Descrição de chapéu refugiados

Família foge da Venezuela e vira alvo de ataque com fogo no Brasil

Falta de trabalho e de comida fez família de Yaditza  Aristimuño deixar o país

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André Coelho
Boa Vista (RR)

RESUMO  A família de Yaditza Aristimuño, imigrante venezuelana de 24 anos, foi vítima de ataque com fogo em Boa Vista (RR). O guianense Gordon Fowler foi preso sob suspeita de ter ateado fogo à casa abandonada onde vivem 14 imigrantes venezuelanos.

O fogo atingiu a filha de Yaditza, Adeliannys, de três anos, que teve 25% do corpo queimado e está internada no hospital, e o marido dela, Adelson Sanchez, 24, que recebeu alta neste domingo (18). Já ela sofreu queimaduras na perna.

Yaditza e Adelson limparam o quarto onde ocorreu o incêndio. Eles continuam morando na mesma casa, só que em outro cômodo.

Neste domingo, o dono do imóvel, invadido, foi até o local e declarou que os venezuelanos podem continuar vivendo lá, desde que ajudem a cuidar da casa.

 A imigrante venezuelana Yaditza Aristimuño, de 24 anos, com o marido Adelson Sanchez, 24 anos e o filho caçula Yohandelso, de 1 ano e 7 meses
A imigrante venezuelana Yaditza Aristimuño, de 24 anos, com o marido Adelson Sanchez, 24 anos e o filho caçula Yohandelso, de 1 ano e 7 meses - André Coelho/Folhapress
 

DEPOIMENTO DE YADITZA ARISTIMUÑO

Estou no Brasil há pouco mais de um mês. Eu deixei a Venezuela com o meu marido e os meus dois filhos pequenos porque não havia mais trabalho, e estávamos enfrentando muitas dificuldades, inclusive com a falta de comida por diversas vezes.

Meu marido era padeiro em Cariaco, no Estado de Sucre, e eu fazia trabalhos temporários em casas de família, limpeza urbana e outras coisas, que ajudavam a comprar pelo menos o que comer para a nossa família.

Mas, depois, o meu marido perdeu o emprego e não havia mais trabalho na nossa cidade. Foi quando decidimos vir para o Brasil, assim como muitos amigos.

Vendemos o resto das coisas que tínhamos e, com o dinheiro, chegamos a Pacaraima, de onde pegamos um ônibus para Boa Vista.

Eu estava confiante com as notícias que ouvia de outros venezuelanos, de que nós poderíamos conseguir trabalho aqui no Brasil. Eu sempre conseguia comida e leite para os meus filhos, mas, exatamente um mês depois que nós chegamos, sofremos o ataque.

Eu não me lembro muito bem de nada porque era noite e estava escuro.

Acordei com o fogo pelo quarto e os gritos de meu marido [Adelson, 24] e de minha filha [Adelyannis, de três anos], que estavam com as roupas pegando fogo.

Quando percebi, eles já estavam em chamas. As outras pessoas com quem moramos vieram nos socorrer, mas o quarto todo já estava em chamas. Saímos correndo desesperados pela rua e um vizinho, também venezuelano, nos alcançou e levou meu marido e minha filha de bicicleta para o hospital.

Hoje estou traumatizada, não durmo em quartos com janelas, deixo sempre a luz acesa e tenho medo de andar na rua e ser atacada de novo.

Minha filha ainda está no hospital e meu sogro fica com ela para que eu cuide do meu filho menor e tente ganhar algum dinheiro vendendo bananas fritas nos semáforos.

 

O meu marido [que recebeu alta do hospital neste domingo, 18] não vai conseguir procurar emprego porque suas pernas ficaram muito queimadas.

Dias atrás, enquanto visitava meu marido no hospital, recebemos a visita de uma representante da Embaixada da Venezuela, que nos disse que receberíamos uma casa na Venezuela, entregue pelo próprio presidente Maduro.

Eu disse a ela que não queríamos a casa. De que adiantava ela nos dar a casa e não termos o que comer?

Quero trabalho, mas sei que não há na Venezuela.

Eu recebo muitas doações de brasileiros a quem agradeço muito, mas não quero viver de doações. Quero uma vida digna.

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