FBI interroga secretário de Justiça americano sobre Rússia

ESTELITA HASS CARAZZAI
DE WASHINGTON

Um dos auxiliares mais próximos de Donald Trump, o secretário da Justiça dos Estados Unidos, Jeff Sessions, foi interrogado pelo FBI na investigação que apura a influência russa nas eleições americanas de 2016 —em mais um movimento que aproxima o inquérito do presidente republicano.

É o primeiro membro do gabinete de Trump a depor formalmente ao FBI, na semana passada. A notícia foi dada pelo jornal "The New York Times" nesta terça (23), e confirmada pelo Departamento de Justiça americano.

O veículo também confirmou outro depoimento: James Comey, ex-diretor do FBI, que foi demitido do posto por Trump. Sua entrevista ocorreu no ano passado, e foi centrada em interações e memorandos com o presidente, segundo o jornal.

Crédito: Alex Wong - 14.nov2017/Getty Images/AFP O secretário de Justiça dos EUA, Jeff Sessions, responde a perguntas em comissão do Senado
O secretário de Justiça dos EUA, Jeff Sessions, responde a perguntas em comissão do Senado

As oitivas indicam que o procurador especial Robert Mueller, que conduz a investigação, pretende esclarecer episódios ligados a uma eventual obstrução de justiça ou abuso de poder da Casa Branca.

Os motivos da demissão de Comey, por exemplo, permanecem nebulosos. Também pesam contra o presidente suspeitas de que ele tenha forçado Sessions a permanecer à frente das investigações do FBI sobre o caso, a fim de protegê-lo. Mais recentemente, a imprensa noticiou que Trump e Sessions pressionaram um diretor do FBI para que ele deixasse o posto.

Tanto a Casa Branca quanto o secretário negam as suspeitas. Nesta terça (23), o presidente afirmou a jornalistas que não está "de modo algum" preocupado com o depoimento de Sessions, e negou que tenha exercido pressão sobre membros do FBI.

A investigação do órgão é considerada uma ameaça ao governo Trump, pelo potencial de demonstrar crimes como conspiração, obstrução de justiça e abuso de poder –o que pode servir de base para um pedido de impeachment. O FBI apura se houve influência de agentes russos nas eleições americanas de 2016, e se a campanha do republicano se beneficiou de informações repassadas pelo país estrangeiro para vencer a votação.

Por enquanto, apesar de antigos integrantes da campanha trumpista terem sido indiciados por crimes correlatos, como lavagem de dinheiro, ou terem admitido mentir sobre contatos com russos, não houve conclusões que incriminassem o presidente. Trump nega que tenha feito conluio com o país.

O QUE SE SABE

Sessions foi questionado durante horas pelo procurador Mueller. Não se sabe o que ele afirmou durante o interrogatório ao FBI, que está sob sigilo. A investigação continua em andamento.

Por sua posição de comando na Justiça americana e pela proximidade com Trump, Sessions pode trazer à tona informações sobre os bastidores da investigação e as reações da Casa Branca.

Um dos membros mais ativos na eleição de Trump, Sessions já admitira ao Congresso que ouviu sugestões de integrantes da campanha sobre contatos com os russos.

Até agora, Sessions admitiu publicamente que o assessor George Papadopoulos, que trabalhou com Trump na campanha, sugeriu um encontro entre o então candidato e o presidente Vladimir Putin.

O secretário, porém, disse que "encerrou" o assunto. "Eu deixei claro que ninguém estava autorizado a representar a campanha diante do governo russo, ou de qualquer outro governo estrangeiro, para qualquer tema", afirmou, durante depoimento ao Congresso em novembro passado.

Papadopoulos foi um dos ex-assessores de Trump que se declarou culpado ao FBI, por ter dado falso testemunho sobre seu contato com russos. O mesmo fez o ex-assessor de Segurança Nacional Michael Flynn, que chegou a integrar o governo Trump.

O FBI também já indiciou o ex-diretor de campanha de Trump, Paul Manafort, por lavagem de dinheiro e fraude tributária em serviços prestados ao ex-presidente da Ucrânia Viktor Yanukovitch. Seus vínculos com os russos ainda estão sob investigação.

Sessions, 71, assumiu a pasta da Justiça no início do governo Trump. Antes, foi senador republicano pelo Alabama, Estado em que também ocupou o cargo de Procurador-Geral de Justiça.

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