Fórum Econômico Mundial recebe Donald Trump com 'cabeça aberta'

Crédito: Carlos Barria/Reuters O presidente Donald Trump circula com guarda-costas nos corredores do Fórum Econômico Mundial
O presidente Donald Trump circula com guarda-costas nos corredores do Fórum Econômico Mundial

MARIA CRISTINA FRIAS
LUCIANA COELHO
ENVIADAS ESPECIAIS A DAVOS (SUÍÇA)

A vinda do presidente americano, Donald Trump, tirou o Fórum Econômico Mundial, em Davos, da rotina, criou ansiedade pelo discurso que ele proferirá nesta sexta-feira (26) e, sobretudo, dividiu opiniões entre os participantes do encontro anual.

"Acho que quem vai vir é um Trump mais moderado, não o Trump tuiteiro", afirmou à Folha um alto executivo de um grande fundo de investimento dos EUA.

"Na viagem à China [em novembro do ano passado], muita gente ficou preocupada, achou que ele fosse dizer uma besteira, e no fim ele se mostrou muito moderado."

Para o presidente de uma entidade multilateral, por sua vez, "Trump não se modera". Um segundo chefe de organismo internacional avalia que o americano ainda tem um entendimento rudimentar das negociações globais, mas que, paradoxalmente, joga conforme suas regras, apesar dos ímpetos retóricos.

"Repare que a expectativa que tinham em janeiro de 2017, quando ele assumiu, era uma. Hoje é outra. Muita coisa ele falou para a base eleitoral dele, mas, ao menos na economia, não fez nada que fugisse das regras", afirmou.

Um membro do governo brasileiro, porém, aponta que o americano continua sendo imprevisível, o que torna difícil avaliar o que ele pode dizer no discurso desta sexta, às 14h (11h em Brasília).

Não se descartam improvisos diante da plateia não só de executivos e empresários mas também de governantes, políticos, acadêmicos, diretores de agências internacionais e empreendedores sociais, alguns dos quais temiam que o presidente "envergonhasse os EUA", como disseram acadêmicos e empreendedores do Vale do Silício.

COMÉRCIO GLOBAL

Se depender do otimismo exibido por membros de seu gabinete e pelo próprio presidente na chegada, Donald Trump acenará positivamente à plateia internacional e enfatizará a vontade de seu governo de participar do comércio global.

Embora planeje, segundo a Casa Branca, defender seu slogan de "America First", ou "os EUA em primeiro lugar", o americano não quer se mostrar um isolacionista e tem dado grande importância ao evento que sempre foi essencialmente europeu. "America First não significa América sozinha", disse um executivo americano.

"Não podíamos estar mais animados com a resposta das empresas nos Estados Unidos, que estão fazendo investimentos. Tivemos a oportunidade de conversar com CEOs aqui que planejam levar operações de volta aos EUA", disse um dos secretários (ministros) de Trump.

"A mensagem é: os EUA estão abertos para negócios, nós somos competitivos. Nossa segunda mensagem é: queremos mais comércio."

Trump chegou a Davos nesta quinta-feira (25) com seus secretários do Tesouro, Steven Mnuchin, do Comércio, Wilbur Ross, de Estado, Rex Tillerson, e o chefe do USTr, o departamento americano que lida com comércio exterior, Robert Lighthizer.

Os EUA têm neste ano mais de 300 participantes no Fórum Econômico Mundial.

Sua entrada no centro de convenções, por volta de 14h40 (11h40 em Brasília), parou os corredores normalmente fervilhantes. Dezenas de pessoas se apinharam no saguão principal para ver e fotografar o segundo presidente dos EUA a participar do Fórum (o primeiro foi Bill Clinton, em 2000).

Passagens foram bloqueadas. Guardas e assessores examinavam credenciais que jamais são rechecadas após o participante passar pela segurança reforçada na entrada do prédio para selecionar quem podia passar.

"Estamos muito felizes por estar aqui", disse Trump ao chegar. E sobre a mensagem que promete passar: "Paz e prosperidade".

A agenda de Trump na quinta incluiu um encontro com a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, e uma bilateral com o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu.

Na sexta, ele se reúne com o presidente de Ruanda, Paul Kagame, que lidera a União Africana, duas semanas após ter se referido a nações da África e ao Haiti como "países de merda", segundo participantes de uma reunião de trabalho —o presidente negou ter usado o termo.

IMPOSTOS

Uma das coisas que aumentaram as expectativas para ouvir Trump foi a aprovação de seu pacote tributário, que reduzirá alíquotas no curto prazo, para estimular o investimento e o consumo.

O corte de impostos, um dos maiores dos últimos 30 anos, animou empresários e foi elogiado em muitos dos discursos e das conversas no encontro anual. O Fundo Monetário Internacional (FMI) citou o pacote como principal propulsor da melhora na economia global.

Ricardo Melendez Ortiz, CEO do Centro Internacional para Comércio e Desenvolvimento Sustentável, disse à Folha logo após se reunir com Lighthizer (comércio exterior), que o público do fórum passou a olhar Donald Trump com "a cabeça mais aberta".

"Há um ano, havia medo e incerteza. Hoje até há incerteza, mas o medo se foi. Começamos a entendê-lo, e ele tem jogado conforme as regras. Eles [os EUA sob Trump] querem mais comércio. Só questionam se as ferramentas que temos hoje continuam adequadas."

Otimista, o diplomata colombiano afirma que, na expectativa de se mostrar um parceiro confiável aos tomadores de decisões reunidos em Davos, o americano pode oferecer um gesto de boa vontade —por exemplo, um recuo na decisão de abandonar o Acordo de Paris sobre o Clima, tomada em junho.

Observadores mais céticos, porém, acham pouco provável que Trump deixe de lado uma promessa eleitoral.

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