Colômbia vota pela primeira vez com a Farc nas cédulas

Eleição legislativa deste domingo ocorre dois meses antes da presidencial

Militantes da Farc agitam bandeiras do partido da ex-guerrilha durante campanha em Fusagasugá, na Colômbia
Militantes da Farc agitam bandeiras do partido da ex-guerrilha durante campanha em Fusagasugá, na Colômbia - Felipe Caicedo - 3.mar.2018/Reuters
Sylvia Colombo
Santiago

Os colombianos vão às urnas neste domingo (7) para escolher o novo Congresso do país, dois meses antes da eleição do novo presidente.

Pela primeira vez, porém, a ex-guerrilha das Farc (antes Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e agora Força Alternativa Revolucionária do Comum) não estará em seus acampamentos na floresta nem ameaçando os postos de votação.

Em vez disso, a milícia, convertida em partido, competirá com os candidatos das legendas tradicionais.

Desta forma, embora a implementação do acordo de paz entre o Estado e as Farc aprovado no fim de 2016 esteja atrasada, seu item mais importante —a participação política pela via democrática daqueles que vinham combatendo o governo com armas se cumpre agora.

A Farc, que obteve apoio financeiro do Estado para armar-se como partido, concorre livremente. E a ajuda não para aí. Nesta eleição e na seguinte, a de 2022, a ex-guerrilha terá vagas garantidas no Congresso, ainda que não as consiga nas urnas.

Ou seja, se nenhum deputado da Farc for eleito pela população para os 102 postos no Senado e 166 na Câmara de Deputados, cinco assentos a mais serão acrescentados a cada Casa, e a Farc poderá escolher entre suas lideranças quem os ocupará.

A se levar em conta a alta rejeição que o partido vem sofrendo, incluindo ataques a suas caravanas de campanha, é bastante provável que se tenha de abrir esse espaço para os ex-guerrilheiros, como já ocorreu em outros processos de paz com guerrilhas no passado da Colômbia.

Em pesquisas recentes, a Farc oscila entre 0,5% a 1% das intenções de votos.

Quanto ao resto da composição do Congresso, as pesquisas apontam para um possível crescimento do partido direitista Centro Democrático, comandado pelo ex-presidente e atual senador Álvaro Uribe (2002-2010), e dos liberais, grupo liderado pelo também ex-presidente César Gaviria (1990-1994), aliado do atual, Juan Manuel Santos, e que participou da campanha a favor do acordo de paz.

Pelo menos é o que indica a pesquisa mais recente, encomendada pelo jornal El Tiempo. Esta e outras sondagens apontam, porém, que há um grande número de indecisos (entre 14% e 20%) e os que declaram voto em branco (16,1%). O voto não é obrigatório na Colômbia.

É preciso fazer a ressalva de que os institutos de pesquisas se equivocaram no plebiscito de 2016, indicando que o "sim" ganharia, coisa que não ocorreu, e no primeiro turno da eleição presidencial de 2014, em que houve uma surpresa, a vitória do uribista Óscar Iván Zuluaga (no segundo turno, Santos virou o jogo e venceu a eleição).

As eleições legislativas servirão de termômetro, também, para o pleito presidencial, cujo primeiro turno ocorre em 27 de maio.

Por ora, as sondagens também mostram um número alto de indecisos e uma votação muito fragmentada.

Estão na liderança o ex-prefeito de Bogotá e ex-guerrilheiro do M-19 Gustavo Petro, de centro-esquerda, seguido de perto pelo senador uribista Iván Duque. Em queda, mas com um eleitorado fiel, está o populista de direita Germán Vargas Lleras.

Este vinha sendo o candidato governista, uma vez que exerceu o cargo de vice de Santos. Mas acabou perdendo seu apoio ao não se posicionar de modo contundente a favor do "sim" no plebiscito sobre o acordo de paz, e o presidente o afastou.

Após as legislativas, os presidenciáveis definirão as candidaturas. Há defensores de uma chapa unindo os candidatos de direita (Duque, Marta Lucía Ramírez e o ex-procurador Alejandro Ordoñez).

Uribe, por ora, é contra, porque prefere que seu partido permaneça coeso e sem fazer concessões a outras forças. Seu candidato, Duque, porém, carece de projeção nacional, como tem, por exemplo, a ex-ministra e duas vezes candidata a presidente Marta Lucía Ramírez.

À esquerda, já se definiu uma aliança, a do ex-prefeito de Medellín Sergio Fajardo (responsável por transformar a antiga capital do narcotráfico em cidade-modelo de urbanismo) com a senadora Claudia Lopez.

 

EX-GUERRILHEIROS NO CONGRESSO Mesmo sem votos suficientes, Farc terá dez vagas

COMO SE ELEGE UM PARLAMENTAR NA COLÔMBIA?

SENADORES

Eleição Ganham vagas todos os partidos que superarem a cláusula de barreira de 3% dos votos válidos

Divisão das cadeiras São distribuídas conforme percentual de votação de cada sigla, prevalecendo ordem da lista aberta se houver mais de um eleito

REPRESENTANTES (DEPUTADOS)

Eleição Ganham vagas todos os partidos ou candidatos (em lista aberta) que superarem o quociente eleitoral, a divisão do número de votos válidos pelas cadeiras de cada departamento (são 32 e o Distrito Capital)

Divisão das cadeiras Vagas são repartidas conforme percentual de votação de cada sigla e por departamento, seguindo ordem da lista, aberta ou fechada, se houver mais de um eleito

RESERVA DE VAGAS

Candidatos que tenham identificação provada com a comunidade que representam; no caso internacional, só vale o voto de colombianos fora do país - Senado: indígenas (2) - Câmara: indígenas (2), negras (2) e internacional (1)

SE A FARC...

...TIVER MENOS VOTOS QUE O NECESSÁRIO PARA UMA VAGA? São eleitos os cinco mais bem colocados em cada uma das listas e cada casa ganha mais cinco cadeiras

...CONSEGUIR VOTOS PARA ENTRE UM OU CINCO VAGAS? Quem alcançar o quociente eleitoral recebe uma vaga comum e as demais serão acrescidas nas casas

...OBTIVER VOTOS PARA CINCO OU MAIS VAGAS? Segue mesma regra dos demais partidos, e não é alterado o número de representantes ou senadores

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