Após Stormy Daniels, republicanos são questionados sobre conduta de Trump

Comportamento pessoal do presidente pode prejudicar o partido na eleição legislativa

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Jonathan Martin ALEXANDER BURNS
Washington | The New York Times

Quando, no domingo (25), o deputado republicano Ryan Costello, da Pensilvânia, anunciou que vai se juntar a mais de 40 outros parlamentares republicanos que não vão tentar se reeleger em novembro, ele não deixou dúvidas quanto à razão: a conduta do presidente Donald Trump faz com que seja impossível falar de qualquer outra coisa.

Se fosse candidato, disse Costello em entrevista, ele seria inundado de perguntas sobre Stephanie Clifford, a atriz do cinema pornô conhecida como Stormy Daniels, que declarou que teve um caso com Trump e foi ameaçada para que guardasse silêncio sobre isso.

“Se eu tivesse uma reunião com eleitores esta semana, seria uma pergunta depois de outra: ‘Você acredita nele ou acredita nela? Por que não acredita nela?’”, ele explicou.

Os republicanos vêm se preparando há meses para encarar uma derrota difícil em novembro, mas agora, cada vez mais, se preocupam pensando que suas perdas na eleição poderão ser ainda piores do que imaginavam, porque as eleições legislativas da metade do mandato presidencial parecem estar destinadas a girar em torno do comportamento do homem na Casa Branca, mais do que foi o caso durante décadas.

Por mais que o controle de armas, a imigração, a reforma tributária e outras questões estejam mobilizando eleitores da esquerda e da direita, as alegações sexuais escusas e o estilo errático de Trump podem acabar afastando blocos cruciais de eleitores suburbanos e mulheres politicamente moderadas que podem aprovar algumas das políticas republicanas, mas acham as alegadas aventuras sexuais do presidente reprováveis.

Pesquisas de opinião e todas as eleições recentes indicam que Trump mobilizou eleitores liberais e moderados –especialmente as mulheres e os eleitores com instrução universitária— para se oporem a seu partido. Ao mesmo tempo, porém, a lealdade pessoal ao presidente é, cada vez mais, a prova de fogo mais crucial para os republicanos.

Esse abismo crescente criou um dilema para os republicanos, especialmente os republicanos de Estados liberais e indecisos.

Se eles permanecerem leais a Trump, correrão o risco de desagradar a muitos do centro político durante a eleição geral, o que provavelmente vai levar suas campanhas ao fracasso. Mas, se se distanciarem do presidente, correrão o risco de reduzir a participação de seus eleitores republicanos de base e ver seu pool de voluntários evaporar da noite para o dia.

“É um paradoxo político”, disse o estrategista republicano da Virginia J. Tucker Martin. “Os candidatos não podem ganhar sem sua base. Mas o que é preciso para agradar a uma base pró-Trump em 2018 tornará os candidatos republicanos em muitos Estados inaceitáveis para grandes parcelas do eleitorado.”

E, o que possivelmente seja mais preocupante para os republicanos, não parece haver um meio campo evidente: o candidato em que Martin apostou para governador da Virginia em novembro passado, Ed Gillespie, tentou evitar irritar Trump e também evitar abraçá-lo. Ele foi derrotado redondamente.

Os democratas, enquanto isso, acham que Trump domina a discussão política de tal maneira que seus próprios pontos fracos desaparecem, comparados com ele.

“Não estou vendo nenhuma manchete tipo ‘ator pornô move ação contra Nancy Pelosi’”, disse o deputado democrata Cedric Richmond, do Louisiana, perguntado sobre a polarizadora líder de seu partido na Câmera.

Do mesmo modo como o controle de armas vem colocando muitos candidatos republicanos na defensiva depois das manifestações lideradas por estudantes no sábado, o comportamento de Trump está encurralando os candidatos cada vez mais.

Em um debate na semana passada, Debbie Lesko, a candidata republicana à cadeira vazia de Trent Franks no Arizona, disse que Trump precisa responder às acusações de impropriedade sexual feitas a ele.

“Ele precisa lidar com esse problema, e as acusações precisam ser investigadas”, disse Lesko, senadora estadual recente. “Eu não uso a linguagem dele e com certeza não vou assediar ninguém sexualmente.”

Mas, ilustrando como é forte o controle de Trump sobre a base do partido, os comentários passados do presidente sobre apalpar mulheres viraram problema em algumas corridas eleitorais apenas porque candidatos pró-Trump estão atacando seus rivais republicanos por deixarem de apoiar o presidente devido às infames declarações que ele deu ao programa Access Hollywood.

O procurador geral do Michigan, Bill Scuette, está criticando seu rival à indicação republicana como candidato a governador, o vice-governador Brian Calley, porque Calley se distanciou de Trump depois de a fita do Access Hollywood ter sido divulgada, em 2016.

De fato, a adesão do partido a Trump chama a atenção especialmente em vários Estados do Meio-Oeste onde ele triunfou em 2016 e onde estão em curso várias campanhas importantes para o Senado e o governo.

No Indiana, três candidatos ao Senado procuram posicionar-se como defensores firmes da Casa Branca e um previu que Trump pode receber um Nobel da Paz por seus esforços para dialogar com a Coreia do Norte.

Tradução de Clara Allain

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