THAIS BILENKY
ENVIADA ESPECIAL A BOA VISTA (RR)

No início de janeiro, a bicicleta de um integrante do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima sumiu enquanto ele fazia compras em uma farmácia, em Boa Vista. Dias depois, ele a reencontrou no abrigo para venezuelanos supervisiona.

Instalado em um ginásio no bairro Tancredo Neves, na periferia da capital, o local é palco permanente de conflitos, envolvendo às vezes apenas imigrantes, às vezes também brasileiros.

O aumento do fluxo migratório de venezuelanos para Roraima gerou recrudescimento em problemas de segurança pública, inclusive o crime organizado, segundo o governo estadual.

Dados oficiais apontam que 33 dos 2.758 presos em Roraima são venezuelanos. Cinco deles estariam ligados a facções criminosas.

Há algumas semanas, o comando do Corpo de Bombeiros Militar flagrou em um dos abrigos uma pichação com a inscrição PCC (Primeiro Comando da Capital), imediatamente apagada.

O governo disse acompanhar "as possibilidades de envolvimento, por meio de monitoramento dos presos". A sensação da população, porém, é de insegurança.

PRECARIEDADE

Dos estimados 40 mil venezuelanos em Boa Vista, 495 residem no abrigo de Tancredo Neves. Estão, em geral, entre os imigrantes mais desassistidos.

No ginásio, a situação é precária, com barracas servindo de dormitório, refeitório e banheiro. Há poças de água e sujeira no chão.

Segundo os bombeiros militares, são constantes os conflitos, agravados pelo uso de drogas por alguns, além de doenças e fome. Sem controle de entrada e saída dos abrigados, problemas motivam reclamação dos moradores da vizinhança. A prostituição, que já ocorria, intensificou-se.

"A associação do bairro reclama dessa gestão, com razão", admite Doriedson Ribeiro, comandante geral do Corpo de Bombeiros Militar. "Quando fecharmos os portões, faremos um pente-fino e ficarão apenas os mais vulneráveis, crianças, idosos."

Em resposta à crise, estabeleceu-se uma queda de braço entre União, Estado e município. O governo de Roraima reclama de atuar sozinho. A prefeitura cobra ação da União, que diz colaborar com as outras esferas.

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