FBI recebeu duas denúncias sobre autor de massacre na Flórida 

Nikolas Cruz escreveu em um site que seria um 'atirador de escola profissional'

São Paulo, Washington e Parkland (EUA) | Reuters e Associated Press

Em setembro de 2017, o caçador de recompensas Ben Bennight viu um comentário em um vídeo seu no YouTube que o deixou assustado e decidiu avisar o FBI da ameaça. "Eu serei um atirador de escola profissional" dizia o texto, assinado por alguém identificado como "Nikolas Cruz". 

​O caso chamou a atenção porque o nome do autor do comentário é o mesmo do adolescente que confessou ter matado 17 pessoas na quarta-feira (14) em um ataque a um colégio em Parkland, na Flórida.

Nikolas Cruz, 19, disse a polícia na quinta (15) que chegou no colégio Marjory Stoneman Douglas de Uber e que logo depois "começou a atirar nos estudantes que estavam no corredor e no terreno da escola".

A revelação da denúncia fez a polícia federal americana ser questionada sobre como lidou com o caso.  

Em janeiro, o FBI recebeu uma segunda denúncia contra Cruz, de uma pessoa próxima a ele, dizendo que o jovem possuía uma arma e poderia realizar um ataque em uma escola. 

O denunciante afirmou que Cruz tinha o desejo de matar pessoas e apresentava comportamento errático e posts de mídia social perturbadores. 

Em nota nesta sexta, a agência admitiu que deveria ter avaliado melhor a informação e a passado a um escritório de campo. 

"Determinamos que esses protocolos não foram seguidos para a informação seguida", disse o FBI. "A informação não foi dada ao escritório de Miami e nenhuma outra investigação foi conduzida naquele momento." 

Bennight disse que dois dias após fazer a denúncia, em 24 de setembro, dois agentes federais foram a seu escritório no Estado do Mississipi para saber se havia mais informações sobre o autor dos comentários —ele disse que não sabia de mais nada. 

"Nenhuma outra informação estava incluída com este comentário que poderia indicar uma localização temporal ou a verdadeira identidade da pessoa que o fez", disse o agente especial Robert Lasky, que comanda o escritório do FBI em Miami. 

Segundo ele, o FBI não conseguiu identificar quem era a pessoa por trás da declaração e, por isso, não pode confirmar se o Nikolas Cruz do comentário é o mesmo que efetuou os disparos na Flórida.

Por ano, a agência recebe dezenas de milhares de dicas. Cabe aos agentes analisarem quais devem ser deixadas de lado e quais de fato representam perigo. Atualmente, há cerca de 10 mil investigações em andamento sobre possíveis ameaças. Por isso, boa parte das denúncias acaba sendo arquivada em no máximo algumas semanas. 

Lasky revelou que após a visita a Bennight, os agentes encarregados de apurar a denúncia procuraram o nome em questão em bases de dados públicas e na internet, mas como nada de procupante foi encontrado, o caso foi deixado de lado. O FBI não avisou a polícia da Flórida sobre o comentário online.

O método é considerado o primeiro estágio de uma investigação da agência, usado nos casos mais básicos. 

Se os agentes tivessem confirmado que o autor dos comentários era o estudante da Flórida, teriam encontrado diversas imagens de armas e munições em suas contas nas redes sociais, o que possivelmente o teria levado a um interrogatório.

"Eles [o FBI] nos devem mais detalhes sobre o que fizeram", afirmou o ex-diretor-assistente do FBI Ron Hosko à agência de notícias Associated Press. 

Para ele, porém, não está claro ainda se os agentes federais erraram na condução do caso. "Quantas denúncias assim o FBI deve averiguar antes de se transformar no Birô Federal de Reclamações?" pergunta ele. "Eles podem gastar toda a sua força de trabalho caçando comentários na intenet que não vão a lugar nenhum". 

"Com tudo que o FBI recebe, eles devem sempre agir com o que está na frente deles. Neste caso, havia um post aleatório sugerindo que uma pessoa queria fazer algo, não que ela estava planejando fazê-lo", completa Hosko.  

As regras do FBI tentam equilibrar a segurança nacional com os direitos civis da população. Por isso, agentes podem analisar informações públicas e fazer entrevistas inicialmente, mas técnicas mais intrusivas, como grampear telefones ou um computador, precisam de provas mais fortes de que um crime aconteceu ou vai ocorrer. 

Para o ex-agente Jeffrey Ringel Jr, uma ameaça vaga não é suficiente para a investigação avançar para o próximo nível. Segundo ele, seria necessária uma prova que corroborasse a possibilidade do ataque acontecer —como o autor declarar lealdade ao Estado Islâmico, por exemplo. 

"É uma situação difícil porque muitas vezes tem uma informação sobre um indivíduo que está querendo aparecer, se gabando", diz o agente federal aposentado Herbert  Cousins.  

Apesar disso, o FBI decidiu realizar uma extensa revisão de como lidou com a denúncia para ver se erros foram cometidos, disse uma autoridade federal à agência de notícias Reuters.

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