Apoio a controle de armas cresce às vésperas de protesto nos EUA

Consulta mostra que 7 em 10 dez apoiam medidas restritivas, nível mais alto em 5 anos nos EUA

Estudante marcha com cartaz pedindo que NRA, o lobby pró-armas americano, seja abolido, em Washington (EUA) - Saul Loeb - 14.mar.2018/AFP
Washington

Às vésperas do que promete ser uma histórica manifestação pelo controle de armas nos EUA –comparável às passeatas pelos direitos civis da década de 1960–, uma pesquisa mostrou que quase sete em cada dez americanos apoiam medidas mais restritivas às armas no país.

É o maior percentual nos últimos cinco anos, segundo um levantamento feito pela Associated Press e divulgado nesta sexta (23).

A curva de apoio às medidas subiu em especial após o ataque numa escola da Flórida, que deixou 17 mortos em fevereiro –e cujos sobreviventes convocaram a marcha deste sábado (24), que acontecerá em todo o país e promete reunir 500 mil pessoas em Washington.

Dois anos atrás, menos da metade (49%) dos americanos via correlação entre o controle de armas e os ataques a tiros. Hoje, 60% acreditam que tornar o acesso às armas mais restritivo pode diminuir o número de chacinas.

“Cada um tem sua própria opinião de como isso deveria ser feito, mas todos nós concordamos que é preciso mudar”, afirmou o estudante Alex Wind, 17, sobrevivente do massacre na escola Marjory Stoneman Douglas, na Flórida, em entrevista à CNN.

Wind e seus colegas viraram celebridades entre os manifestantes, como presenciou a Folha.

“Você conheceu o David Hogg?”, perguntou eufórica a estudante Madison Tittle, 17, ao saber que o aluno secundarista e um dos líderes do movimento estivera num evento em Washington. 

Hogg, que vai se graduar na Stoneman Douglas em junho, declarara em um debate que está concentrado “em mudar o futuro da América”, e comparou seu ativismo a uma missão. O adolescente de 17 anos vestia um blazer, calça jeans e tênis da Nike, com um adesivo na lapela: “We call BS” (algo como “É mentira”, em tradução livre), bordão dos estudantes sobre os argumentos pró-armas.

“Eles são um exemplo para mim. Foi a coragem deles que me inspirou a fazer algo.”

Tittle é de uma cidade conservadora do estado do Colorado. Ela caça desde criança, mas nunca havia pensado ou se posicionado sobre o tema até o ataque na Flórida.

“Eu não sou antiarmas, defendo a Segunda Emenda [que protege o porte de armas nos EUA], mas não precisamos de rifles automáticos ou do tipo AR-15”, disse ela, que liderou os protestos por mudanças da lei em sua cidade.

A pesquisa desta sexta mostra que, de fato, o apoio a regras mais restritivas se espraiou mesmo entre republicanos ou donos de armas.  

“Se não fosse por essas crianças, isso não estaria acontecendo”, disse à Folha a aposentada Paula O’Steen, 65, que batia uma foto ao lado da camiseta com os nomes de alguns dos estudantes da Marjory Stoneman Douglas.

Era uma das peças mais vendidas na loja parceira da March for Our Lives (Marcha pelas Nossas Vidas, em português), nome oficial do evento, cuja renda será revertida para o apoio logístico ao protesto.

No levantamento da Associated Press, que entrevistou 1.122 pessoas, quase metade dos americanos não acredita que algo vá mudar.Não é o que se vê em Washington.

“Eu tenho confiança de que algo vai mudar, porque nossa geração está passando por muita coisa”, disse o estudante Pierce Mohelnitzky, 17, que vive na Flórida.

Nesta sexta, o governo Trump propôs proibir os “bumpstocks”, mecanismo que permite disparar tiros mais rapidamente, simulando uma arma automática –e que foi usado no ataque a tiros em Las Vegas, no ano passado, que deixou 58 mortos.

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