Atriz pornô Stormy Daniels se tornou a maior adversária de Trump

De stripper a diretora de filmes adultos, ela chegou a se candidatar ao Senado  

Matt Flegenheimer Rebecca R. Ruiz Katie Van Syckle
The New York Times

Um a um, os homenageados subiram ao palco para serem reconhecidos: o militar veterano ferido, o executivo de tecnologia e a célebre estrela pornô.

Foi o reencontro de dez anos da turma que se formou em 1997 no colégio de segundo grau Scotlandville Magnet, de Baton Rouge, Louisiana, e alguns dos antigos alunos estavam sendo citados por terem se distinguido em suas profissões. 

 

Stephanie Clifford não precisou ser reapresentada a ninguém. “Todo mundo já sabia” de sua carreira, ela disse em entrevista.

Hoje o público sabe ao mesmo tempo demais sobre Clifford, conhecida por seu pseudônimo profissional, Stormy Daniels, e quase nada.

Ela é a atriz de filmes pornográficos que está processando o presidente, com quem disse que teve um caso extraconjugal consensual, pedindo para ser desobrigada de cumprir um acordo de silêncio que fechou com o advogado dele pouco antes da eleição de 2016. Nos últimos dois meses, ela conduziu a história de seu alegado relacionamento com o presidente Donald Trump, além dos US$ 130 mil (cerca de R$ 430 mil) que lhe teriam sido pagos para garantir seu silêncio, até convertê-la em um escândalo maior. 

Se a ação judicial movida por Clifford seguir adiante, é possível que Trump seja obrigado a depor, e a ação pode produzir provas de violações das regras sobre gastos de campanha.

E, se seu nome parece ter estado onipresente, há o fato seguinte a considerar: diferentemente da maioria das pessoas vistas pelo presidente como sendo suas adversárias, e em relação às quais ele raramente hesita em se manifestar, Clifford não foi tema de um único tuíte presidencial.

Para muitos na capital, Clifford, 39 anos, virou uma força inesperada. Algumas pessoas em Washington comentam brincando que é ela, e não o promotor especial Robert Mueller, quem pode derrubar Trump.

Aqueles que a conhecem bem têm outra visão sobre o momento. Clifford sobreviveu em meio aos elementos mais escusos de um negócio frequentemente marcado pela exploração e por irregularidades diversas; os títulos de vários de seus filmes são impublicáveis.

Mas em sua vida profissional, ela tem sido uma mulher no controle de sua própria narrativa, e isso num setor onde isso pode ser incomum. Dotada de um instinto de autopreservação, antes dos 30 anos Clifford já havia evoluído de stripper a atriz principal e diretora, além de ocasional sucesso junto ao grande público. Por que uma folha de papel e uma equipe de advogados do presidente a fariam recuar?

“Ela era a chefe, e todo mundo tinha consciência disso”, disse a atriz pornô Nina Hartley.
“Ela era uma empresária e diretora de filmes muito séria, que segurava as rédeas de sua carreira”, disse Judd Apatow, que dirigiu Clifford em pontas nas comédias “Ligeiramente Grávidos” e “O Virgem de 40 Anos”. “Não é alguém a ser subestimado.”

Quando surgiram oportunidades de trabalho fora de sua área —um vídeo musical com a banda Maroon 5, um flerte público com a possibilidade de se candidatar ao Senado pelo Louisiana, uma aparição em um torneio de golfe com a participação de um futuro presidente—, Clifford aproveitou a publicidade decorrente ao máximo, e isso a ajudou a conquistar uma vida confortável nos subúrbios de Dallas.

Ela tem uma filha, é casada pela terceira vez e tem um hobby caro: shows de hipismo. “Ela se insere muito bem neste meio”, falou Packy McGaughan, um treinador de hipismo. “Uma mulher bonita que anda a cavalo.”

Mais recentemente, vem sendo difícil para Clifford passar despercebida, mas isso é em grande medida algo intencional. 
 

Clifford aproveitou sua nova fama para lançar uma turnê nacional como stripper, com espetáculos marcados até o final do ano. 

Nem todo o mundo se interessa em comparecer. “Tenho quase certeza que putas burras vão para o inferno”, alguém escreveu no Twitter de Clifford na semana passada. “Sorte minha que sou uma puta inteligente”, respondeu.

CAMPANHA

Foi um slogan político chamativo: “Fodendo com as pessoas honestamente”. Mas sutileza nunca foi a intenção.

Em 2009, quando já era conhecida como diretora, Clifford enxergou uma possibilidade de trabalho que estava além de sua órbita habitual. 

David Vitter, senador americano em seu estado natal do Louisiana, se aproximava aos trancos e barrancos de um ano de reeleição, atingido por um escândalo envolvendo prostituição.
Clifford se declarou republicana e procurou a atenção da mídia enquanto pesava publicamente os prós e contras de se candidatar. 

A campanha que acabou suspensa coincidiu com um momento de turbulência na vida pessoal de Clifford.

Em julho de 2009 ela foi detida, acusada de violência doméstica, depois de bater em seu marido, ator do cinema pornô. Clifford tinha sido casada anteriormente com outro ator pornográfico.
Desde então ela se casou com ainda outro colega de seu setor, Brendon Miller, pai de sua filha, que agora tem 7 anos. 


 

Tradução de Clara Allain

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