O novo Stadthöfe é um ponto fora da curva no afã de preservação e de questionamento da memória dos alemães, que se traduziu inclusive num termo de linguagem, o "Vergangenheitsbewältigung": o processo de lidar com o passado.
Essa cultura encontrou vazão numa profusão de memoriais, museus, esculturas e intervenções urbanas --como as Stolpersteine (pedras de tropeço), que mostram locais onde judeus foram mortos ou de onde foram deportados, que forçam uma reflexão sobre o presente e o futuro do país.
Um quadro sinaliza o antigo bunker de Adolf Hitler, onde o Führer se matou nas horas finais da guerra --transformado propositadamente em um estacionamento a alguns metros do Parlamento, em Berlim.
Foi uma vergonha nacional a descoberta, em 2003, de que a empresa fornecedora da tinta antipichação que cobriria o Memorial aos Judeus Assassinados na Europa, em Berlim, havia fornecido o gás para as câmaras que mataram judeus nos campos de concentração. O contrato foi cancelado.
Em 1991, dois artistas dispuseram decretos antissemitas do Reich pelo bairro berlinense de Schöneberg, como forma de alerta e conscientização. "Judeus não podem sair de casa após 20h", "Judeus não podem cantar em corais", diziam alguns dos quadros. Foram denunciados por racismo, até que explicaram a intervenção.
Como diria o escritor William Faulkner: "O passado nunca está morto. Nem sequer é passado".
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