Trump defende em Davos mudança de regras internacionais

Crédito: Denis Balibouse/Reuters Donald Trump com músicos de uma fanfarra no palco antes de seu discurso em Davos
Donald Trump com músicos de uma fanfarra no palco antes de seu discurso em Davos

MARIA CRISTINA FRIAS
LUCIANA COELHO
ENVIADAS ESPECIAIS A DAVOS (SUÍÇA)

Precedido por uma fanfarra no palco, Donald Trump vendeu à plateia do Fórum Econômico Mundial em Davos os atrativos dos EUA para os negócios, pregou seu respeito ao multilateralismo —desde que as regras sejam revistas— e exortou líderes de outros países a defenderem os interesses de seus países em primeiro lugar, assim como ele faz com os EUA.

Trump também mostrou disposição dos EUA em negociar com os países da Parceria Transpacífico, acordo comercial fechado por Barack Obama que ele rompeu nos primeiros dias de governo. "São países importantes. Podemos negociar bilateralmente ou em grupo, mas temos que rever as regras", disse diante da plateia de 1.500 assentos, lotada.

Foram dez as menções do presidente a pedidos para que empresários investissem nos Estados Unidos.

O presidente americano também voltou a criticar a imprensa, ao ser indagado pelo fundador do Fórum, Klaus Schwab, sobre qual de suas experiências anteriores o preparou melhor para a Casa Branca, Trump respondeu que foi a dos negócios —"sou muito bom em fazer dinheiro"— e, em seguida, lamentou não ser mais bem tratado pela imprensa como era antes.

"Como homem de negócios eu sempre fui bem tratado pela imprensa. Até eu ser eleito presidente e ver quão ruim, ambiciosa e 'fake' a impressa é", afirmou. Houve uma surpresa na plateia, com um arremedo de vaia que não chegou a se concretizar.

Trump se mostrou muito à vontade no palco e arrancou risos do público em diversos momentos, quebrando rapidamente a tensão da expectativa mesmo nos momentos em que suas frases eram críticas de práticas em vigor no sistema internacional.

Esta é a segunda vez que um presidente dos EUA vem ao encontro anual do Fórum Econômico Mundial (a primeira vez foi com o democrata Bill Clinton, em 2000), e a expectativa para o discurso de Trump, no último dos quatro dias de evento, era imensa.

Empresários, executivos, acadêmicos e integrantes de governos estavam ansiosos para ver se o Trump que discursaria acenaria ao mundo, mostrando seu lado "globalista", ou voltaria à carga com a retórica nacionalista que marcou seu primeiro ano de governo.

A fala, que durou 15 minutos e foi bastante aplaudida, ficou no meio do caminho. Ao mesmo tempo em que pediu que os países compartilhassem interesses e cooperassem uns com os outros, sublinhou que isso deveria ser feito sempre em obediência às regras internacionais, em uma menção velada mas óbvia à China.

"Apoiamos o livre-comércio, mas ele tem que ser justo e recíproco. Os EUA não vão mais fechar os olhos para práticas como roubo de propriedade intelectual, subsídios e dumping. Essas práticas estão causando estragos", afirmou.

"Assim como espero que os presidentes de outros países protejam seus interesses, eu protegerei os interesses das empresas e trabalhadores americanos."

Trump também pediu cooperação internacional em segurança, agradecendo aos países que se uniram aos EUA na Guerra do Afeganistão, mas mandou um recado claro aos governos de Alemanha, Japão e Coreia do Sul: "Não pode haver prosperidade sem segurança. Por isso pedimos a nossos parceiros que invistam em sua própria segurança e paguem o que lhes cabe".

Não houve boicote ao discurso por convidados africanos nem protesto ao longo do pronunciamento. Na plateia, porém, alguns vestiam camisetas que diziam "não é meu presidente" ou "eu apoio o Haiti", país cujos imigrantes nos EUA tiveram a autorização de residência suspensa e que foi chamado de "merda" em reunião por Trump, segundo interlocutores (ele nega o uso da palavra).

Uma das que usavam camiseta com os dizeres "não é meu presidente" era Anya Schiffrin, professora de relações internacionais da Universidade Columbia, em Nova York, e mulher do economista Joseph Stiglitz. "Trump é ridículo. Pus essa camiseta porque aqui eu posso usar, se fosse em um comício dele nos EUA eu poderia até apanhar", disse ela à Folha.

Schiffrin, que está em sua 13ª participação em Davos, disse que não acredita em nenhum aceno ao multilateralismo que Trump tenha feito. "Deixa só ele acordar para ir ao banheiro às 5h e tuitar alguma coisa."

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