Descrição de chapéu terrorismo

Ataques em Cabul põem estratégia dos EUA no Afeganistão em xeque

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Crédito: Noorullah Shizada - 25.jan.2018/AFP Soldados fazem segurança do prédio da ONG Save the Children em Cabul, alvo de ataque no dia 25
Soldados fazem segurança do prédio da ONG Save the Children em Cabul, alvo de ataque no dia 25

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

Extremistas atacaram uma academia militar em Cabul, capital do Afeganistão, nesta segunda-feira (29), matando 11 soldados. Trata-se do quarto atentado no país em apenas nove dias, com um saldo de mais de 140 mortos.

Cinco atiradores, armados com fuzis, lançadores de granadas e coletes cheios de explosivos, investiram contra um posto avançado próximo da academia pouco antes do amanhecer. O Estado Islâmico reivindicou a autoria.

O ataque aconteceu apenas dois dias depois de uma ambulância cheia de explosivos ser detonada no centro de Cabul e matar mais de 100 pessoas, e uma semana após militantes invadirem o Hotel Intercontinental na capital afegã e massacrarem 20 pessoas. O Taleban assumiu a responsabilidade por esses dois outros ataques.

Um porta-voz da coalizão liderada pelos EUA no Afeganistão afirmou nesta segunda estar certo de que a rede Haqqani preparou a ambulância-bomba. Washington acusa o Paquistão de dar guarida à rede, que tem elos com o Taleban.

ESTRATÉGIA

O recrudescimento da violência no Afeganistão coloca em xeque a nova estratégia americana para a região.

Os EUA enviaram mais soldados e intensificaram seus ataques aéreos no país. Em 2017, lançou 4.000 bombas sobre o território, onde há um contingente de 14 mil soldados e agentes americanos.

Além disso, o presidente Donald Trump cortou US$ 2 bilhões em ajuda financeira ao Paquistão, até que o governo cumpra a promessa de atacar os esconderijos dos insurgentes no país.

O governo afegão e autoridades americanas acusam Islamabad de patrocinar extremistas. Mas autoridades afegãs acreditam que os ataques sejam uma resposta do Paquistão à pressão americana. O governo desse país nega.

Os EUA apostavam que o endurecimento da ofensiva em solo afegão enfraqueceria os insurgentes e os forçaria a negociar.

A embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, havia dito que a tática estava funcionando e os insurgentes se ensaiavam concordar com negociações.

O presidente afegão, Ashraf Ghani, vinha afirmando que a estratégia militar agressiva havia conseguido "expulsar" os insurgentes do Taleban das capitais das províncias. Acuados em suas localidades de origem, os militantes passaram a atacar Cabul.

A milícia afirmou no sábado (27) que o atentado com mais de 100 mortes era uma mensagem endereçada aos americanos.

RECADO AOS EUA

O Taleban "tem um recado claro para Trump e para aqueles que beijam sua mão. Se vocês continuarem com essa política de agressão militar, não esperem que os afegãos respondam plantando flores", disse o porta-voz, Zabihullah Mujahid.

Não há sinais de que o aumento na violência vá levar a uma reformulação do plano de Washington para a região.

"Nós não queremos falar com o Taleban. Nós vamos terminar o que precisamos terminar, e o que ninguém até hoje conseguiu fazer, nós vamos fazer", disse Trump nesta segunda-feira.

A instabilidade política no país é outro obstáculo. Ghani é alvo de revolta da população que, frustrada com as divisões políticas, exige que ele se concentre na segurança do país.

Os EUA invadiram o Afeganistão em 2001 para derrubar o Taleban. Mas três presidentes americanos não conseguiram estabilizar o país, nem trazer de volta os soldados dos EUA.

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