar as relações com a Rússia era uma das principais metas de política externa de Trump.

Naquele mesmo mês, Papadopoulos conheceu o maltês Joseph Mifsud, professor que tinha contatos valiosos com a Chancelaria russa.

Quando soube que Papadopoulos era assessor de Trump, Mifsud passou a procurá-lo com frequência. O objetivo dos dois era organizar um encontro entre Trump e o presidente Vladimir Putin, ou entre seus assessores.

Mifsud colocou Papadopoulos em contato com Ivan Timofeev, diretor de programas do Clube de Debates Valdai, grupo de acadêmicos que se reúne anualmente com Putin. Os dois trocaram correspondência durante meses.

'SINAL PARA ENCONTRO'

Quando a equipe de política externa de Trump se reuniu pela primeira vez, em Washington no final de março, Papadopoulos disse que tinha os contatos necessários para organizar um encontro entre Trump e Putin.

Segundo participantes da reunião, Trump ouviu atentamente mas, aparentemente, seguiu a recomendação de Jeff Sessions de resistir à proposta de Papadopoulos.

O assessor, porém, continuou durante meses tentando organizar algum tipo de reunião com os russos. Papadopoulos gozava de confiança suficiente da campanha para editar o esboço do primeiro discurso de Trump sobre política externa, em abril, em que o candidato disse que era possível melhorar as relações com a Rússia.

O assessor chamou a atenção de seus contatos russos para o discurso, dizendo a Timofeev que a fala devia ser interpretada como "o sinal para um encontro".

No final de abril, Mifsud contou a Papadopoulos que funcionários russos de alto escalão disseram ter informações que poderiam prejudicar Hillary, sob a forma de "milhares de e-mails".

No dia seguinte, ele disse a Stephen Miller que estava de posse de "mensagens interessantes vindas de Moscou". Os e-mails aos quais o NYT teve acesso, no entanto, não contêm evidências de que Papadopoulos discutiuas mensagens roubadas com a campanha.

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