Impasse do governo com ELN ameaça afetar eleição presidencial colombiana

Crédito: Jhon Paz - 19.dez.2017/Xinhua Combatente de uma das frentes do ELN faz patrulha no departamento colombiano de Chocó
Combatente de uma das frentes do ELN faz patrulha no departamento colombiano de Chocó

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

O impasse criado pela suspensão das negociações entre o governo colombiano e o ELN (Exército de Libertação Nacional) após o fim de um cessar-fogo e a retomada dos atentados pela guerrilha, no último dia 10, começa a jogar sombra nas eleições que o país terá nos próximos meses.

Em março, a Colômbia elegerá o novo Congresso, onde terão lugar obrigatório dez representantes da ex-guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), agora convertida em partido.

Em maio, o país escolherá o sucessor de Juan Manuel Santos, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz por encerrar o conflito com esse grupo, mas enfrenta obstáculos para implementar o acordo e dificuldades para alcançar a paz também com o ELN.

Para analistas, é urgente a retomada do diálogo com o ELN, que vinha ocorrendo desde 2016 no Equador.

"Isso pode esperar dias, não semanas. Senão, veremos uma escalada de violência que causará mais instabilidade e terá impacto eleitoral", disse à Folha Victor de Currea Lugo, da Universidade Nacional da Colômbia.

Segundo Currea Lugo, que estuda a guerrilha, o principal problema é que "o ELN nunca aceitou ser tratado como segunda guerrilha da Colômbia". "Tampouco desejam que o governo lhes imponha o mesmo acerto que já feito com as Farc", diz.

O ELN quer um acordo com participação da população das áreas onde atua e desejava que seu caso fosse tratado em mesa paralela à das Farc.

Tanto o ELN como as Farc são de esquerda e surgiram nos anos 1960. Mas enquanto as Farc, desmobilizadas com 7.000 combatentes, surgiram no campo e tinham a reforma agrária como bandeira, o ELN, com 1.500 integrantes, é uma guerrilha urbana que atrai intelectuais e estudantes e visa o socialismo.

Com o tempo, as duas ficaram parecidas: passaram a agir só no interior, embora em áreas distintas, e a ter como atividade o narcotráfico, a extorsão e a mineração ilegal.

ANTI-ESTADO

O ELN, porém, ainda tem forte perfil ideológico, misturando o socialismo à Teologia da Libertação. Seus atentados visam a infraestrutura do país para expressar descontentamento com o Estado.

"Há uma divisão no ELN, em que o núcleo minoritário e mais ideologizado vê os entraves à implementação do tratado com as Farc como justificativa para travar o processo", diz Currea Lugo.

De fato, o governo esperava pôr o acordo em prática antes. Foi realizada a entrega das armas e começou a reinserção dos ex-guerrilheiros. Mas os tribunais especiais que julgariam seus crimes não começaram a trabalhar.

Santos atribui a demora à bancada uribista no Congresso, que se nega a votar itens relacionados ao acordo. O senador e ex-presidente Álvaro Uribe se opõe ao processo e acha o acordo "permissivo".

Na última semana, um dos comandantes das Farc, Iván Márquez, chamou a atenção do governo por não cumprir a cláusula do tratado que prevê a proteção a ex-combatentes. Seis deles já foram assassinados, supostamente por bandos de ex-paramilitares.

"Não retomar a negociação é causar ainda mais instabilidade no interior, onde há disputa entre quadrilhas, ex-paramilitares e dissidentes pelo vácuo deixado pelas Farc", diz Currea Lugo. "É fazer o trabalho pela metade."

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