ONU diz que trégua diária na Síria não está sendo cumprida

Combates seguem em Ghouta Oriental apesar de cessar-fogo convocado pelo Rússia

Beirute, Genebra e Amsterdã | Reuters

A ONU afirmou nesta terça-feira (27) que a trégua humanitária convocada pela Rússia, aliada do ditador sírio Bashar al-Assad, em Ghouta Oriental não foi cumprida nesta madrugada e que os combates continuam na região. 

Moscou propôs na segunda (26) um cessar-fogo diário para permitir o atendimento e a saída da população civil. 

"Temos relatos nesta manhã de que há combates contínuos em Ghouta Oriental", disse o porta-voz humanitário da ONU, Jens Laerke, em Genebra. "Claramente a situação no terreno não permite que comboios possam ir ou que retiradas médicas possam ocorrer".

O grupo de monitoramento Observatório Sírio dos Direitos Humanos, com sede no Reino Unido, disse que helicópteros lançaram duas bombas contra uma cidade no enclave e que um avião de combate atingiu outro local durante o período de trégua. Uma fonte militar síria negou que tenham ocorrido ataques aéreos.

Mais de 500 moradores já morreram durante 10 dias de bombardeios do governo sírio sobre Ghouta, uma região controlada por rebeldes com pequenas cidades e fazendas nos arredores de Damasco.

Cerca de 400 mil pessoas vivem no local, que está sob cerco das tropas leais a Assad desde 2013. 

Segundo a proposta russa, a trégua deveria começar às 9h locais (4h de Brasília) e seguir até às 14h (9h no Brasil).

Moscou e Damasco afirmaram que o corredor humanitário estabelecido para permitir a saída dos civis foi atacado pelos rebeldes —que negam a informação— e, por isso, ninguém deixou o local. 

Devido a violência na região, o Conselho de Segurança da ONU aprovou no sábado (30) uma resolução que pedia um cessar-fogo de 30 dias em todo o país. A medida, porém, não estabelecia um prazo para o início da trégua, que até o momento não foi respeitada

A Síria e seus aliados Rússia e Irã afirmam que os bombardeiros visam apenas grupos terroristas que controlam Ghouta e que não pretendem cessar completamente os ataques.  

Armas químicas

Também nesta terça, a agência de notícias Reuters disse que a agência mundial de controle de armas químicas está investigando os ataques recentes em Ghouta Oriental para determinar se munições proibidas foram usadas.

Sediada em Haia, a Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq) iniciou no domingo (25) uma investigação sobre relatos de uso recorrente de bombas com gás cloro, disse a Reuters. A informação não foi confirmada oficialmente pelas autoridades. 

Entre os ataques que a equipe examinará está um realizado no domingo, que deixou uma criança morta. Médicos e enfermeiros que estavam no local disseram que a vítima teve problemas para respirar, sintomas que indica exposição ao gás cloro.

O uso de gás cloro como arma química foi proibido pela Convenção de Armas químicas de 1997. Se inalado, ele se transforma em ácido clorídrico nos pulmões, e o acúmulo de fluidos pode sufocar as vítimas.

Devido a violência na região, a equipe da Opeq não deve ir a Ghouta Oriental —visitas anteriores em 2013 e 2014 foram alvos de ciladas –, mas reunirá testemunhos, provas fotográficas e de vídeo e entrevistas com especialistas médicos.

A missão da organização, porém, se restringe a confirmar ou não o uso de armas químicas, sem apontar quem seriam os responsáveis pelo ataque. 

Os governos de França, Estados Unidos e Reino Unido já defenderam uma ação militar contra Damasco caso fique comprovado que as forças ligadas a Assad usaram armas químicas.

A Opeq já investigou uma denúncia de uso de gás sarin em Ghouta Oriental em 2013, mas uma disputa entre as potências ocidentais e a Rússia interromperam o caso antes de uma definição.

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