Em meio a uma guerra declarada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra a imprensa do país, todas as instituições estão perdendo em termos de credibilidade, segundo o editor-executivo do jornal "Washington Post", Martin Baron.
Durante um debate sobre a situação política e midiática dos EUA, em Oxford, no Reino Unido, Baron indicou que o jornalismo está atuando fortemente e tem perspectiva de sobreviver às pressões do atual governo, mas que precisa convencer o público de que está em busca da verdade.
"Há um declínio na confiança em muitas instituições nos EUA, não só na imprensa. O Congresso está mal, a confiança na Presidência está caindo, muitas empresas estão sendo mal avaliadas. Com exceção das Forças Armadas, há uma erosão de confiança em todas as instituições americanas", disse Baron.
Convidado para discursar sobre "quando um presidente declara guerra à imprensa", Baron fez uma apresentação sobre o fato de que o mundo atual mudou muitas das regras do jornalismo.
Para Baron, ao chamar a imprensa de "inimiga do povo americano" e ameaçar uma luta jurídica contra os jornalistas, Trump criou um novo contexto para o jornalismo americano.
Esta nova situação, disse, reforçou a missão dos jornais sérios, mas também abriu espaço para notícias falsas e para uma realidade em que as pessoas acham que têm direito a seus próprios fatos.
Segundo Baron, "esta não é a primeira vez em que políticos desafiam a imprensa". "Este é um processo lento, mas que é possível de ser vencido, como já foi no passado. Durante as revelações sobre o Watergate, a imprensa era criticada por ser tendenciosa. Só quando foram comprovadas as denúncias é que as pessoas entenderam que a imprensa havia agido corretamente."
Além da pressão política sofrida pela imprensa americana, a ex-chefe de notícias do Twitter Vivian Schiller criticou o impacto das redes sociais sobre o jornalismo e a divulgação de notícias falsas.
Segundo ela, o Facebook se tornou a principal fonte de informação das pessoas, que não conseguem mais diferenciar o que é verdade do que é mentira. "Os jovens não lembram qual é a fonte da informação que veem nas redes sociais. O efeito dessas plataformas é tornar todos os veículos iguais, sem capacidade de dizer o que é verdade ou não."
Apesar do tom crítico, Schiller disse achar que há espaço para todo tipo de informação na internet.
"É empolgante ver que a imprensa está ganhando força apesar das críticas. Há interesse em mostrar o que é mentira na política atual."
Baron minimizou o impacto das redes sociais e da luta por cliques na internet para empresas que fazem jornalismo sério. Segundo ele, o "Post" se tornou uma empresa lucrativa com um modelo de negócios que aposta nos assinantes, não no número de visualizações de cada texto.
Questionado sobre a influência de Jeff Bezos, dono da Amazon e do "Washington Post" --descrito como fada madrinha por Alan Rusbridger, ex-editor-chefe do "Guardian", que mediou o debate--, Baron negou que ele interfira no conteúdo do jornal. "Ele não é um filantropo, e fico feliz de ele não nos tratar como uma caridade. Ele entende nosso modelo de negócios, que depende de credibilidade", disse.
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