Em uma entrevista ao vivo para o canal de TV estatal, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, disse nesta quarta-feira (14) que vem recebendo um tratamento "injusto" de seu próprio partido e que não pretende deixar imediatamente o cargo.
Em sua primeira fala após o aumento da pressão para sua saída na semana passada, Zuma disse que não vai ceder ao ultimato dado por sua sigla, o CNA (Congresso Nacional Africano), para que renuncie ao cargo ainda nesta quarta, mas que aceita fazer uma saída negociada depois de junho.
Zuma afirmou que não vê motivos para deixar o cargo. "Eu preciso saber o que eu fiz. Por que a pressa?" disse ele, na residência oficial da Presidência em Pretória.
Caso Zuma não renuncie, os líderes do partido querem votar nesta quinta-feira (15) uma moção de desconfiança no Parlamento para retirá-lo do cargo. O CNA afirmou que o comportamento "irracional e descuidado" de Zuma é uma ameaça à segurança nacional.
Zuma afirmou que não quer desafiar a liderança do partido, mas que discorda da decisão, e por isso não quer cumpri-la. Mas afirmou que pretende seguir a decisão dos deputados, mesmo se eles optem por sua saída. "Eu estarei fora", disse ele, referindo-se a uma possível votação favorável à renúncia.
O presidente afirmou que que fará uma declaração oficial ainda nesta quarta sobre o assunto.
Caso Zuma renuncie ou seja tirado do cargo, será substituído pelo atual vice, Cyril Ramaphosa.
Os dois líderes protagonizam uma queda de braço desde dezembro, quando Ramaphosa venceu a disputa para substituir Zuma no comando do CNA —partido que dirige a África do Sul desde o fim do apartheid, em 1994.
Na entrevista, Zuma afirmou que conversou com Ramaphosa na última semana para organizar a transição e que estaria disposto a deixar o cargo após a cúpula dos Brics, que acontecerá em Johannesburgo em julho —seu mandato vai até 2019.
Segundo ele, a liderança do CNA não aceitou a proposta e o avisou que desejava a renúncia imediata.
O presidente enfrenta uma série de acusações de corrupção, como a de uso de verbas públicas para reformar sua casa. Sua ligação com os Gupta, família acusada de subornar autoridades em troca de contratos públicos, também é alvo de escrutínio.
Nesta quarta, a polícia fez uma operação anticorrupção na residência dos Gupta, durante a qual três pessoas foram presas. Tanto os Gupta quanto Zuma negam as acusações.
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