Colômbia ainda precisa fazer muito para superar guerra, diz Cruz Vermelha

Atuação de dissidentes de guerrilhas e de ex-paramilitares mantém alto índice de violência no país

Soldados colombianos fazem guarda ao lado de blindado durante patrulha de estrada de terra perto de Cúcuta, na fronteira com a Venezuela
Soldados colombianos fazem guarda ao lado de blindado durante patrulha de estrada de terra perto de Cúcuta, na fronteira com a Venezuela - Carlos Eduardo Ramírez - 13.fev.2018/Reuters
Sylvia Colombo
Buenos Aires

Ainda não se pode dizer que a Colômbia superou o estado de guerra em que vive há mais de 50 anos, segundo relatório elaborado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha divulgado nesta quinta-feira (1º).

A pouco mais de uma semana para as eleições legislativas e a três meses das presidenciais —os primeiros pleitos aos quais a ex-guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) irá concorrer ainda há muito por fazer para que se fale da Colômbia como um país que alcançou a paz.

O estudo chama a atenção para a particularidade desses processos eleitorais, que ocorrem num ambiente “de esperança e ao mesmo tempo de incerteza”, causados pelo avanço muito lento da implementação do acordo de paz entre o Estado e a Farc (agora um partido), pela expectativa de que seja retomado o difícil processo de negociação com o ELN (Exército de Liberação Nacional) e pelo acirramento da violência em regiões mais distantes dos grandes centros urbanos, onde atuam as chamadas Bacrim (“bandas criminales”), além de grupos de dissidência das Farc e o ELN, que voltou a cometer atentados depois do fracasso das negociações, no fim de janeiro.

Apesar de reconhecer que houve uma diminuição nas ações armadas de um modo geral, o documento aponta para a ausência do Estado e ação intensa desses grupos, especialmente no Norte do país.

Nos preocupam especificamente as regiões de Chocó, Nariño, Santander, Cauca, Guaviare, Antioquia, Arauca e Caquetá.”

Segundo o documento, foram reportados 77 mil vítimas da violência, apenas em 2017, além de 550 casos de violações ao direito internacional humanitário.

Nas regiões mencionadas, a Cruz Vermelha reporta que o Estado “não apenas falha ao não prover segurança, mas também em não estimular oportunidades de desenvolvimento e não fornecer serviços básicos”.

“É alarmante que continuem os casos de desaparições, homicídios coletivos, violência sexual, deslocamentos massivos, extorsões, confinamento, uso de minas terrestres e recrutamento de menores de idade para guerrilhas ou facções criminosas.”

Desde a desmobilização dos paramilitares, nos anos da gestão Álvaro Uribe (2002-2010), e agora com a das Farc, foram formando-se “combos”, ou seja, grupos de dissidentes desses grupos que se unem para seguir cometendo delitos. Muitas regiões do país estão subjugadas à necessidade de pagar multas e extorsões a esses “combos”.

O texto chama a atenção para a lentidão em reinstalar os “desplazados” (deslocados pelo conflito) e pede o início dos trabalhos da Unidade de Busca de Pessoas Desaparecidas. 

Segundo a Cruz Vermelha, de 2015 a 2017 houve um aumento de 133% do número de pessoas cujo paradeiro se desconhece. Hoje somam um total de 91.187 pessoas, sendo que há evidências de que pelo menos 26.608 delas tenham desaparecido por conta de ações que envolveram forças de segurança do Estado.

“O objetivo mais importante que o país enfrenta neste momento é, sem dúvida, encontrar quem desapareceu por conta do conflito e da violência.”

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