Estelita Hass Carazzai
Washington

Os grupos de WhatsApp de brasileiros na Flórida não paravam de apitar na tarde de quarta (14). Moradores do Estado, que abriga a terceira maior comunidade brasileira nos EUA, trocavam notícias, percepções e inseguranças sobre o ataque em uma escola que deixou 17 mortos e onde estudavam alguns brasileiros.

"Está todo mundo em choque, abalado; é muito triste tudo isso", contou um brasileiro que não quis se identificar.

Muita gente tinha um conhecido, um primo ou um sobrinho que frequentava a Marjory Stoneman Douglas, um dos maiores colégios da área, com aproximadamente 3.000 alunos. Cerca de 50 deles são filhos de brasileiros, estimaram pais e mães ouvidos pela Folha.

Nenhum deles ficou ferido, mas os impactos sobre a comunidade são visíveis. "Eu não parei de responder mensagem, de falar com outras mães, de compartilhar o que passamos", disse Fabiana Santos, 41.

No dia do atentado, ela só dormiu às 2h. Sua filha, Kemily Santos Duchini, 16, perdeu pelo menos um colega de turma. As aulas foram canceladas pelo resto da semana, e boa parte da comunidade saiu mais cedo do trabalho para ir à vigília em homenagem aos mortos e feridos, na quinta (15).

Santos saiu do interior de São Paulo há 18 anos "pela situação econômica do Brasil". Na Flórida, teve sua filha, comprou casa e se mudou para Parkland, a 70 km de Miami, há quatro anos, justamente por causa da escola, que é bem avaliada.

Nenhuma das famílias com que a reportagem conversou pensava em voltar para o Brasil. Mas muitas diziam ter perdido a sensação de segurança. "Não tem lugar seguro no mundo. Seguro é pedir a Deus pela sua família", afirmou Santos.

Ela considera que a Justiça dos EUA também é falha: há poucas semanas, Kemily foi agredida por uma colega. Ela pediu na Justiça um mandado para que a adolescente fosse obrigada a se afastar de sua filha, mas o pedido foi negado. "Tudo acaba em pizza aqui também."

Para a brasileira Ludmille  Mazzon, 29, que vive há um ano e meio nos EUA, o tiroteio na escola foi uma "fatalidade". "Infelizmente, isso pode acontecer em qualquer lugar", diz ela, que se casou com um americano e acabou ficando.

"Eu fui assaltada à mão armada em São Paulo, levaram meu carro, colocaram a arma na minha cabeça. Mas nenhum lugar é seguro hoje. Para algo acontecer, basta estar no lugar errado, na hora errada."

Alguns brasileiros afirmam apoiar mais restrições de acesso às armas. Muitos se uniram ao coro de "sem mais armas", puxado por pais e alunos, durante a vigília às vítimas da tragédia.

Outros, porém, não acham que essa seja a solução, e acreditam que o porte de armas pode inclusive intimidar a ação de criminosos.

O Consulado do Brasil em Miami ofereceu assistência psicológica à comunidade. Na noite desta sexta, 20 famílias iriam se reunir no local para conversar sobre o ocorrido.

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