Ala jovem social-democrata busca bloquear coalizão com Merkel

DIOGO BERCITO
DE MADRI

O SPD (Partido Social-Democrata) vota neste domingo (21) para aprovar a sua coalizão com a CDU (União Cristã-Democrata), da chanceler alemã, Angela Merkel.

Independentemente do resultado, a conferência de seus líderes em Bonn mostrará o quão dividida está a força de centro-esquerda.

A ala jovem do partido, conhecida como Juso, fez campanha contra a coalizão, com um tour pelo país de seu líder, Kevin Kühnert -aos 28 anos, uma estrela ascendente da social-democracia.

Alemães votaram nas eleições em setembro, mas nenhum partido chegou sozinho à maioria necessária para governar. Os conservadores cristãos tiveram 32,9% dos votos. O SPD recebeu 20,5%.

As duas forças governavam na chamada "grande coalizão", mas o SPD inicialmente decidiu voltar à oposição para se recuperar de um resultado historicamente ruim.

Crédito: Oliver Dietze - 24.nov.2017/dpa/AP Kevin Kühnert em encontro da ala jovem do SPD em Saarbrücken, na Alemanha
Kevin Kühnert em encontro da ala jovem do SPD em Saarbrücken, na Alemanha

Com o fracasso de Merkel em formar outras alianças, o SPD voltou à mesa de negociações e aceitou no último dia 12 um pré-acordo. É esse entendimento que os líderes social-democratas votam neste domingo em Bonn.

Caso o partido recuse a parceria com Merkel, a chanceler terá apenas duas opções diante de si: governar em minoria, negociando o apoio de partidos menores a cada passo que der no Parlamento, ou aceitar novas eleições.

A perspectiva de um novo pleito assusta tanto CDU quanto SPD, pois potencialmente fomentaria o crescimento da AfD (Alternativa para a Alemanha), de direita ultranacionalista, que recebeu 12,6% dos votos em setembro.

"Mas não podemos ter medo dos populistas", diz à Folha Delara Burkhardt, 25, vice-presidente da ala jovem do SPD. "Não devemos tomar decisões em relação a como a AfD vai ser impactada, nem ter medo de realizar novas eleições. Temos que fazer uma política de longo prazo."

Os jovens do Juso representam 70 mil dos 500 mil membros do SPD. Na conferência de Bonn, eles serão entre 80 e 90 delegados no total de 600.

Burkhardt diz que, mesmo contrária à coalizão, ela esperou as negociações entre CDU e SPD antes de se manifestar. "Mas o texto do pré-acordo não me convenceu. Há diversos pontos que ferem os nossos valores como sociais-democratas", afirma. Por exemplo, a política em relação aos refugiados.

O documento apresentado pelos partidos propõe limitar em mil pessoas o número de familiares que poderão se reunir com refugiados abrigados na Alemanha. A quantidade de migrantes em busca de asilo será limitada também, chegando no máximo a 220 mil entradas por ano.

"Temos duas opções diante do nosso partido: repetir o erro e entrar em outra coalizão com a CDU ou fazer algo novo", afirma Burkhardt.

Mesmo que os delegados do SPD aprovem a coalizão, isso não significa que a Alemanha terá imediatamente um novo governo. Os partidos ainda terão de negociar ministérios e plataforma política. Analistas esperam um novo gabinete até o começo de abril.

É uma situação que preocupa o restante da Europa, que se acostumou a enxergar na Alemanha -e especialmente em Merkel- sua rosa dos ventos. Berlim é a maior economia da União Europeia e tem ditado sua direção em tempos de crise institucional.

Mas a paralisia política não impede o governo de cumprir suas funções. Merkel segue no cargo com plenos poderes, situação prevista pela Constituição e sem prazo. Até que um novo gabinete seja formado, sua coalizão anterior com o SPD continua em vigor.

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