Governo Trump anuncia sanções para cortar fontes de renda da Coreia do Norte

Navios, companhias marítimas e comércios que ajudam o regime serão o alvo, diz governo dos EUA

O presidente dos EUA, Donald Trump, fala a repórteres antes de discurso em evento de conservadores perto de Washington
O presidente dos EUA, Donald Trump, fala a repórteres antes de discurso em evento de conservadores perto de Washington - Jim Bourg/Reuters
Washington e Seul | Associated Press e Reuters

 

O governo de Donald Trump anunciou nesta sexta-feira (23) uma nova rodada de sanções dos Estados Unidos contra a Coreia do Norte, classificando as medidas, que visam sobretudo estrangular os canais comerciais do regime de Kim Jong-un, de as mais duras adotadas até agora.

Com as novas sanções, apresentadas pelo secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, o governo americano pretende reduzir as fontes de renda e de combustível que a Coreia do Norte usa para financiar seu programa nuclear e sustentar suas Forças Armadas.

Segundo Mnuchin, os esforços visarão mais de 50 navios, companhias marítimas e comércios que estão auxiliando a Coreia do Norte a escapar de sanções.

As sanções contra os navios, de acordo com a nota do Tesouro, vão impedir que o regime norte-coreano conduza "atividades marítimas escusas que facilitam o transporte ilícito de carvão e combustível e erodem sua capacidade de enviar mercadorias por águas internacionais". 

"Isso é muito impactante", disse. "Estamos fazendo de tudo para impedir essas transferências navio a navio."

O principal produto de exportação da Coreia do Norte é o carvão —na forma de pepitas, perfaz 1/3 do que é vendido pelo país— e artigos de vestuário, que respondem por outro terço. O resto se divide em diferentes minérios, petróleo, pescados e suínos. 

Em 2015, o país exportou o equivalente a US$ 2,83 bilhões, segundo dados do Observatório da Complexidade Econômica do MIT.

CHINA

A Coreia do Norte importa de tudo (foram US$ 3,47 bilhões em compras no mesmo ano), mas especialmente componentes eletrônicos, material têxtil, petróleo refinado, caminhões, material plástico, pneus e alimentos, além de remédios.

A China é o principal parceiro: comprou 83% das exportações norte-coreanas em 2015 e vendeu-lhe 85% das importações no mesmo ano (não há dados para 2016), o que alimenta dúvidas sobre a efetividade das sanções americanas até agora. 

O segundo maior parceiro é a Índia, que responde por cerca de 3,3% do fluxo comercial com Pyongyang. Não há comércio com os EUA, exceto a compra de alimentos e medicamentos (US$ 800 mil), itens humanitários.

Visar os navios, portanto, é uma forma de tentar evitar o escoamento das mercadorias, já que a pressão de Washington sobre Pequim para que endureça também suas sanções até agora resultou apenas em um decréscimo pequeno das compras.

O programa de mísseis e o programa nuclear da Coreia no Norte, que testou mísseis que diz serem capazes de alcançar os EUA e alega ter miniaturizado uma ogiva nuclear para armá-los, desafia o governo Trump

O momento do anúncio —durante a Olimpíada de Inverno em Pyeongchang— não é casual. A Coreia do Sul, que sedia os Jogos e é aliada dos EUA, tem usado a competição como oportunidade para se aproximar do vizinho ao norte, e o regime de Kim Jong-un já deixou claro que as conversas fluem melhor sem interferência estrangeira. 

O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, já havia dito, ao participar da abertura dos Jogos, há duas semanas, que os EUA anunciariam as sanções "mais duras e mais agressivas" a Pyongyang

Ivanka Trump cumprimenta o presidente sul-coreano Moon Jae-in em encontro em Seul
Ivanka Trump cumprimenta o presidente sul-coreano Moon Jae-in em encontro em Seul - Kim Min-hee/Reuters

IVANKA NA COREIA

O anúncio das sanções também coincidem com a visita da filha e assessora de Donald TrumpIvanka, à Coreia do Sul. Ela foi recebida com um jantar pelo presidente Moon Jae-in

"Estamos muito animados de vir à Olimpíada de Inverno de 2018 torcer pelos EUA e reafirmar nosso compromisso duradouro com o povo da República da Coreia", declarou Ivanka.

A visita da primeira filha coincide ainda com a do general norte-coreano Kim Yong-chol, chefe da inteligência norte-coreana, acusado de afundar um navio sul-coreano em 2010, matando 46 marinheiros. 

Sua delegação assistirá à cerimônia de encerramento dos Jogos e se encontrar com Moon.

As delegações dos EUA e da Coreia do Norte, porém, não se reunirão, afirma Seul.

 

PRINCIPAIS SANÇÕES EUA proíbem negócios de americanos com empresas que auxiliam o regime

Transporte marítimo

O Departamento do Tesouro anunciou nesta sexta (23) que estavam proibidas transações com nove empresas de transporte marítimo internacional e 16 empresas de transporte marítimo norte-coreanas, que juntas têm 28 navios

Sistemas financeiros

Desde 2017 o país proíbe indivíduos ou empresas estrangeiros que negociam com a Coreia do Norte de operar no sistema financeiro americano

Minerais e metais

Sanções como penalidades criminais, bloqueio de ativos e proibição de entrada nos EUA são previstas para quem está envolvido na negociação de minerais ou metais da Coreia do Norte, uma importante fonte de renda para o país; o comércio de bens de luxo de ou para a Coreia do Norte também é proibida

Armas, cibersegurança e lavagem de dinheiro

Sanções também são previstas para quem está envolvido na negociação de armas, na lavagem de dinheiro ou em ataques cibernéticos em colaboração com a Coreia do Norte

OUTRAS SANÇÕES

  • A ONU também determinou diversas sanções contra a Coreia do Norte desde 2006, como a proibição da venda de armas ao país; mais recentemente, em 2017, os países da organização proibiram a exportação de fontes de energia como carvão, petróleo e derivados
  • União Europeia e Japão, entre outros países, também impõem sanções à Coreia do Norte; já a China reduziu a compra de produtos e fechou empresas ligadas ao regime de Kim Jong-un

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