Antes de ato por controle de armas nos EUA, alunos treinam contra atirador

Cerca de 3.000 escolas participaram de manifestações, um mês após massacre na Flórida

Alunos de escolas de Washington protestam por mais controle de armas em manifestação em frente ao Congresso
Alunos de escolas de Washington protestam por mais controle de armas em manifestação em frente ao Congresso - Joshua Roberts/Reuters
Flavio Sampaio
Portland

O sistema de som da Odyssey School anunciou a existência de risco de segurança na escola. Podia ser um animal selvagem, uma pessoa não identificada caminhando pelos corredores ou um atirador portando um fuzil.

Heather Mankowski , professora há 10 anos, apaga a luz, abaixa as persianas, tranca a porta e vai de encontro às crianças com idades entre 9 e 10 anos. Todos já sabem exatamente o que fazer. 

A sala fica em silêncio, como se alguém tivesse morrido. O mesmo sistema de som indica que o treinamento acabou. Mesmo assim todos se mantêm agachados até que um funcionário da escola destranque a porta. Parte do protocolo de segurança.

A Folha acompanhou nesta quarta-feira (14) o dia no colégio onde estudam 225 alunos, localizado em Portland, no Oregon. Além do treinamento, a escola participou de uma homenagem às vítimas do ataque a tiros a um colégio de Parkland, na Flórida, há exato um mês.

Às 10 da manhã os estudantes da Odyssey engrossaram a Marcha Nacional das Escolas, com duração de 17 minutos —uma alusão aos 17 mortos na escola da Flórida. A caminhada foi idealizada pelos sobreviventes do último massacre. Eles querem aproveitar a repercussão da tragédia para exigir mais rigor na comercialização de armas.

A manifestação, que se espalhou por todos os 50 estados americanos, é apenas um aquecimento para o grande encontro que está sendo planejado para o dia 24 deste mês, em Washington. 

A organização do evento está sendo feita pela juventude da Marcha das Mulheres, que já conseguiu permissão para receber meio milhão de pessoas. Outras 700 manifestações espalhadas pelo mundo também estão confirmadas, segundo o site da ONG.

TRAUMA PSICOLÓGICO

Na Odyssey, quase todos os estudantes participaram da homenagem. Pais, professores e a própria secretaria de educação (que recomendou a atividade) divergem sobre como abordar o caso. 

Enquanto alguns acreditam que falar sobre o assunto ou treinar as crianças para um eventual ataque gera mais medo e traumas, outros encaram de maneira positiva.

O que acontece com a capacidade de aprendizado da criança quando ela acredita que, mesmo eventualmente, alguém vai entrar na classe e abrir fogo? Qual o impacto deste estresse e preocupação em sua saúde? 

Quem questiona isso é David Ropeik, professor de Harvard, em artigo do Washington Post desta semana. Para ele, os estudantes sofrem muito mais pelo medo do que pelo risco real de serem abatidos em salas de aulas. 

Esse risco, calcula Ropeik, é de 1 em 614 milhões. Já o trauma psicológico é algo que teria de ser estudado entre os mais de 50 milhões de estudantes do país.

PROFESSORES ARMADOS

No domingo, a Casa Branca anunciou que vai criar uma Comissão Federal de Segurança nas Escolas. Um dia antes Donald Trump já havia tuitado sua ideia: armar os educadores

“Professores armados (e pessoas confiáveis que trabalhem na escola) amam nossos estudantes e irão protege-los. Pessoas muito inteligentes. Precisam ter domínio de arma & treinamento anual. Devem ganhar bônus anual. Tiroteios não acontecerão novamente —um grande & baratíssimo desencorajamento”, escreveu na rede social.

“Como professora, não acho uma boa ideia. Eu jamais portaria uma arma”, diz Mankowski  . “Isso só alimenta a cultura do medo”, finaliza a professora.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.