Para evitar uso político de seu nome, papa Francisco não vai à Argentina

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Crédito: Martin Bernetti/AFP Broches com a foto do papa Francisco em Santiago, no Chile, antes da visita do pontífice
Broches com a foto do papa Francisco em Santiago, no Chile, antes da visita do pontífice

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Ao concluir seu giro pelo Peru, Francisco terá visitado nove países latino-americanos desde o início de seu papado, em 2013. Ainda assim, não marcou data para ir a seu país natal, a Argentina.

A razão principal, segundo o pontífice, é evitar o uso político de sua imagem num país tão polarizado e no qual ele sempre se posicionou com mais simpatia pelo lado peronista —chegou a apoiar, na reta final, a campanha de Daniel Scioli, derrotado por Mauricio Macri em 2015.

Do atual presidente, Francisco guarda distância. Já o recebeu duas vezes em Roma, mas ambas foram sessões curtas. Embora amigável, o papa não sorriu e chegou a se esquivar de um abraço do presidente.

Por outro lado, Francisco mantém constante diálogo com os padres que atuam em comunidades pobres, os chamados "curas villeros" (padres de favela), grupo em que ele próprio atuou e que é uma linha da Igreja local também vinculada ao peronismo. Tem representantes em quase todas as favelas importantes de Buenos Aires e de outras cidades grandes.

Em novembro, como tem feito com frequência, o papa recebeu uma comitiva de líderes comunitários da Villa 31, favela no centro da capital argentina onde atuou quando vivia na cidade.

"Estivemos com ele em Roma e foi algo indescritível. Falamos do plano de construir uma estátua para o padre Mugica na Villa 31. Ele gostou da ideia e perguntou como andavam as coisas na nossa comunidade, que ele conhece muito bem", conta à Folha o líder comunitário Cesar Sanabria, que comanda uma rádio na Villa 31.

Admirado pelo papa, o padre Mugica (1930-74) é uma das principais referências dos padres que atuam em comunidades pobres do país.

Passou a vida dedicado a pregar e a ajudar os moradores de favelas como a Villa 31 e mantinha atividades políticas com o movimento Padres do Terceiro Mundo. Foi assassinado pelo esquadrão da morte Triple A, a Aliança Anticomunista Argentina.

O papa comanda de Roma a atuação dos "curas villeros" e chegou a indicar dois deles como bispos, o que causou incômodo entre os representantes da Igreja argentina tradicional. São eles José Ignacio García Cueva, que atuava na favela La Cava, e Gustavo Carrara, da favela de Flores, bairro em que o papa passou a infância. Os dois novos bispos se dizem identificados com a ação de Mugica.

Em 2016, o papa canonizou o cura Brochero, versão rural dos "curas villeros", que visitava aldeias e povoados na região do interior da Província de Córdoba, montado a cavalo ou em mula.

Embora o papa não tenha marcado uma visita à Argentina, os moradores da Villa 31 puderam sentir um pouco de sua presença nas últimas semanas, quando foram rodadas, na favela, cenas do filme "The Pope", com Jonathan Pryce como Francisco e Anthony Hopkins como seu antecessor, Bento 16.

ARQUIVOS DA DITADURA

Ao receber na semana passada bispos do Uruguai e da Argentina, o papa prometeu abrir os arquivos do Vaticano do período de ditadura nos dois países, nos anos 70.

No caso da Argentina, ordenou a divulgação do livro de batismos da Esma (Escola Mecânica da Marinha), um dos principais centros clandestinos de tortura, com 127 registros de nascimento.

A ideia é que isso ajude a organização de direitos humanos Avós da Praça de Maio na busca por filhos de desaparecidos nascidos em cativeiro e entregues a militares.

Estima-se que 500 bebês tenham tido esse destino. Até hoje, com exames de DNA e depoimentos, as Avós já recuperaram a identidade de mais de 120 "netos".

ROTEIRO DO PAPA

CHILE
15.jan
Papa chega a Santiago

16.jan
Encontra-se com a presidente, faz missa e visita prisão feminina

17.jan
Viaja a Temuco, no centro-sul do país

18.jan
Vai a Iquique, no norte, e depois a Lima, no Peru

PERU
18.jan
Chegada em Lima

19.jan
Encontra-se com o presidente; depois viaja a Puerto Maldonado, perto da fronteira com o Brasil

20.jan
Visita Trujillo, no litoral

21.jan
Em Lima, reza última missa antes de voltar para Roma

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