Funcionário que fez alerta de míssil no Havaí acreditou que o ataque era real

Crédito: Reprodução Pelo canal de notícias YTN, da Coreia do Sul, lançamento de míssil pela Coreia do Norte
Pelo canal de notícias YTN, da Coreia do Sul, lançamento de míssil pela Coreia do Norte

IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO

A pessoa do governo do Havaí que disparou um alerta de que um míssil nuclear se encontrava a caminho do Estado não cometeu um engano: ela realmente achou que uma guerra estava começando.

A revelação foi feita nesta terça (30) pela FCC (Comissão Federação de Comunicação, na sigla inglesa), o xerife das telecomunicações dos Estados Unidos.

O incidente ocorreu na manhã dia 13 de janeiro, quando as mensagens de emergência de celulares no Estado começaram a piscar o texto: "Ameaça de míssil balístico rumo ao Havaí. Procure abrigo imediatamente. Isso não é um treinamento". Logo depois, as TVs transmitiram instruções de proteção à população.

O desmentido inicial começou a circular 38 minutos depois, quando um eventual foguete já teria atingido o arquipélago —que fica a aproximadamente 15 minutos de distância de um projétil disparado da Coreia do Norte ou, muito mais improvável no contexto atual, da China ou da Rússia.

O ditador norte-coreano, Kim Jong-un, passou 2017 em uma troca de insultos com o presidente Donald Trump, e testou um número inédito de mísseis balísticos intercontinentais, além de uma bomba nuclear.

O governo havaiano disse que um empregado, ou empregada, "havia apertado o botão errado", como se houvesse ocorrido um acidente. Agora, a revelação que levou pânico ao Estado vai suscitar um debate bem mais amplo sobre os procedimentos e salvaguardas nos sistemas de alerta de ataques contra os EUA.

Segundo a investigação da FCC, a pessoa não identificada que enviou as mensagens de emergência optou, num simples menu que inclui simulações e situações reais, a opção "Você tem certeza que quer enviar esse alerta?". Nos EUA, cada Estado tem um sistema diferente de alerta de emergência.

Ela confundiu uma simulação programada no sistema pela equipe do turno anterior com um ataque verdadeiro e divulgou o alerta, segundo depoimento por escrito à FCC.

A situação remonta aos casos clássicos da Guerra Fria, quando um confronto termonuclear esteve a minutos de ocorrer devido a falhas técnicas dos mais diversos tipos.

O episódio mais famoso envolveu em 1983 o soviético Stanislav Petrov, morto no ano passado. Com os satélites de Moscou confundindo reflexos em nuvens de alta altitude com rastros de mísseis, ele achou a pequena quantidade de registros de lançamento suspeitas para a eventualidade de uma guerra nuclear: os EUA lançariam centenas de foguetes se fossem atacar, e não só cinco. Assim, não alertou superiores e evitou o pior, sem ter exatamente certeza de que havia procedido corretamente.

Houve vários outros incidentes de lado a lado. Em 1979, um operador do centro de defesa aeroespacial americano inseriu no computador por engano uma fita magnética com a simulação de que a União Soviética lançara um ataque maciço aos EUA.

O lendário assessor de segurança nacional Zbigniew Brzezinski foi acordado às 3h por um oficial o informando do fato, e ele tinha aproximadamente três minutos para avisar o presidente Jimmy Carter —o único com autoridade para ordenar o contra-ataque. O erro foi reportado ao assessor segundos antes de ele fazer a ligação.

O caso havaiano não implicou risco dessa ordem, já que tratava-se de uma operação de defesa civil. Assim, não se tem notícia de nenhum militar discutindo o contra-ataque a Pyongyang no episódio. Mas, como lembraram deputados americanos nesta terça, de todo modo é um mistério que ninguém tenha se machucado, ou infartado, durante os vários minutos de pânico no Estado.

Com agências de notícias

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