ESTELITA HASS CARAZZAI
DE WASHINGTON

Em seu primeiro Discurso sobre o Estado da União, tradicional prestação de contas do presidente dos EUA ao Congresso, Donald Trump pediu na noite desta terça (30) a união do país e declarou estar "estendendo a mão aberta" para construir um acordo sobre imigração com os dois partidos majoritários.

Ao mesmo tempo, o republicano defendeu a segurança nacional e levou ao plenário os pais de duas adolescentes mortas por gangues de imigrantes, dizendo que é preciso proteger a fronteira e "manter as nossas comunidades seguras".

"Todos nós, juntos, como um time, um povo e uma família americana, podemos fazer qualquer coisa", afirmou Trump, para em seguida declarar: "O meu dever sagrado é defender americanos e proteger sua segurança. Porque americanos são sonhadores também".

A montanha-russa do pronunciamento se refletiu nas reações da plateia. Apesar de majoritariamente formada por defensores do presidente, que aplaudiam de pé suas declarações, houve constrangimento e até vaias em alguns trechos —em especial, quando Trump defendeu o fim da concessão de residência a familiares de imigrantes.

A fala ocorre no momento em que o Congresso patina em uma das principais pautas do republicano: a mudança nas regras de imigração.

Os congressistas negociam o destino de milhares de jovens imigrantes, os "dreamers" (ou "sonhadores"), que chegaram aos EUA ainda crianças, trazidos pelos pais, e cuja permanência no país está ameaçada. A proteção a eles, bandeira dos democratas, é o "x" da questão.

Trump tem defendido uma solução permanente para o problema e chegou a sugerir a concessão de cidadania para o grupo. No discurso, o mandatário afirmou estar "estendendo a mão aberta" aos membros de ambos os partidos para trabalhar num acordo que "proteja os nossos cidadãos, de qualquer origem, cor ou credo".

"Não importa de onde você venha, esse é o seu tempo. Todos nós dividimos o mesmo lar, o mesmo coração, o mesmo destino e a mesma grande bandeira americana."

Ao mesmo tempo, o presidente criticou as "lacunas mortais" da legislação migratória e fez dezenas de comentários de apelo patriota, com menções ao hino nacional, às saudações à bandeira e às "nossas grandes Forças Armadas".

Ele voltou a exigir o financiamento do muro que quer ampliar na fronteira com o México, uma promessa de campanha —e medida que a oposição democrata diz estar "fora de cogitação".

GUANTÁNAMO

Trump foi ainda mais assertivo no tema da segurança nacional, e anunciou no discurso a reversão da ordem executiva de Barack Obama sobre o fechamento da prisão de Guantánamo.

"Terroristas devem ser tratados como os terroristas que são", afirmou. Ele assinou o decreto que determina a manutenção do presídio em Cuba minutos antes de ir ao Capitólio.

A controversa cadeia em Cuba abriga prisioneiros acusados de terrorismo e foi aberta em 2002, após o 11 de Setembro. Autoridades americanas já admitiram o uso de tortura contra os prisioneiros.

"Complacência e concessões só atraem agressão e provocação. Não repetirei os erros de administrações passadas", declarou Trump.

O republicano também fez duras críticas à Coreia do Norte e disse que não há "regime ditatorial mais cruel" do que o comandado pelo ditador Kim Jong-Um. Ainda reafirmou a continuidade da guerra contra a facção Estado Islâmico no Iraque e na Síria.

A economia foi outro ponto de destaque do pronunciamento. O republicano enalteceu a reforma tributária, sua grande conquista legislativa em 2017. "Nosso corte maciço de impostos deu um imenso alívio para classe média e pequenas empresas", afirmou ele.

Não por acaso, alguns dos convidados especiais da Casa Branca a assistir ao discurso foram pequenos empresários que ampliaram investimentos e contratações, ou que irão usar a economia para pagar a escola dos filhos.

Trump também mencionou o plano de infraestrutura a ser proposto pelo governo ainda neste ano, que prevê US$ 1,5 trilhão em investimentos em rodovias, pontes e aeroportos com o objetivo de melhorar a competitividade.
O presidente pediu os esforços do Congresso para a aprovação do plano e centrou fogo na burocracia estatal.

"Construímos o Empire State em apenas um ano Não é uma desgraça que agora se leve dez anos somente para conseguir uma licença para uma simples rodovia?"

Apesar dos apelos pela união nacional, ao menos 12 congressistas de oposição boicotaram o discurso, e muitos demonstravam evidente insatisfação com o teor do discurso.

"Eu não posso, em sã consciência, estar lá depois do que ele [Trump] disse sobre tantos americanos", afirmou o democrata John Lewis, ícone do movimento pelos direitos civis nos anos 1960.

Líderes democratas levaram jovens imigrantes às galerias do Congresso, que engrossaram as vaias a comentários mencionando a restrição de estrangeiros no país.

Por outro lado, apoiadores do presidente fizeram um coro de "USA! USA!" ao final do discurso no plenário —demonstrando que o consenso no país ainda é mais retórico do que concreto.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.