Fracassa diálogo entre governo e oposição na Venezuela

Pré-acordo foi alcançado para que eleição presidencial ocorresse em 22 de abril

São Paulo , Caracas e Santo Domingo | Reuters e Associated Press

O presidente da República Dominicana, Danilo Medina, anunciou nesta quarta-feira (7) que fracassou a negociação entre o regime de Nicolás Maduro e a oposição, abrindo caminho para uma eleição presidencial na Venezuela aos moldes do chavismo.

Líder da delegação da oposição venezuelana, Julio Borges, dá entrevista em Santo Domingo, na República Dominicana
Líder da delegação da oposição venezuelana, Julio Borges, dá entrevista em Santo Domingo, na República Dominicana - Erika Santelices/AFP

Com o insucesso da quarta rodada de diálogo desde 2014, a expectativa é que Caracas antecipe ainda mais a data do pleito e, como consequência, aumente a pressão dos EUA, da União Europeia e dos países latinos críticos a Maduro.

Segundo Medina, que mediou as negociações em Santo Domingo, as duas partes se desentenderam sobre pontos em que já havia consenso, como a data das eleições e a participação de partidos políticos hoje proibidos.

Ele afirma que, inicialmente, o chavismo sugeriu marcar o pleito para 8 de março, enquanto a oposição defendia sua realização em 10 de junho, para ter tempo de fazer primárias para escolher seu candidato. Ao final, acertaram como data 22 de abril, além de detalhes não divulgados da disputa.

Isso ocorreu no dia 31 de janeiro. O dominicano afirma que o chavismo entendeu que havia um acordo final, motivo pelo qual voltou a Santo Domingo na terça (6) para sua assinatura. Essa não foi a interpretação da oposição.

"Eles pediram mais tempo para uma revisão", declarou. "[O governo] não pôde ficar esperando a reunião da oposição porque tinham eventos políticos e voltaram à noite para a Venezuela."

Segundo o mediador, a oposição já havia enviado suas sugestões de alteração, não aceitas por Maduro. "O presidente disse que só assinaria o acordo do dia 31."

Medina se dispôs a continuar mediando as negociações e disse esperar que o chavista e seus rivais manifestaram sua intenção de continuar o diálogo no futuro.

Desde a última sexta (2), o negociador-chefe do governo, Jorge Rodríguez, dizia que o acordo estava pronto, o que foi negado por seu homólogo da oposição, Julio Borges.

"Até que não tenhamos um acordo digno, não assinaremos nada. Instamos o governo a não dar o passo absurdo de continuar convocando eleições unilateralmente", disse o deputado nesta quarta.

A nova rodada de negociações começou em novembro. Nelas, a oposição pretendia buscar, além de eleições livres e com observação internacional, a libertação de presos políticos e a permissão de entrada de ajuda humanitária.

Desde janeiro, porém, o assunto restringiu-se à parte eleitoral. O diálogo começou a perder força no final do mês passado, depois que a Assembleia Constituinte, controlada por Maduro, convocou o pleito presidencial para até 30 de abril, sem definir data.

Com isso, deixaram o diálogo o partido Vontade Popular, um dos três maiores da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), e os dois países mediadores com governos críticos ao chavismo: México e Chile.

A perspectiva de mudanças se complicou mais na semana passada, com a ilegalização da MUD como coalizão e o impedimento da revalidação da maior sigla da MUD, o Primeiro Justiça.

A divulgação da data da eleição estava atrelada às negociações em Santo Domingo. Horas depois de sua suspensão, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) marcou o pleito para 22 de abril.

SANÇÕES

Diante do fracasso das negociações, começam as movimentações para elevar as sanções ao regime chavista. Um grupo de deputados do Parlamento Europeu entrou com moção para ampliar as sanções da União Europeia.

No texto, pedem a proibição de viagens e o congelamento de ativos nos países do bloco para Maduro, seu vice, Tareck El Aissami, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, e outros membros da cúpula militar.

A caminho da Jamaica, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, disse que basta a firma do presidente Donald Trump para a aplicação de sanções dos EUA ao petróleo venezuelano.

"[Trump] disse 'Sei que você era contra isso no passado' e eu disse 'Acho que as coisas mudaram'. Então vamos levar a proposta a ele e deixá-lo tomar a decisão", declarou, a caminho da Jamaica.

Segundo o americano, a Casa Branca estuda formas de mitigar os efeitos do embargo, junto com México e Canadá, em seus territórios, mas também em países do Caribe que recebem petróleo subsidiado de Caracas.

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