Brasil é avisado de colapso nos territórios palestinos 

Alerta é feito a chanceler em Ramallah por chefe de agência da ONU que atende refugiados

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O presidente palestino, Mahmoud Abbas (dir.), se reúne com o chanceler Aloysio Nunes, em Ramallah (Cisjordânia) - Abbas Momani/AFP
São Paulo

O chanceler brasileiro Aloysio Nunes Ferreira Filho foi avisado nesta quinta-feira (1º) em Ramallah, capital informal da Autoridade Palestina, que a UNRWA (sigla em inglês da agência da ONU que cuida dos refugiados palestinos) está ameaçada de colapso já a partir de maio, como consequência do corte de fundos determinado pelo presidente Donald Trump.

A afirmação foi feita ao chanceler por Pierre Krahenbuhl, comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina.

Krahenbuhl citou o fato de que 200 mil estudantes palestinos podem ficar sem aulas dentro de dois meses.

Disse também que o colapso da UNWRA certamente agravará a tensão na região, já aumentada desde que os EUA anunciaram a transferência de sua capital de Tel Aviv para Jerusalém e até fixaram maio como a data para a mudança.

O Brasil é contra essa iniciativa porque entende que a situação de Jerusalém —reivindicada como capital por Israel e pelos palestinos— deve ser definida no bojo das negociações de paz entre as duas partes. Essa posição histórica, que independe dos governos de turno no Brasil, foi reafirmada nesta quinta por Aloysio em suas reuniões com as autoridades palestinas.

Trump decidiu cortar praticamente pela metade (de US$ 130 milhões para apenas US$ 60 milhões) o volume de recursos enviados à agência da ONU, exigindo uma radical transformação na maneira de atuar dela. A verba americana representa 30% do volume de recursos disponíveis para a agência, que fornece ajuda em saúde, educação e projetos sociais para os refugiados palestinos na Cisjordânia, faixa de Gaza (principalmente), Jordânia, Síria e Líbano desde 1950.

Apesar de impressionado com o relato de Krahenbuhl, Aloysio nada pôde prometer para eventualmente ajudar a cobrir o buraco deixado pelo corte americano, pela simples razão de que o Brasil não dispõe de recursos para tanto.

O que, sim, o chanceler deixou claro às autoridades do Estado Palestino —designação oficial aceita pelo Itamaraty desde o reconhecimento dessa entidade em 2010— é a disposição para eventualmente participar de um processo negociador entre israelenses e palestinos, se e quando ele for retomado.

Os três representantes da Palestina com os quais o chanceler se reuniu foram unânimes em afirmar que os Estados Unidos perderam a condição de negociador imparcial, ao deslocar a embaixada para Jerusalém. Por isso, gostariam de ampliar o quadro de negociadores para além do chamado Quarteto (ONU, EUA, União Europeia e Rússia).

Essas quatro potências há anos tentam fazer deslanchar um processo de paz, sem o menor sucesso.
O presidente Mahmoud Abbas, o primeiro-ministro Rami Hamdallah e o chanceler Riad Malki, os interlocutores de Aloysio, insinuaram um convite, interpretado pela delegação brasileira mais como cortesia do que como real intenção de incorporar o Brasil ao processo.

A posição brasileira é histórica: defende a criação de dois Estados —tal, aliás, como determinado pela ONU— que convivam em paz e com fronteiras bem definidas.

Em público, israelenses e palestinos têm a mesma posição, mas, nos últimos tempos, são cada vez mais frequentes as especulações em torno da anexação por Israel da Cisjordânia, a área reservada aos palestinos, com o que se criaria apenas um Estado.

O chanceler brasileiro também discutiu projetos de cooperação Brasil/Autoridade Palestina, já expostos durante recentes visitas dos ministros da Saúde e da Educação. Entre eles, a criação de um hospital para cirurgias cardíacas com um braço na Cisjordânia e outro na faixa de Gaza, sabidamente carentes de atenção médico-hospitalar.

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