Israel critica o Irã e Brasil só toma nota

Envolvimento do Irã no Oriente Médio preocupa, diz presidente ao chanceler brasileiro

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, se encontra com o premiê israelense Binyamin Netanhyahu em Jerusalém
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, se encontra com o premiê israelense Binyamin Netanhyahu em Jerusalém - Daniela Kresch/Folhapress
Clóvis Rossi
São Paulo

O presidente de Israel, Reuven Rivlin, fez nesta terça-feira (27) uma dura carga contra o Irã, na audiência que concedeu ao chanceler brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira Filho, em visita oficial ao país, a primeira de um chanceler desde que Antonio Patriota visitou Israel e Palestina em 2012.

Rivlin reiterou diante do chanceler a preocupação de Israel com o envolvimento do Irã na região (o grande Oriente Médio) e os esforços para desestabilizá-la. Citou especificamente o apoio que o governo iraniano dá aos grupos Hizbullah, no Líbano, e Hamas, na faixa de Gaza, ambos empenhados em destruir Israel.

Segundo o comunicado oficial da Presidência israelense, Rivlin afirmou que esses grupos respaldam o fundamentalismo e o terrorismo em todo o mundo, “inclusive na América do Sul".

É uma óbvia alusão ao fato de que Israel (e os Estados Unidos) suspeitam que a grande comunidade libanesa instalada na região das Três Fronteiras (Brasil/Argentina/Paraguai) tem ligações fortes com o Hizbullah (“Partido de Deus", xiita).

Sempre que cobrados a respeito, sucessivos governos brasileiros têm dito que não há provas concretas desses vínculos. Há, sim, remessas dos libaneses residentes na área ao Líbano, mas não há maneira de comprovar se caem ou não nas mãos do Hizbullah.

O chanceler brasileiro limitou-se a dizer que tomara nota das preocupações israelenses, uma clássica forma diplomática para dizer que está ouvindo a outra parte, mas, neste caso específico, o Brasil tem outras prioridades.

O comunicado oficial israelense informa que o chanceler disse ao presidente: “Entendo os desafios para a segurança de Israel – mesmo além dos problemas geopolíticos e do fundamentalismo. Vejo este [o fundamentalismo] crescendo e é um desafio também para nós".

Na versão que a Folha obteve com a delegação brasileira, Aloysio disse que a política iraniana é dinâmica e que esperava que prevalecessem as correntes moderadas.

É a segunda vez, na segunda visita de alta autoridade brasileira a Israel, que o governo local expressa sua preocupação com o Irã e com as relações Brasil/Irã. Há oito anos, quando Lula esteve no Knesset (o Parlamento israelense), ouviu um coro de vozes israelenses, representando todo o arco político-institucional, para que aderisse ao que o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, chamou de "frente internacional que se está formando contra o armamentismo do Irã".

Na ocasião, Rivlin, à época presidente do Knesset, pediu que Lula não legitimasse "as intenções assassinas" dos governantes iranianos. Era uma evidente alusão à visita que Lula faria pouco depois ao Irã.

Até a então líder da oposição, Tzipi Livni, cobrou: "O Brasil não pode permitir-se dar legitimidade indireta ao Irã".

No discurso no Parlamento, Lula não fez menção ao Irã, mas, na conversa reservada com Netanyahu, defendeu o diálogo, em vez de sanções.

Oito anos depois, mesmo com um governo de signo ideológico oposto, a posição é idêntica: o Brasil faz negócios com o Irã e se queixa amargamente dos entraves impostos por sequelas das sanções norte-americanas, embora elas tenham sido suspensas na esteira de um acordo das grandes potências sobre o programa nuclear iraniano.

Bancos americanos recusam-se a financiar exportações para o Irã, o que obriga a procurar empresas de segunda linha, a um custo muito maior.

No encontro de Aloysio com Netanyahu, o tema do Irã não apareceu. A conversa, pelo que a Folha ouviu na delegação brasileira, centrou-se em cooperação especialmente na área de ciência e tecnologia. O premiê israelense gabou-se de que seu país – celeiro de tecnologia de ponta – é capaz de saber quanta água necessita cada planta, graças a seu avançado sistema de irrigação.

Na quinta-feira (1º), o chanceler brasileiro estará com as autoridades palestinas.

A questão palestina não foi tratada com Netanyahu, mas o presidente Rivlin deu um recado claro: “Eles [os palestinos] têm que entender que nós retornamos à nossa terra".

O Brasil, historicamente, aceita que os judeus retornem à terra, mas defende que os palestinos também tenham direito à sua.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do que afirmava o texto, a visita de ​Aloysio Nunes Ferreira não é a primeira de um chanceler a Israel desde que Celso Amorim acompanhou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010; Antonio Patriota visitou Israel em 2012. O texto foi corrigido.

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