Confiança nas instituições dos EUA declinou, diz editor

Martin Baron, do 'Washington Post', diz que Trump não é o 1º a desafiar imprensa

Daniel Buarque
Oxford

Em meio a uma guerra declarada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra a imprensa do país, todas as instituições estão perdendo em termos de credibilidade, segundo o editor-executivo do jornal "Washington Post", Martin Baron.

Durante um debate sobre a situação política e midiática dos EUA, em Oxford, no Reino Unido, Baron indicou que o jornalismo está atuando fortemente e tem perspectiva de sobreviver às pressões do atual governo, mas que precisa convencer o público de que está em busca da verdade.

"Há um declínio na confiança em muitas instituições nos EUA, não só na imprensa. O Congresso está mal, a confiança na Presidência está caindo, muitas empresas estão sendo mal avaliadas. Com exceção das Forças Armadas, há uma erosão de confiança em todas as instituições americanas", disse Baron.

O editor Martin Baron, do "Washington Post", durante palestra em evento da Abraji em São Paulo
O editor Martin Baron, do "Washington Post", durante palestra em evento da Abraji em São Paulo - Zanone Fraissat - 1º.jul.2017/Folhapress

Convidado para discursar sobre "quando um presidente declara guerra à imprensa", Baron fez uma apresentação sobre o fato de que o mundo atual mudou muitas das regras do jornalismo.

Para Baron, ao chamar a imprensa de "inimiga do povo americano" e ameaçar uma luta jurídica contra os jornalistas, Trump criou um novo contexto para o jornalismo americano.

Esta nova situação, disse, reforçou a missão dos jornais sérios, mas também abriu espaço para notícias falsas e para uma realidade em que as pessoas acham que têm direito a seus próprios fatos.

Segundo Baron, "esta não é a primeira vez em que políticos desafiam a imprensa". "Este é um processo lento, mas que é possível de ser vencido, como já foi no passado. Durante as revelações sobre o Watergate, a imprensa era criticada por ser tendenciosa. Só quando foram comprovadas as denúncias é que as pessoas entenderam que a imprensa havia agido corretamente."

Além da pressão política sofrida pela imprensa americana, a ex-chefe de notícias do Twitter Vivian  Schiller criticou o impacto das redes sociais sobre o jornalismo e a divulgação de notícias falsas.

Segundo ela, o Facebook se tornou a principal fonte de informação das pessoas, que não conseguem mais diferenciar o que é verdade do que é mentira. "Os jovens não lembram qual é a fonte da informação que veem nas redes sociais. O efeito dessas plataformas é tornar todos os veículos iguais, sem capacidade de dizer o que é verdade ou não."

Apesar do tom crítico, Schiller disse achar que há espaço para todo tipo de informação na internet.

"É empolgante ver que a imprensa está ganhando força apesar das críticas. Há interesse em mostrar o que é mentira na política atual."

Baron minimizou o impacto das redes sociais e da luta por cliques na internet para empresas que fazem jornalismo sério. Segundo ele, o "Post" se tornou uma empresa lucrativa com um modelo de negócios que aposta nos assinantes, não no número de visualizações de cada texto.

Questionado sobre a influência de Jeff Bezos, dono da Amazon e do "Washington Post" --descrito como fada madrinha por Alan Rusbridger, ex-editor-chefe do "Guardian", que mediou o debate--, Baron negou que ele interfira no conteúdo do jornal. "Ele não é um filantropo, e fico feliz de ele não nos tratar como uma caridade. Ele entende nosso modelo de negócios, que depende de credibilidade", disse.

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